Abrindo informações, road show traz bons negócios
Em dez dias no exterior, Porto Seguro faz reuniões com 60 investidores institucionais. A rotina dos executivos de uma companhia listada no Novo Mercado da Bovespa é cansativa. `Essa foi a conclusão a que eu e minha esposa, que me acompanhou no road show, chegamos`, contou Jayme Garfinkel, vice-presidente da Porto Seguro. Ele viajou durante dez dias em junho para fazer apresentações da companhia e vender 6 milhões de ações secundárias que pertenciam a sua irmã, Stela Yara Blay.
Valeu a pena o esforço. A Porto conseguiu vender todas as ações, totalizando R$ 201 milhões. Com isso, o percentual das ações da seguradora em poder do mercado passou de 29% para 37,02%, sendo que os estrangeiros detêm 70% e os investidores locais, 30%. Dos investidores, 3,5% são pessoa física e 96,5% pessoa jurídica.
Na abertura do capital da companhia, em novembro de 2005, a Porto vendeu 17.499.580 ações, sendo 13.242.301 pertencentes também a Stela Blay e 4.256.279 primárias. Com as ações cotadas a R$ 18,75, o grupo totalizou R$ 328,1 milhões no lançamento. Do valor total arrecadado com o IPO (oferta inicial) e a oferta secundária, R$ 450 milhões pertencem a Stela, que deixou de ser acionista da companhia.
Neste ano, as ações da Porto acumulam alta de 62%, bem acima dos 11,73% da do Ibovespa (o principal índice da Bolsa) até a última sexta-feira. A divulgação dos dados de maio levou os analistas do UBS a elevar de `neutro2` para `comprar2` a recomendação para as ações da seguradora. Eles também elevaram em 11% o preço-alvo, de R$ 46 para R$ 51 e ainda a previsão de lucro para R$ 342 milhões neste ano.
Segundo Guido Lemos, gerente de relações com investidores, as projeções das cinco principais corretoras que acompanham o papel da Porto (UBS, Pactual, Credit Suisse, Deutsche e Bradesco) mostram que as informações estão sendo bem divulgadas e que há um melhor entendimento do mercado sobre o setor de seguros. `O intervalo entre a maior e a menor projeção era de 30% a 40% no ano passado, o que indicava pouca informação. Hoje, o intervalo está entre 10% e 15%`, disse.
Ver esses resultados compensa o cansaço físico e o mental, com a tensão da apresentação, agravada pelo período. Em junho, muitas companhias brasileiras adiaram emissões em razão da turbulência causada pelo temor da economia nos Estados Unidos. `Meu sobrinho ligava constantemente, assustado com as notícias das oscilações na Bovespa.`
Não bastando isso, há uma série de detalhes que os executivos precisam ficar atentos. `Não podemos esquecer de recolher a apresentação em papel entregue aos investidores para acompanhar a apresentação`, citou Garfinkel. Segundo Mario Urbinati, diretor de relações com investidores, trata-se de uma proibição da SEC, a CVM norte-americana. `Como não é uma operação registrada na bolsa americana, deixar papel caracteriza oferta não regular. Para que fique no esforço de venda, só podemos deixar o prospecto e para investidores qualificados.`
Garfinkel viajou acompanhado do gerente Lemos. Foram dez dias para fazer apresentações em Nova York, Boston, Londres, Chicago, São Francisco e Los Angeles. Enquanto isso, Urbinati e Casimiro Blanco, diretor de controladoria, faziam apresentações no Brasil. `Conversamos com aproximadamente 60 investidores institucionais em reuniões individuais, com 50 minutos de duração cada`, contou Lemos.[1]
Para os investidores estrangeiros, o que mais importa é a capacidade de expansão do setor, uma vez que os mercados de seguros dos EUA e dos principais países da Europa está saturado. A participação de seguro no PIB brasileiro é pouco acima dos 3%, baixa se comparada aos 9% nos EUA, 10% do Japão e 12% do Reino Unido.
Fonte: Gazeta Mercantil