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A luxúria premiada de Ang Lee

“Passei a me sentir escravo dessa mulher e de sua trajetória verídica”, disse o cineasta, que assumiu riscos para honrar essa transposição. A forte carga sexual da trama, em que a espiã se apaixona pelo homem que investiga e dele se torna amante, foi traduzida com ousadas cenas de sexo explícito, algumas perturbadoras, por estarem carregadas de humilhação e violência. “Não poderia ter filmado a história de outro modo. O sexo aqui está simplesmente a serviço do cinema.”
Lee nem precisaria se explicar. Apesar de intensas e de exigir certo contorcionismo dos atores, essas cenas não são gratuitas, mas fundamentais para a caracterização dos personagens principais: uma estudante revolucionária chinesa incumbida de seduzir e matar um político que colabora com as forças japonesas durante a Segunda Guerra Mundial, em Xangai. Para convencer no papel, a jovem passa por uma profunda transformação. Tão profunda que se envolve verdadeiramente com o traidor e a relação, ainda que doentia, a deixa indecisa na hora de concluir sua missão. “Sexo é uma forma de buscar a si mesmo. O que eu quis mostrar foi nada mais que a ambiguidade da protagonista.”
Vendido como um “thriller de espionagem erótico”, o filme rendeu a Lee o disputado Leão de Ouro no recente Festival de Veneza, encerrado no dia 8. Rodrigo Prieto ainda levou o prêmio de melhor fotografia pela colaboração com o cineasta nascido em Taiwan e radicado nos Estados Unidos. Definido no evento italiano como uma mistura de “Interlúdio” (1946), de Alfred Hitchcock, com “O Império dos Sentidos” (1976), de Nagisa Oshima, “Lust, Caution” não é a primeira provocação de Lee. Há dois anos, ele recebeu o primeiro Leão de Ouro de sua carreira com “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005). A história de amor homossexual entre dois caubóis ainda somou oito indicações para o Oscar, garantindo a Lee a estatueta da Academia de Hollywood de melhor diretor.
Antes de estrear no Brasil, onde terá distribuição da Europa Filmes, “Lust, Caution” entrará no circuito de festivais. O filme está confirmado na mostra “Panorama” do Festival do Rio, que começa no dia 20, e deve integrar a Mostra de Cinema de São Paulo, em outubro. Pelo conteúdo explícito, com cenas de sexo que revelam tanto a paixão quanto a desconfiança dos personagens, pegará a censura máxima nos EUA. O lançamento, no fim do mês, foi classificado como proibido para menores de 17 anos, categoria normalmente destinada a títulos pornográficos. Nem o diretor nem a distribuidora (Focus Features) protestaram – o que costuma acontecer nesses casos.
No encontro com os jornalistas em Veneza, o diretor deu a entender que as cenas de sexo são autênticas. “Você viu o filme? Então por que pergunta?”, indagou, quando questionado sobre a veracidade das imagens. Essa parte foi rodada em 11 dias num set fechado. Ele dispensou toda a equipe – exceto o operador de câmera e um técnico de som. Discretos, os atores, o astro Tony Leung e a estreante Tang Wei, definiram a filmagem como “uma experiencia muito forte”. “Tang sofreu muita pressão, até por ser seu primeiro trabalho no cinema. Mas se saiu incrivelmente bem”, comentou Lee, que a escolheu entre milhares de candidatas.
O sexo não é o único fator de risco, capaz de restringir o alcance do filme, que custou US$ 15 milhões. A duração, mais de duas horas e meia, também costuma afugentar os espectadores – além de representar menos sessões por dia, o que diminuiu a bilheteria. Mas Lee está satisfeito. A longa duração foi escolha sua, já que o conto de Eileen, publicado em 1950, tem só 28 páginas. Em geral, o que se vê é o contrário: um livro de 400 páginas que precisa ser condensado em uma hora e meia de filme. “O conto serviu apenas de ponto de partida e não determinou o destino final. Minha maior preocupação foi mergulhar na história, sendo fiel ao que a autora escreveu.”

Fonte: Valor

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