ANÁLISE-Estoques e importações seguram preço do aço no Brasil
Estoques internos elevados e importações crescentes estão obrigando siderúrgicas brasileiras a segurar a mão na definição de seus preços até o fim do ano, o que, na avaliação de analistas ouvidos pela Reuters, pode gerar problemas de lucratividade para as usinas.
O setor, principalmente o segmento de aços planos, vive a curiosa situação de consumo aquecido no país, desde máquinas e equipamentos a veículos e construção civil, sem poder impor aumentos de preços consideráveis em um ano marcado por brutais reajustes nos preços de insumos como minério de ferro e carvão.
Até o final do ano, a expectativa dos especialistas consultados pela Reuters é de que os preços de aço no mercado interno, no geral, se manterão contidos frente a reajustes de mais de 10 por cento no primeiro semestre.
“O mercado está buscando seu ponto de equilíbrio. Estamos em um momento em que ele vai ficar se testando para ver até que ponto a demanda interna assimila mais produção, por exemplo”, disse o analista de siderurgia Antonio Ruiz, do Banco do Brasil.
Ele, inclusive, vê algum espaço para quedas de preços de alguns produtos de aço no país até o final do ano diante das expectativas de recuo no preço do minério de ferro, o que pode dar argumento de barganha para a parte compradora da equação.
“Passamos por uma curva rápida de recuperação de preços no primeiro semestre, mas agora o mercado está mais devagar. O cenário é de oferta sustentando preços interessantes”, comentou.
A analista Cristiane Mancini, da consultoria Lafis, também enxerga siderúrgicas do país pouco à vontade em termos de preço.
Ela calcula que o preço médio do quilo do aço carbono usado em produtos planos utilizados em veículos, eletrodomésticos e indústria naval está em 3,23 reais no atual trimestre e deve avançar para 3,28 reais nos três últimos meses do ano, um incremento modesto de 1,5 por cento.
“Poderia ser de até 3,40 reais, mas há uma série de pressões”, disse ela, referindo-se ao grande volume de importações que continua chegando ao país.
Segundo dados divulgados pelo Instituto Aço Brasil (IABr) esta semana, as importações de aço pelo Brasil em agosto somaram 562,4 mil toneladas, acumulando nos oito primeiros meses do ano 3,8 milhões de toneladas, salto de 156 por cento sobre igual período de 2009.
O volume de aço plano estocado na cadeia distribuidora encerrou agosto em 1,26 milhão de toneladas, equivalente a 3,9 meses de vendas. Essa relação ficou pouco abaixo dos 4 meses de julho, mas bem acima da média histórica de 2,6 meses, segundo dados do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda) mencionados pelo Credit Suisse em relatório a clientes.
“Isso também deve gerar um ambiente de preço de aço mais estável, que tem sido pressionado no mercado doméstico por crescente excesso de oferta gerado principalmente por material importado”, afirmou a equipe de análise do Credit Suisse.
Na avaliação do Credit Suisse, a situação marca expectativa de fracos resultados para as siderúrgicas nacionais neste semestre, apesar dos esforços de empresas como a Usiminas de diversificação de suas atividades para segmentos de serviços.
“Mas podemos estar nos aproximando do fim deste miniciclo. A fixação do mercado sobre o fraco segundo semestre pode criar oportunidade no final deste ano, quando investidores mudarão seu foco para uma potencial recuperação de lucro no primeiro semestre de 2011”, afirmaram os analistas do Credit Suisse.
Enquanto Mancini, da Lafis, fala em “sinal amarelo” para o setor, o analista Rodrigo Ferraz, da corretora Brascan, cita “preocupação reiterada quanto à rentabilidade do setor siderúrgico nacional no segundo semestre deste ano e início de 2011”.
Ferraz estima que o volume de importações de janeiro a agosto absorveu 25 por cento do consumo aparente, que é a demanda interna considerando a produção local mais importações e excluídas as exportações de aço do país no período.
Fonte: O Estado de São Paulo