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Adotar medidas em prol da diversidade não reflete em avanço do tema no mercado de seguros

A última edição do relatório da CNSeg sinaliza a ínfima participação de mulheres e pessoas pretas em cargos de alta liderança, na diretoria e conselhos das empresas do mercado. Ainda que, na rica demografia do nosso país, esses públicos representem mais da metade da população.

Proponho um exercício: você já praticou o bom e velho “teste do pescoço”? Na próxima vez que estiver no seu local de trabalho, olhe para os lados e conte quantas pessoas pretas, LGBTQIA+ ou que fazem parte de diferentes grupos de diversidade, você consegue encontrar. Em tempos de isolamento social e trabalho remoto, vamos facilitar, analise as últimas notícias e fotos de representantes das empresas em eventos ou em premiações do mercado, o que você vê? Garanto que, antes mesmo de “dar um Google”, você já tem uma imagem formada na cabeça: um grupo homogêneo, de homens brancos, cisgênero, heterossexuais, vestindo terno e gravata, correto?  

Posto isso, trago uma reflexão sobre o “Dia da Diversidade e Inclusão no mercado de Seguros”, esta ainda não é uma data para ser comemorada. Mas sim, um dia para analisar, refletir e fortalecer a luta por direitos em busca de representatividade no setor.

Para transformarmos o significado desta data, é fundamental entender conceitos e nomear práticas e comportamentos que devem ser revistos:  

* Começando por entender o real significado de “DEI”, acrônimo em alta nas comunicações corporativas, mas mal compreendido e pouco praticado: o D de Diversidade representa a pluralidade do nosso povo, em termos de diferenças culturais, de identidade, gênero, raça e etc. O E de Equidade, se contrapõe à meritocracia e significa garantir acesso, buscar igualdade via processos e práticas, entendendo que cada jornada é individual e o I de Inclusão é parte fundamental deste processo, é o senso de pertencimento, significa integrar as pessoas, oferecer as ferramentas necessárias, investir em treinamento e fortalecer a cultura da inclusão e respeito, criando um ambiente em que as pessoas se sintam à vontade para ser quem são.

A diversidade traz justiça para o ambiente de trabalho, cria oportunidades mais equânimes e mais justas, estimula a criatividade e a inovação e é obrigatória para a nova geração.

 * Por falar na “Geração Z”, o setor de seguros como responsável por cuidar e proteger o que é mais valioso para as pessoas, precisa da diversidade de talentos para compreender as necessidades deste consumidor que já nasceu engajado em causas. Olhar a diversidade como perspectiva de negócio, é o caminho para oferecer serviços, assistência e coberturas adequadas às necessidades das pessoas e do mundo. Somos um país diverso, consequentemente precisamos de produtos e serviços adequados às diferentes realidades.

* Derrubar as barreiras e os vieses inconscientes nos processo de recrutamento e na promoção de cargos de liderança é fundamental. Neste cenário as Leis de Cotas e as vagas afirmativas servem como um processo transitório até atingirmos os índices ideais de diversidade. São práticas que ajudam a reparar arestas em relação a não inclusão, aceleram o processo, garantindo oportunidade para pessoas que não tiveram acesso, devido à realidade socioeconômica e cultural.

* O Ageísmo ou Idadismo, o Capacitismo, a Gordofobia e LGTQIA+fobia, etc. ainda são termos distantes das pautas de diversidade empresariais. Mas, para que seja possível combater um problema, é necessário identificar que existe uma situação que causa dor e a mesma deve ser nomeada, compreendida e tratada. As empresas precisam investir e cultivar uma cultura organizacional que não menospreze ou ignore questões relevantes para as pessoas e assim de fato teremos uma sociedade diversa e inclusiva.  

Fica aqui o convite para uma reflexão: as práticas e ferramentas implementadas na sua organização refletem de fato uma mudança significativa nos indicadores de diversidade do mercado? Que hoje seja uma data para fazermos o exercício de questionar, e o mais importante, que em todos os dias seja possível enxergar que a diversidade e inclusão saíram do campo das ideias e se tornaram realidade.

Luiza Maia

Luiza Maia fundou a Maya Estratégia, consultoria de transformação cultural que conecta organizações às temáticas ESG. Liderou a criação da área e estratégia ESG de multinacional, destacada em 1º lugar no Prêmio Época Negócios 2020 e no mesmo ano foi reconhecida pela Sou Segura como “Mulher em Destaque no Mercado de Seguros”. Seu propósito é impulsionar pessoas e negócios a serem mais sustentáveis, diversas e inclusivas.

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