A consciência dos problemas de sustentabilidade em tempos difíceis
Nos últimos anos, o mundo tomou consciência de que algo precisaria ser feito rapidamente, sob pena de inviabilizarmos a existência de futuras gerações. Seguidos encontros de líderes mundiais resultaram em compromissos de se controlar e reduzir emissões de CO2. E empresários concordaram em rever seus processos produtivos, buscar combustíveis alternativos, reduzir viagens de negócios e até mesmo o circo Fórmula 1 ficou sensibilizado, comprometendo-se a reduzir as emissões da categoria na contribuição à causa.
Envolvido em todos os setores econômicos, o mercado segurador também mantém um significativo papel nesse debate. Sua interlocução com demais agentes garante uma maior precaução de possíveis danos, ingrediente vital ao negócio das seguradoras que protegem a sociedade dos riscos que ameacem sua existência e patrimônio.
Pesquisas realizadas pela Allianz, por exemplo, revelam que os pedidos de resgate de seguros relacionados ao clima aumentaram 15 vezes nos últimos 30 anos. E as projeções indicam que, entre 2010 e 2019, os prejuízos podem alcançar até US$ 100 bilhões por ano. A grandeza dos números evidencia o severo impacto que as mudanças climáticas poderão ocasionar no futuro. Mais do que isso, demonstra apenas uma parte da realidade, visto que a grande maioria da população mundial não tem seus bens e suas vidas protegidos pelo seguro.
Esse mercado ainda passou a criar produtos e proteções voltados a empreendimentos de geração de energias limpas, indispensáveis para a disseminação e viabilidade econômica do setor. Frente à indisponibilidade de um arcabouço estatisticamente válido em nosso País, sobretudo as companhias multinacionais se valeram do conhecimento já desenvolvido em outras partes do mundo onde, principalmente as energias eólica e solar já estão bastante disseminadas.
Nesse âmbito, ascendeu novamente o debate acerca da energia nuclear que, apesar de execrada pelos ambientalistas, comprovadamente produz menos emissões por MW do que as térmicas a carvão ou gás.
Contudo, a crise econômica mundial apareceu para roubar a cena. Todos estão focalizados no curto prazo, na sobrevivência das empresas e na sustentação de empregos. A baixa do petróleo, promovida pelo excesso de oferta do produto, passou a ser um incentivo importante para o adiamento dos compromissos com a eliminação das fontes poluentes.
Por outro lado, a temida recessão e a consequente diminuição da atividade industrial contribuíram forçosamente para a redução das emissões de gases, senão pela via que todos gostaríamos, mas certamente dando algum fôlego ao planeta. Este momento de exaustiva busca de eficiência dos sistemas de produção, a fim de se reduzir despesas, é também uma grande oportunidade para adequarmos nossos parques industriais e balanceamento da matriz energética, com vistas à sustentabilidade.
Muitos fundos “verdes”, que investem recursos em empreendimentos e indústrias sustentáveis, podem contribuir sobremaneira, já que as fontes de energia alternativas ainda têm um custo superior às tradicionais dada à falta de escala. A indústria automobilística também deve desempenhar um papel fundamental, aproveitando para implementar sistemas propulsores energicamente equilibrados nos veículos.
O mercado de seguros entra nesse grupo patrocinando centros de tecnologia, que pesquisam os riscos associados à inovação do mercado de energia e de redução das emissões. Hoje, já é possível segurar um empreendimento desde as garantias preliminares até a operação, passando pelos riscos de construção, responsabilidade civil e transportes com uma única empresa seguradora. A garantia das receitas de créditos de carbono provenientes de um empreendimento energético também já é uma realidade no mercado de seguros.
Em suma, o tema da sustentabilidade ambiental não pode ser esquecido. A crise que agora nos assola será certamente contornada. Já a sustentabilidade apenas poderá ser alcançada com a consciência geral e contribuição da sociedade, governo, indústrias e setor de serviços. A contribuição do mercado de seguros é indispensável para fornecer lastro às iniciativas que vão surgindo, oferecendo proteção para a pesquisa e busca de soluções inovadoras em um ambiente de riscos e incertezas
Fonte: Gazeta Mercantil