Fundos de pensão – Achatados e amarrados
O cenário cada vez mais desafiador enfrentado pelos fundos de pensão em busca de maiores retornos para garantir os salários dos futuros aposentados jogou luz sobre os entraves que os administradores têm se deparado ao investir no setor de infraestrutura. Os baixos retornos estabelecidos pelo governo em novas concessões e também o risco de descolamento da carteira na fase inicial de construção dos empreendimentos estão na lista dos fundos.
O Banesprev, dos funcionários do extinto Banespa, hoje Santander, por exemplo, está do lado dos que ainda querem investidor em projetos de infraestrutura. O fundo reservou cerca de R$ 250 milhões para isso, o que corresponde a 15% do patrimônio de dois planos de benefícios. A quantia pode parecer alta, porém Jarbas di Biagi, presidente da fundação, diz que poderia ser maior se não fosse uma resolução do Conselho de Gestão da Previdência Complementar (CGPC), que determina que uma entidade fechada de previdência complementar, que apresentar déficit por dois anos consecutivos, deve equacioná-lo o mais rápido possível.
“Os investimentos em projetos de infraestrutura, mesmo se feito por meio de fundos de investimento em participações (FIPs), demandam altos desembolsos em um primeiro momento para só de pois, 4 ou 5 anos após o aporte inicial, entregarem os primeiros retornos. Se os demais ativos que compõem a carteira não compensarem esse movimento, o plano apresentará déficit. Ou seja, após dois anos terei que recorrer à patrocinadora e aos participantes para equacionar o déficit”, explica o executivo do fundo, sugerindo a alteração da Resolução nº 26, que trata do tema.
Ele entende que a norma está em descompasso com as regras de investimentos de médio/ longo prazo, necessários aos fundos de pensão, principalmente diante de um cenário de taxa de juros decrescente e incertezas quanto ao futuro da BM&FBovespa.
Atualmente, a fundação soma mais de R$ 11 bilhões em patrimônio líquido, dos quais 80% estão alocados em renda fixa, entre 17% e 18% em renda variável e o restante distribuído entre as demais classes de ativo, entre eles investimentos estruturados. Quanto aos investimentos em projetos de infraestrutura, di Biagi diz que não há preferência por setor e que as oportunidades serão avaliadas individualmente.
Mario Amigo, professor de finanças e especialista em fundos de pensão, diz que os investidores de longo prazo têm passivos de longo prazo e podem ser financia dores desse tipo de ativo. Porém, é necessário avaliar uma série de fatores para ver se risco/retorno faz sentido. E é por causa dessa avaliação, de risco e retorno, que alguns grandes fundos de pensão começaram a barrar a participação como investidores em leilões de concessões do governo federal.
Um dos casos mais emblemáticos e recentes foi o das concessões de rodovias. Os retornos estavam muito limitados e aparentemente o próprio governo percebeu, tanto que na semana passada anunciou um aumento da taxa real de retorno das concessionárias de rodovia, de 5,5% para 7,2%. Mas isso só depois de os investidores privados muito contestarem os números com o próprio governo federal. Um dos pontos que preocupa nesse tipo de investimento é o risco ambiental ou social que projetos de infraestrutura representam e que podem reduzir ao longo dos anos os retornos previstos no dia dos leilões.
Outros dois pontos relevantes a se observar nesses investimentos, ainda segundo o professor Amigo, é instrumento e o caso. No caso do instrumento, cada um tem apresentará um risco e um retorno distinto. Quanto ao caso, é a avaliação do ativo em si.
Já a Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal, aprovou o investimento em dois FIPs de infraestrutura para a safra 2012/2013. “Mantemos uma constância na avaliação de FIPs”, diz Maurício Marcellini Pereira, diretor de investimentos da entidade.
Nos primeiros quatro meses do ano, a Funcef aportou aproximadamente R$ 400 milhões em ações. “O movimento foi seletivo e acima da média do que costuma mos fazer. Aproveitamos o desempenho da bolsa brasileira no período para seguirmos com a estratégia de desindexação, do Ibovespa, da carteira de renda variável de curto prazo”, ressalta o diretor.
Ele explica que dos R$ 18 bilhões investidos em renda variável, entre 35% e 40% está alocado em posições de curto prazo. “Nessa posição de curto prazo, 100% já esteve indexado ao Ibovespa e hoje esse percentual varia entre 60% e 70%. Queremos chegar a 40% nos próximos três anos”, completa Pereira.
Fonte: Brasil Econômico