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Acidente Boate Kiss: por que ainda acontecem e como não fazer parte de um?

O incêndio na Boate Kiss foi o terceiro maior desastre mundial em casas noturnas em número de mortos, após Cocoanut Groove, em Boston, Estados Unidos, com 492 mortes em 1942 e a Disco Luoyang na China, com 309 mortos em 2000, de acordo com a NFPA, o órgão americano responsável pelas normas contra incêndio. É lamentável quando vemos os mesmos erros sendo cometidos de maneira sucessiva num mundo global onde supostamente deveríamos aprender com o passado… Infelizmente este não é o caso no mundo da prevenção contra incêndio em casas noturnas. 

Nem precisamos ir tão longe, só mesmo no Brasil já tivemos tantos outros casos… Como no Canecão Mineiro em Belo Horizonte, com 7 mortos e 300 feridos em 2001 e no nosso vizinho Argentina, no Clube Cromagnon, com 194 mortos em 2004. 

A fórmula mortal é sempre a mesma: 

Chama aberta 

+ material combustível 

– proteção contra incêndio 

– saídas de emergência 

= centenas de mortes

E então, como fazer para prevenir futuros desastres semelhantes? As medidas mais simples seriam:

Banir fogos de artifício, sinalizadores e garçons dançando com fogo em suas bandejas em casas noturnas, ou qualquer outro tipo de uso de chama aberta, pois as paredes e tetos sempre serão revestidos de isolante acústico, normalmente combustível, pois são os mais baratos. 

Haver sempre duas saídas de emergência em qualquer lugar, ambiente, não importa o uso. Lembram-se da quase tragédia em 2010 dos mineiros do Chile? Só havia uma saída. Se no mesmo andar houver 500 pessoas, são necessárias 3 saídas, e com 1000 pessoas, 4 saídas. Claro, abrindo para fora, de fácil acesso, sinalizadas e iluminadas, de largura e alturas proporcionais à capacidade máxima do local. 

Uma mínima organização de emergência e um sistema de alarme, onde se possa identificar e comunicar rapidamente uma situação de incêndio a todos ocupantes, por seguranças ou garçons e funcionários com noções básicas de abandono, orientando a multidão para onde se dirigir, ao invés de impedir a saída. 

Já as mais complexas, por depender de recursos financeiros ou da ação de órgãos público-governamentais, mas igualmente necessárias:

Instalar e manter sistema automático de combate a incêndio, ou seja, por chuveiros automáticos, os sprinklers, que funcionam sozinhos com a presença de fogo, jogando água imediatamente acima do local em chamas. Apesar de serem considerados caros, nunca houve um desastre com centenas de mortes em locais assim protegidos. 

Respeito aos limites de ocupação, já que a ganância prevalece ao investimento em proteção.

Uso de materiais não combustíveis ou com retardantes de propagação de chama na construção e seu interior, o que evitaria que o fogo se propagasse tão rápido como na Kiss. 

Por fim, convido a todos os leitores a refletir sobre esse desastre e buscar evitar situações potenciais em locais de acúmulo de público, como na escola de seus filhos, no teatro, no show, na festa do vizinho, numa feira ou exposição, no shopping center, etc. Caso identificadas, recorra ao corpo de bombeiros, ao seu corretor de seguros e à sua seguradora. 

Minha dica? Responda a si mesmo assim que chegar a esses lugares: “Você se sente seguro nesse local? Se houver sinal de fumaça você sabe para onde correr e acredita conseguir sair?”

Ainda há muito a ser feito, mas nós podemos fazer nossa parte sendo fiscalizadoras e agentes de mudança.

Renata Rezende Barcellos

Renata Rezende Barcellos /RBarcellos Engenharia de Riscos Engenheira Química e de Segurança do trabalho com 15 anos de experiência em seguradoras e resseguradoras no Brasil e na América Latina na área de engenharia de riscos, visitando instalações comerciais e industriais de maneira a evitar que situações como a Kiss se repitam. www.rbarcellos.com.br.

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