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Por que algumas mulheres parecem mais jovens que outras

Como é triste! Tornar-me-ei velho, horrível, espantoso. Mas este retrato permanecerá sempre jovem. Se ocorresse o contrário! Se eu ficasse sempre jovem, e esse retrato envelhecesse! Por isso eu daria tudo! Daria até a minha própria alma!”
É com esse pensamento que Dorian Gray, o famoso personagem de Oscar Wilde, vende sua alma em troca de uma eterna imagem jovial, deixando para seu retrato as marcas do tempo. Mas o que parece o sonho de muitos, torna-se um grande pesadelo para Gray.
A vaidade humana já estimulou diversos debates filosóficos sobre padrões sociais de beleza. A eterna busca da juventude e o desejo de muitos de parecer mais jovens do que a idade cronológica movimenta uma gigantesca indústria de cosméticos e afins.
A capacidade humana de estimar a idade, baseando-se apenas na face de uma pessoa, parece ter consequências evolutivas, como por exemplo, durante a escolha do parceiro sexual. Essa estimativa visual tem um apelo social evidente – basta olhar para o bombástico número de propagandas e novos produtos de beleza que prometem retardar o envelhecimento, lançados no mercado constantemente.
Além disso, alguns trabalhos já demonstraram que a idade visual funciona como um biomarcador para diversas doenças, independentemente da idade cronológica (Christensen e colegas, Epidemiology, 2004). No entanto, os fatores responsáveis pela forma como julgamos a idade de uma pessoa pelo seu aspecto visual não são conhecidos. Não sabemos também como a genética e o ambiente contribuem para gerar essa idade visual.
Uma forma de se estudar como fatores físicos da face podem influenciar a capacidade de estimar a idade pelo aspecto visual é por meio de fotografias modificadas. Alterando-se fotografias de pessoas, pode-se focar em determinado aspecto físico (cor do cabelo, composição da pele etc.), eliminando a influência de roupas, gestos ou outros tipos de distração visual ou social.
Recentemente, um grupo de pesquisa internacional estudou a idade estimada por meio da aparência facial em 102 pares de gêmeas dinamarquesas, com idades entre 59 e 81 anos (Gunn e colegas, PloS ONE 2009). O grupo também incluiu outros 162 pares de gêmeas inglesas, com idades entre 45 e 75 anos. Fotografias das faces das irmãs foram apresentadas para observadores neutros, que estimavam a idade de cada uma. Em alguns casos, a idade facial estimada variava consideravelmente entre as irmãs gêmeas, obviamente com a mesma idade cronológica. Para descobrir quais os fatores responsáveis por essa discrepância, os autores geraram imagens sobrepostas das irmãs, procurando pelas diferenças físicas entre as duas.
Algumas dessas irmãs eram gêmeas idênticas (monozigóticas) e, portanto, dividem o mesmo material genético. Outras irmãs que participaram do trabalho eram gêmeas não idênticas, dividindo apenas metade do material genético, como irmãs nascidas em datas distintas. Com esse tipo de ferramenta em mãos, foi possível concluir quais fatores eram influenciados geneticamente, pelo ambiente ou por ambos. As imagens compostas das gêmeas apresentaram algumas diferenças, como a cor da pele e volume dos lábios. As diferenças observadas nas gêmeas idênticas foram classificadas como variações influenciadas pelo ambiente e, nas gêmeas não idênticas, como variações genéticas.
Os resultados da pesquisa mostraram que marcas de expressão na pele, cabelos cinza e volume dos lábios estão significativamente associadas à estimativa da idade visual das mulheres. Cada um desses fatores funciona de forma independente dos outros. A aparência de danos causados pela superexposição a luz solar também influencia a estimativa da idade visual, primariamente pela conexão direta com o surgimento de rugas e dobras na pele.
Imagens criadas a partir de mulheres que pareciam mais novas ou mais velhas do que a idade real indicaram que a estrutura do tecido subcutâneo pode ser parcialmente responsável pela variação encontrada nas estimativas iniciais entre as gêmeas. Análises das características herdadas revelaram que pontos de pigmentação, dobras na pele e danos causados pela luz solar são fatores que podem ter influência equilibrada entre genética e ambiente. Já os cabelos grisalhos, tamanho da testa e volume dos lábios parecem ser exclusivamente determinados pela genética. Cabelos fracos e finos mostraram ter mais influência ambiental do que genética.
Esses dados sugerem que mulheres com aparência mais jovem do que a idade real têm lábios mais volumosos, evitam superexposição à luz solar e possuem fatores genéticos que as protegem contra o surgimento de cabelos cinza e dobras de pele. Os resultados também mostraram que a idade perceptual é um melhor biomarcador de pele, cabelo e envelhecimento da face do que a própria idade cronológica.
Apesar de bem interessantes, existem alguns cuidados que devemos ter antes de afirmar que esses resultados se aplicam a todas as mulheres. Primeiro, a população estudada é restritamente caucasiana e não existe suporte que os dados se aplicariam para outros grupos étnicos. Também não podemos afirmar que os resultados se manterão válidos em outras faixas etárias. Além disso, sabe-se que fatores não estéticos, como o estado civil, classe social e depressão influenciam a estimativa visual da idade em mulheres (Rexbye e colegas, Ageing 2006).

Fonte: O Globo

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