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Aberta a temporada de caça pelos novos players

No último dia 17 de abril, mais urna barreira que fechava o país à economia de mercado foi derrubada. Depois de 69 anos de monopólio estatal, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) anunciou a abertura do resseguro à concorrência privada, abrindo a porta para a entrada de novos players num segmento que movimenta mundialmente cerca de US$ 200 bilhões e que tem uma participação inexpressiva do Brasil.
No ano passado, o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), empresa de capital misto com 51% de controle estatal e que dominava sozinho o setor, movimentou R$ 3,3 bilhões, pouco mais de 1% do mercado global. Parte disso é explicado pelo fato de o resseguro cobrir apenas cerca de 5% do mercado segurador no pais, perto de um terço da média internacional.
A expectativa da Susep é de que, com a abertura, esse mercado cresça a uma velocidade de 20% ao ano, dobrando de tamanho até 2012. ´Temos um cenário que comprova o alto grau de interesse no Brasil. Não é qualquer empresa que está vindo para cá, são grandes companhias.0 Brasil é o único grande balcão do mundo disponivel. Somente Cuba e Costa Rica têm o mercado fechado”, disse o superintendente-geral da Susep, Armando Vergílio, no dia em que anunciou a abertura.
0 otimismo de Vergilio não é infundado. Embora inicialmente, o IRB vá competir com apenas quatro players (Mapfre Re, Munich Re, J. Malucelli e XL Re), gigantes do setor já obtiveram autorização prévia para operar no mercado brasileiro como admitidas (uma espécie de filial de estrangeira), como Scor Re, Swiss Re, Swiss Re America e Transatlantic Re. Adicionalmente, a Partner Re, Hannover Re e Federal Insurance Company também já manifestaram interesse em atuar no pais.
Para Vergilio, o número de resseguradoras interessadas em operar no Brasil superou as expectativas, mas poderia ser ainda maior não fosse a crise global. Atualmente, a Susep analisa 12 pedidos de resseguradoras para entrada no Brasil. De acordo com o superintendente da Susep, até dezembro seis resseguradoras locais estarão operando no país. Ele acredita que entre operadoras locais, eventuais e admitidas, de 60 a 70 resseguradoras vão operar no pais nos próximos anos.
Momentaneamente, Mapfre, Munich XL e J. Malucelli são as únicas inscritas para atuar como operadoras locais. A resseguradora local é uma empresa com capital e reservas inteiramente nacionais.A legislação prevê que nos próximos três anos as seguradoras façam 60% do resseguro com as empresas que conseguiram este tipo de classificação, o que garante a elas uma espécie de reserva de mercado.
No entanto, as gigantes do setor que vão disputar os 40% restantes do mercado também já começam a fazer planos ambiciosos. A Swiss Re, líder mundial do segmento, pretende repetir no Brasil a liderança que já tem mundialmente. “Não vamos fazer loucura, mas nossa meta é ter 20 por cento do mercado de (seguros de) vida e 10 por cento dos demais ramos no prazo de três a cinco anos”, disse o diretor-presidente da Swiss Re no Brasil, Henrique Oliveira. Ela vai operar como admitida, categoria em que uma empresa estrangeira tem de abrir escritório de representação no país. A terceira classificação ê a de eventual, quando uma companhia estrangeira especialista precisa ter um procurador no Brasil.
Segundo Oliveira, o Brasil é um dos mercados mais cobiçados pelas resseguradoras entre os emergentes, uma vez que o segmento ainda tem um baixo nível de penetração. Além disso, ele aponta uma série de fatores que pode contribuir para a expansão desse mercado. “A expectativa de continuidade do ciclo de crescimento, com gradual aumento da formalização da economia, vai levar à expansão da procura por produtos mais sofisticados, que demandam mais resseguros”, afirma.
Além disso, o diretor da Swiss Re considera que o aumento dos investimentos governamentais em obras de infra-estrutura, puxadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e a expectativa de novos empreendimentos privados de grande porte, como os da Petrobras, também devem devem acelerar a demanda por seguros e resseguros.
Concorrência
Em abril, mais duas empresas do segmento anunciaram que estão de chegada à capital do Rio de Janeiro: a alemã Hannover Re e a norte-americana Transatlantic Re. São, respectivamente, a quarta e a sexta colocadas no mercado internacional de resseguros. A Hannover RE possui ativos de 19,8 bilhões de euros e está presente em 150 países. No Brasil, atuará como resseguradora admitida para os ramos de vida e não-vida, saúde e resseguro empresarial. A Transatlantic Re, com ativos consolidados de US$ 15,49 bilhões, emitiu US$ 4 bilhões em prêmios no ano passado. A norte-americana, que conta com 22 escritórios espalhados pelo mundo, também vem para o Brasil como resseguradora admitida, com escritório de comercialização no país. A alemã Munich Re, maior companhia do setor no mundo ficará em São Paulo onde já possui escritório de representação.
“0 Brasil é um mercado que interessa a todo mundo, já que 60% do seguro da América Latina estão no pais”, ressaltou o gerente geral Transatlantic Re, Paulo Pereira Reis. Admitiu que a previsão da Susep, de ter até 80 resseguradoras operando até o final do ano, é bastante razoável e que, pelas estimativas da Transatlantic Re, o Brasil deve ter pelo menos cinco resseguradoras locais, 20 admitidas e 50 eventuais. “Haverá concorrência, o que é muito bom para o mercado”.
Já para Ivan Passos, responsável pelas operações da Hannover Re no país, a abertura do mercado ressegurador brasileiro pode trazer ao país modalidades de seguro ainda restritas aos mercados internacionais. O executivo deu exemplo do Seguro de Responsabilidade Civil Decenal, usado no setor de construção civil e obrigatório em alguns
países, como na França. Nessa modalidade, seguradoras e resseguradoras são contratadas para garantir a qualidade das obras, que devem seguir normas técnicas. Outro exemplo, são os seguros contra erros e omissões de executivos de empresas – um tipo de apólice de responsabilidade civil pouco difundida no pais.
A Hannover Re pretende operar em áreas nas quais já possui expertise no mercado externo. Passos ressaltou boas
Para Sindicato dos Trabalhadores em Resseguros (Sintres), por exemplo, as regras ficaram muito brandas para as empresas estrangeiras, como a dispensa da exigência de que elas tragam para o país parte de suas reservas de resseguro. Para operar como resseguradora admitida, por exemplo, a companhia tem que trazer para o Brasil apenas US$ 5 milhões. O receio é do sindicato é que isso facilite a migração de recursos para fora do país e que também reduza a
oportunidades de negócios no resseguro agrícola, que na sua avaliação, ainda é incipiente no país. “Temos expertise no mercado agrícola e queremos expandir negócios nesse setor. Queremos nichos especiais de operação, mas é importante frisar que não iremos em busca de qualquer setor para fazer volume. Procuramos nichos rentáveis de mercado”, ressaltou.
Ainda pouco difundido
Mecanismo do qual se valem as seguradoras para transferir o excesso de responsabilidade que ultrapassa o limite de sua capacidade econômica de indenizar, o resseguro no Brasil é mais utilizado para a cobertura de riscos patrimoniais, segmento que representou mais de metade dos prêmios do IRB no ano passado. Os prêmios no ramo de incêndio, aeronáutico e de garantia vieram em seguida.
A expectativa do presidente da Swiss Re é de que a combinação de abertura do mercado ressegurador com o crescimento e formalização da economia brasileira faça crescera procura de resseguros para outros fins, como responsabilidade civil de executivos.
Para os segurados, a expectativa de especialistas é de que a abertura do setor leve a uma saudável competição entre as companhias, o que forçará uma queda nos preços dos prêmios das apólices. “Você tem mais membros participando da exploração desse mercado e, com isso há a possibilidade de que os preços dos contratos de resseguros caiam. Isso é bem marcante. Com preços mais baixos, acaba repercutindo nos próprios segurados, que vão acabar pagando prêmios dos seus seguros mais em conta”, avaliou Ilan Goldberg, especialista em direito securitário à Agência Brasil. A idéia é que, com mais parceiros disponíveis para repartir os riscos de indenização, as seguradoras ficariam mais dispostas a ampliara oferta de produtos de proteção que hoje não existem no mercado.
Apesar disso, a mudança não teve aprovação unãnime
competitividade do IRB.
Não é o que pensam os entusiastas da livre competição. Eles citam o exemplo da Coréia do Sul, onde o mercado ressegurador foi aberto em 1992. Passados 16 anos da mudança, a resseguradora estatal Korean-Re continua detendo mais de 50% das operações e concorrendo em ótimas condições com companhias estrangeiras.
Especialistas apontam ainda que, uma vez dentro de um ambiente de competição, o IRB poderia se tornar uma empresa de capital aberto, vendendo ações na bolsa de valores e captar recursos para concorrer em pé de igualdade com suas competidoras. É uma trilha que já vem sendo seguida por seguradoras, como a Porto Seguro, a Amil e a Sul América, que já estrearam na Bovespa.A Marítima Seguros suspendeu temporariamente os planos de também se listar no pregão, devido à crise de crédito nos Estados Unidos. Rumores de que o IRB estaria preparando caminho para uma oferta pública inicial de ações CIPO, na sigla em inglês) vêm passeando pelo mercado desde meados de 2007. Oficialmente, porém, a abertura de capital não está nos planos da resseguradora.

Fonte: Executivos Financeiros

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