Ação educativa pode alavancar cultura do seguro
No Brasil, o segmento de seguros corresponde a 3,2% da arrecadação anual do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto em países desenvolvidos a parcela chega a ser o triplo: nos Estados Unidos, por exemplo, alcança 9%. São vários os fatores que justificam a falta de hábito da população brasileira de consumir seguros. Vamos tratar das raízes deste comportamento.Não se pode ignorar o longo período inflacionário vivido pelo País, que remonta à época do governo republicano no século XIX e nos acompanhou até a década de 1990. A estagnação econômica e a recessão tiveram reflexo direto no consumo das famílias e a inflação galopante devorava parte do que deveria estar na mesa do trabalhador. Como consequência direta, a população perdeu a noção do real valor de seu dinheiro, que foi recuperada, paulatinamente, apenas depois do Plano Real. Na esteira desse processo, o Brasil vivenciou uma série de mudanças econômicas que influenciaram a forma de lidar com o dinheiro. O real valorizado permitiu ao brasileiro realizar suas aspirações de consumo, enquanto o governo segurava a inflação com altas taxas de juros. Demandas de consumo reprimidas por décadas começam a ser concretizadas: o sonho da casa própria, do carro do ano, dos eletrodomésticos modernos, entre outros, viraram realidade nos últimos 20 anos. Portanto, é muito recente este processo de pensar no futuro, planejar-se financeiramente, poupar e investir. Além disso, por conta do histórico inflacionário, não há uma cultura de finanças pessoais estabelecida na educação formal do brasileiro.Soma-se à falta de planejamento financeiro a inexistência de catástrofes naturais em nosso País, como aquelas que acometem o Japão e os Estados Unidos, por exemplo. Nesse aspecto somos abençoados e não há motivo nenhum para querer que esta realidade mude. Apesar disso, algumas tragédias como as enchentes em Santa Catarina e os deslizamentos na região de Petrópolis já são indícios de possíveis mudanças. Mas essa é outra questão. O fato é que duas décadas de estabilidade econômica não são nada para um país onde 67% da população viviam abaixo da linha de pobreza, sem conseguir que suas necessidades básicas fossem atendidas minimamente. Pensar em seguro naquele contexto era um luxo. Mas o país mudou e ainda deverá mudar muito nos próximos anos. Segundo estudo do Pyxis Ibope Inteligência, após a ascensão de grande parcela das classes D/E para a C, a classe B será a próxima a liderar o consumo no Brasil. As famílias da nova classe C e B estão mais maduras para ingressar em um novo patamar de consumo, que inclui a aquisição de seguros. Ou seja, depois de ter conquistado seus bens carro na garagem, imóvel próprio, eletrônicos de todos os tipos, joias, entre outros itens de alto valor , essa população inicia a fase de buscar tranquilidade para usufruir suas conquistas. A cultura de adquirir um seguro será reforçada a partir do desejo de proteger os bens já adquiridos. E, nesse momento, o seguro ganhará um grau de importância ainda maior junto aos brasileiros. Abre-se, então, um enorme mercado potencial a ser explorado. Mesmo o seguro de automóveis, que é o mais popular entre os brasileiros, abrange apenas 18% dos veículos. O percentual é ainda mais reduzido em outras modalidades como, por exemplo, o residencial. Apenas 4,8% das casas no país são seguradas, enquanto nos Estados Unidos o índice supera a 90%. Apesar disso, o Brasil está alcançando um patamar mais sofisticado e abrindo mais espaço para seguros como vida, previdência privada, seguro educacional, proteção a empresas e aos gestores, obras de arte, coleções pessoais, habitacional, bens eletrônicos, entre outros.O desafio que se impõe para o setor é continuar a tarefa de educar a população para que perceba a importância de investir em seguros com o objetivo de garantir mais tranquilidade para o futuro. Sim, futuro: uma palavra que começa a ser mais palpável para o brasileiro, que vivia até há pouco tempo preocupado apenas em esticar o dinheiro para chegar até o fim do mês. * Acacio Queiroz – presidente e CEO da Chubb do Brasil Cia. de Seguros, subsidiária da Chubb Corporation (Edição 126)
Fonte: Revista Cobertura