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Apagão aéreo e preço do seguro

O preço de cada seguro é calculado conforme o risco de ocorrência de um evento coberto pela apólice respectiva. No seguro de automóveis, o mais conhecido, os perfis de risco são analisados dentro dos padrões diferenciais de cada carro/condutor. Normalmente mulher paga mais barato que homem. Não porque dirija melhor, como comentam algumas, nem porque não olham no espelho retrovisor salvo para retocarem a maquilagem, como comentam certos homens. Elas pagam mais barato porque têm menos sinistralidade. Suas batidas são mais numerosas mas de muito menor custo.
Quem roda pouco paga menos do que os que trafegam o dia todo. Pessoas entre 35 e 55 anos pagam menos porque se presumem mais cautelosas. Quem tem garagem em casa e no trabalho pode ter descontos adicionais. Enfim são muitos os perfis que qualificam o melhor e o pior segurado da carteira de automóveis.
Um seguro de incêndio de alta qualidade tarifária considera a classe de localização do risco – fácil acesso, bombeiros no município -; a classe de construção – se o prédio é de concreto/alvenaria, madeira ou mistos – e finalmente a classe da ocupação do risco segurado – se é uma fábrica de colchões ou uma fábrica de cimento -, tudo isso diferencia a taxa.
A tarifa de aeronáuticos, embora mais complexa, pode ser pensada como os dois exemplos acima. Pesariam na tarifação de aviões, entre outros, a qualidade da própria aeronave. Depois, a idade do aparelho, ou melhor, o número de horas de vôo ou de decolagens e aterrissagens. Como terceiro dado se verificaria a utilização do avião – de pulverizadores de lavoura até vôos executivos.
Até pouco tempo esse dados pareciam suficientes para que os atuários encontrassem o bom preço para o seguro de avião. Poucos consideravam o local de operações do avião respectivo porque os países que têm melhor tecnologia quase sempre têm também um tráfego aéreo muito mais denso do que países pouco desenvolvidos como o Brasil.
Todo esse processo de cálculos atuariais parece carecer de reanálise depois do apagão aéreo. Faz-se necessário agora saber o grau de satisfação dos controladores de vôo antes de precificar. Parece fácil mas não é. Aos dotes matemáticos dos atuários temos de juntar outros nunca imaginados. Precisarão conhecer ideologia, psicologia, direito civil e penal, e até mesmo religião, para rezarem enquanto suas aeronaves estiverem voando sobre o Brasil.
A satisfação dos controladores militares de vôo não se mede facilmente por salário. Afinal, quando entraram para a Força Aérea Brasileira sabiam perfeitamente quanto iam ganhar mensalmente. Não há nada mais previsível do que o soldo de um militar. Sabiam que seu salário seria pequeno embora crescente gradualmente ao longo da carreira. Sabiam que teriam transporte gratuito até o serviço, estabilidade no emprego, seguro saúde de boa qualidade e aposentadoria integral em prazo inferior ao dos civis.
Tinham ciência de que poderiam ir para a guerra – pouco provável mas razão de ser das próprias Forças Armadas – sem qualquer acréscimo significativo de salário. Sabiam que muitas vezes trabalhariam pouco mas em algumas outras funções teriam de se esforçar para acompanhar o ritmo.
Acontece que, de repente, nossos sargentos começam a se queixar do salário e a colocar em risco os aviões, passageiros e a paciência da população. Como então poderiam os atuários ter previsto o comportamento deles. Só através da psicologia, da ideologia ou da psiquiatria. Quando souberam que sua função, embora tão difícil quanto qualquer outra, era importante, passaram a tratar o céu brasileiro como sua propriedade particular. E resolveram por várias vezes parar o Brasil.
Agora começa a discussão tarifária e o que ocorrerá é que os aviões que operam no Brasil terão suas taxas elevadas. Sabe por que ela vai aumentar, caro leitor? Porque o atuário, por mais matemático que seja, tem medo. Exatamente como nós, passageiros. Fico pensando a que nível irá essa taxa se, além de todos os erros que já cometemos, tirássemos o controle aéreo dos ministérios militares. Aí sim iríamos à Lua pela primeira vez, embalados pelos estratosféricos preços do Seguro Aeronáutico.

Fonte: Gazeta Mercantil

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