Produtos mais simples e sob medida ditarão avanço do ramo
Para alcançar expansão além da venda de veículos novos, o setor precisa investir em soluções customizadas e mais enxutas, e torcer para que o projeto de lei que libera o reuso de peças automotivas receba a sanção presidencial
Como de costume, a carteira de automóvel foi destaqueno balanço anual do mercado de seguros. Sustentado, principalmente, pela venda de veículos novos, o ramo obteve receita de cerca de R$ 20 bilhões em 2010, expansão de 15,2% perante o ano anterior. Apesar das medidas do Banco Central (BC) para frear o consumo, o ritmo deve permanecer positivo ao longo deste ano. Os resultados preliminares da venda de veículos novos em março já são superiores aos registrados em fevereiro. Para 2011, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) estima expansão de 5% na comparação com o exercício passado, com um saldo de 3,7 milhões de veículos até o fim do ano. Os dados fazem com que as seguradoras continuem a apostar suas fichas e investir, cada vez mais, na carteira de automóvel.”Este ano está sendo acima das nossas expectativas. Apesar da volta integral do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), o índice de vendas de veículos novos está acima do que esperávamos”, confessa Pedro Pimenta, superintendente de Automóvel da Allianz.
Apesar do retorno do imposto ter estimulado a queda de 14,4% na comercialização de carros comerciais leves em março deste ano perante mesmo período de 2010, segundo dados da Anfavea, o desafio das seguradoras que atuam nesta carteira é alavancá-la sem se sustentar somente neste indicador. Em 2010, a frota brasileira teve incremento de 7,7%, alcançando 34,5 milhões de carros ou dois veículos para cada 11 habitantes, segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito e de renda per capita, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Desse total, o mercado estima que entre 30% e 35% estejam segurados. No entanto, há uma fatia deste bolo que dificilmente fará seguro. Estão inclusos nesta parcela carros de empresas, grandes frotistas e locadoras de veículos, que preferem bancar o seu próprio risco.
Além deste, há outro pedaço, cuja frota é envelhecida, com idade superior a 15, 20 anos e, consequentemente, não faz seguro. “Muita gente se questiona sobre o tamanho deste mercado. O seguro de auto é mal explorado no Brasil e de fato tem um caminho, mas não é tão gigantesco como muita gente pinta”, raciocina Luiz Pomarole, vice-presidente de produtos da Porto Seguro.
Para ele, restam ainda 30% de potenciais consumidores a serem convencidos a contratar um seguro de automóvel. Mas, para conquistá-los, são necessários alguns ajustes que imputam não só tarefas a todos os agentes atuantes na indústria, como vai além do seu escopo de decisão, envolvendo o Governo do País.
Novo capítulo
A obrigatoriedade do uso de peças novas no conserto de carros é um dos principais impasses para um maior desenvolvimento da carteira de seguro de automóveis. Também consiste na principal queixa por parte das seguradoras. É consenso no setor de que o ramo só deslanchará mais quando for aprovado o reuso de peças automotivas. Em diversos casos de perda total do veículo, muitas peças são descartadas como lixo, sendo que as mesmas poderiam ser aproveitadas em outros carros. O presidente da Fenacor e deputado federal Armando Vergilio abraçou o Projeto de Lei 23/11 que disciplina o funcionamento das empresas de desmontagem de veículos automotores terrestres, para a comercialização de suas partes como peças de reposição ou como sucata.”Essa medida possibilitará a redução do preço do seguro de veículos e permitirá a contratação desse tipo de garantia pelos proprietários de veículos com mais de cinco anos de uso”, observa o deputado.
A tramitação da nova proposta, que está sendo analisada pelas comissões de Viação e Transportes; Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio e Constituição e Justiça e de Cidadania,em regime de tramitação “ordinária”, ainda deve demorar um pouco. Outro projeto semelhante foi idealizado pelo já falecido senador Romeu Tuma, aprovado no Congresso no final de 2010 e barrado pelo Executivo no começo deste ano. Mas o setor tem esperanças. “Se isso acontecer, o mercado dará um pulo. Muita gente ainda deixa de fazer seguro por conta do preço. Repor peças novas encarece o prêmio e impede que mais consumidores tenham acesso à proteção securitária”, analisa Marcelo Goldman, diretor Técnico de Massificados da Tokio Marine.
A questão resolve, inclusive, um problema de responsabilidade social e ambiental. Isso porque, atualmente, quando um carro se envolve num acidente e a seguradora alega perda total, os segurados que não tiveram sinistro durante a vigência da sua apólice, as seguradoras concedem atendimentos para a residência, pets, para as crianças, descontos em sites, lojas, peças teatrais, entre outros diversos serviços adicionais. Com isso, as companhias conseguem que o segurado tenha contato com o seguro, garantindo maiores chances da renovação no término de 1 ano. Estima-se que de cada dez segurados, quatro utilizem as assistências oferecidas pelas seguradoras. “Sempre é possível melhorar a oferta de serviços e as coberturas fornecidas. Ao longo dos últimos anos, muitas seguradoras passaram a discutir a cobertura para catástrofes naturais, que até então não era um tema debatido pelo setor”, lembra Rodrigo Lopes, diretor comercial da Lopes & Moretti Seguros.
Também ganham força no setor os produtos desenvolvidos sob medida para determinados públicos. Jovens, mulheres, taxistas, motociclistas, pessoas com necessidades especiais, entre outros grupos de consumidores contam, há bastante tempo, com soluções personalizadas em diversas seguradoras. A SulAmérica, por exemplo, oferta o SulAmérica Auto Zero Km. Além das coberturas e serviços tradicionais, a companhia disponibiliza indenização do valor da nota fiscal do veículo durante toda a vigência do seguro e manutenção do bônus da apólice de seguro anterior por até 90 dias, caso precise esperar o carro novo chegar da fábrica. “Cada vez mais, as pessoas procuram por produtos que se adequem melhor às suas necessidades, buscando serviços que as atendam da maneira mais completa possível”, observa Luis Furtado, vice-presidente da SulAmérica, que acrescenta: “As seguradoras, por sua vez, com o intuito de estarem alinhadas às necessidades do mercado, visam desenvolver produtos mais específicos aos seus clientes”.
Também têm ganhado espaço produtos com prêmios 50% menores que a média do mercado, garantia estendida com cobertura de até 2 anos além do período oferecido pela fábrica, entre outras soluções. A Cardif pretende comercializar no Brasil um seguro denominado GAP. Consiste numa proteção financeira que indeniza o segurado, caso seu veículo seja roubado enquanto ele ainda quita as prestações do automóvel. Outra companhia que pretende apostar neste produto para aumentar a sua participação no mercado nacional é a Indiana. Quem também tem novidade para os próximos meses é a Tokio Marine. Goldman, diretor da companhia, adianta que o produto seguirá a tendência de soluções mais econômico para o público em geral. “É um seguro alternativo e mais competitivo”, resume ele.
Fonte: Revista Apólice