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A longa agonia do seguro saúde

Data: 02.03.2007 – Fonte: Gazeta Mercantil
Todos nós nos defrontaremos com um dilema: mantemos ou não nosso convênio médico; temos ou não condição de mantê-lo?
Os que começam a vida profissional como autônomos ou pequenos empresários têm que tomar a decisão mais cedo. Aqueles que, como eu, trabalharam em grandes empresas a vida toda só enfrentarão a realidade ao se aposentarem ou montarem sua própria empresa.
Foi um susto quando eu deixei de ser executivo. Preparei um orçamento criterioso que englobava todos os meus custos incluindo a manutenção dos benefícios que tinha. Acertei quase todos os cálculos. O custo do automóvel incluindo o respectivo seguro e motorista; o valor mensal do celular, a conta do telefone fixo. Quanto ao seguro saúde cometi um erro assustador. Atribuí um custo provável de R$ 1.000,00 por mês para a mesma cobertura que tinha na empresa e o custo foi o triplo da estimativa. Estudei todas as alternativas disponíveis mas nada encontrei que pudesse reduzir o preço. O mercado não desenvolvera qualquer novo produto nos anos mais recentes.
Como pode acontecer tamanha estagnação em um mercado que não satisfaz a qualquer de seus atores? As seguradoras, cooperativas ou empresas de medicina de grupo se queixam de que as margens são baixas. Os médicos demonstram no dia-a-dia grande insatisfação. Poucos, como oftalmologistas e anestesistas, têm algum apreço pelo sistema. Fisioterapeutas, enfermeiros, fonoaudiólogos quase nunca são incluídos nas coberturas dos planos. No sistema hospitalar e de exames de laboratório e de imagens, apenas os grandes têm posição satisfatória. Os poucos clientes que ainda se sentem bem são os que participam de seguros coletivos de grandes empresas.
O governo não toma consciência de que, com a perda de pujança da modalidade, o Sistema Único de Saúde está recebendo de volta, diariamente, clientes que já não podem pagar pelos planos privados.
Normalmente quando esse tipo de situação ocorre o mercado reage e produz novas idéias, novas coberturas, novos modelos de atendimento que dão oxigênio ao respectivo seguro. No Brasil isso não está ocorrendo. Datam do início dos anos 90 os últimos aprimoramentos do sistema: ilimitação do prazo de internação, cobertura de AIDS, próteses e órteses, transplantes e implantes. De lá pra cá praticamente acabaram os seguros individuais; o preço subiu muito acima da inflação. O referenciamento de médicos ficou dificílimo. O reembolso de procedimentos médicos está praticamente congelado. Os mais velhos ficaram impossibilitados de pagar pelo seguro. O imobilismo é péssimo pra todos.
Há uma idéia generalizada de que nada pode ser feito para melhorar. Pois a idéia é falsa. A legislação precisa ser revista para permitir a volta da flexibilidade. Ocorre que para as autoridades a liberdade serve somente às operadoras. Pois estão redondamente equivocados. Aos operadores do sistema interessa o imobilismo atual.
A flexibilização interessa ao consumidor. Os produtos com franquias à escolha do cliente seriam estupendos e produziriam boas reduções de preço. Produtos de cobertura de exames seriam muito bem vindos. Coberturas mais baratas por tarifação individual que incluísse exames admissionais seriam formidáveis.
Produtos com nova estrutura de tarifação poderiam inclusive facilitar a contratação por parte dos mais velhos. Todo modelo linear de preços por idades deveria ser revisto. Não se pode conceber que jovens de dez anos até 35 anos paguem mais do que recém-nascidos que consomem muito mais coberturas.
Planos familiares seriam ideais para grande parte do povo. Sistemas de participação nos lucros poderiam ser adotados com facilidade. Mas nada disso será aprovado enquanto não se reformular essa legislação que tanto prejudicou o ramo. Até que se reformule a lei nos resta refletir sobre o que fazer se não temos o dinheiro para pagar o seguro ou plano que temos atualmente. Valeria a pena contratar a cobertura somente para internação hospitalar? Pode ser. Afinal ela custa a metade do preço de um seguro que inclua também consultas e exames.

Fonte: CQCS

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