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Previdência independente

Os benefícios fiscais da previdência privada aberta, que ganharam mais relevância com o juro baixo, vêm atraindo novos participantes para o setor. São assets que viram nesse negócio uma oportunidade de ampliar a oferta de investimentos e crescer. É o caso da Leblon Equities, butique especializada em ações, que acaba de fechar parceria com a Icatu Hartford. Casas como Brascan Gestão de Ativos, Modal Asset Management e Quest Investimentos também vêm conversando com empresas de seguros e previdência para entrar nesse mercado, assim como algumas assets estrangeiras.
Do ano passado para cá, estrearam na previdência Gávea Investimentos, BRZ Investimentos e Fram Capital, entre outros. A Credit Suisse Hedging-Griffo (CSHG), apesar de já estar no mercado desde agosto de 2006 em parceira com a Mapfre Seguros, decidiu mudar a estratégia de seus fundos para ganhar mais competitividade. Os gestores independentes, contudo, ainda representam parcela pequena no setor, que hoje reúne patrimônio na casa dos R$ 130 bilhões. Segundo levantamento da consultoria Luz Engenharia Financeira, o volume sob gestão dessas casas chega a R$ 2 bilhões. Mas esse quadro começa a mudar.
“Desde 2005, quando foram firmadas as primeiras parcerias, o mercado evoluiu muito e hoje os planos PGBL e VGBL já são vistos como veículos importantes para compor o portfólio tanto de gestores independentes como de clientes”, diz o diretor de produtos da Icatu Hartford, Luciano Snel. A seguradora, além da Leblon, mantém parcerias com a Fator Administração de Recursos (FAR), o UBS Pactual, a GAP Asset Management e a BNY Mellon ARX Investimentos. Esse número deve crescer muito em breve, conta Snel. “Estamos negociando com mais meia dúzia de empresas”, afirma.
A seguradora do Itaú Unibanco, que já tem fundos de previdência com a Gávea e com a GAP, é outra que vem sendo assediada. “O interesse dos gestores de recursos pela previdência só aumenta”, afirma Eurico Villela, responsável na seguradora por estruturar parcerias para distribuição de fundos de previdência privada com foco na alta renda. “Eles finalmente entenderam que a previdência não compete com os fundos tradicionais, mas agrega valor, especialmente para o planejamento sucessório.”
Tanto o PGBL quanto o VGBL, no caso de morte do titular, não integram inventário. Trata-se de um veículo que garante liquidez rápida para os sucessores – em 30 dias o dinheiro chega às mãos do beneficiário. No campo tributário, a grande vantagem dos fundos de previdência é que, independente da modalidade, não há incidência de imposto sobre rendimentos na fase de acumulação de recursos. No PGBL, para quem faz a declaração de imposto de renda completa, há ainda a possibilidade de abater as contribuições até o limite de 12% da renda bruta anual, diminuindo a base de cálculo. Além disso, pela tabela de imposto regressiva, a alíquota pode chegar a 10% após dez anos de aplicação.
No universo do cliente private, continua Villela, a arquitetura aberta já é uma realidade, uma vez que há demanda por estratégias diferenciadas, oferecidas na maioria dos casos por gestores independentes. “Isso agora está chegando na previdência aberta”, afirma. O executivo ressalta, no entanto, que fundos de previdência geridos por terceiros só estão disponíveis para a alta renda. O tíquete mínimo é de R$ 100 mil para a maioria das carteiras.
O processo para montar uma carteira de investimentos hoje passa não só pela análise dos ativos, mas pela avaliação dos veículos mais eficientes, afirma Snel, da Icatu. “Com o juro baixo, ficou mais claro para o investidor o ganho que a economia fiscal pode criar no longo prazo.” E, assim como os grandes bancos, os gestores também têm clientes de alta renda que buscam otimização fiscal e planejamento sucessório, acrescenta o vice-presidente de Vida e Previdência da SulAmérica, Renato Russo.
Mas não é só. “A atual conjuntura, de juro baixo, leva a uma procura por alternativas de investimento mais arriscadas; seguradoras e bancos veem o gestor independente como alguém que pode agregar valor.” A própria SulAmérica, ao criar a marca Prestige para o segmento de alta renda em agosto, passou a oferecer fundos de previdência diferenciados, como multimercados geridos pela BRZ e pela GAP.
Agregar valor na gestão é a grande aposta da Leblon Equities, conta o sócio Felipe Claudino. A casa, criada há um ano por ex-sócios da Investidor Profissional e ex-executivos do UBS Pactual, é especializada na gestão de ações “small caps”, de baixa negociação. Segundo Claudino, a Leblon olha companhias com menos visibilidade, geralmente esquecidas, sem cobertura de bancos de investimento. Para investir, a gestora precisa conhecer bem a empresa e, em alguns casos, participa dos conselhos de administração e fiscal. “Nossa estratégia casa bem com previdência, dada a visão de longo prazo da previdência, de 10, 20, 30 anos”, afirma.
Nos fundos de previdência, Claudino conta que a Leblon vai replicar a estratégia adotada pela carteira de ações da casa, mas apenas na parcela que pode ser direcionada para renda variável – pela legislação, a exposição máxima em ações permitida é de 49%. “Estamos em um momento histórico para investir em ações, dado o juro baixo”, diz. Ele conta que há clientes grandes da casa interessados em colocar dinheiro no novo fundo que, segundo ele, será o primeiro “small caps” na previdência. Prevista para sair em um mês, a aplicação, voltada para a alta renda, terá aporte mínimo de R$ 20 mil.
Se o horizonte da previdência é de no mínimo dez anos, faz todo sentido ir para aplicações mais arriscadas, com 49% em ações, ativos mais longos, de crédito privado, reforça Marcos Falcão, executivo-chefe da BRZ. “O multimercado do gestor independente é uma das alternativas para se aumentar o risco na previdência”, diz o executivo.
Na visão de Marcelo Stallone, sócio da Gávea, o grande diferencial do independente é a gestão ativa. O mercado muda toda hora e não é só porque o foco da previdência é o longo prazo que o investimento deve ser passivo, argumenta. A Gávea, com cerca de um ano no setor, já conseguiu reunir patrimônio superior a R$ 50 milhões nos seus dois fundos de previdência, um com renda variável e outro sem. Ambos replicam as estratégias do multimercado Gávea Brasil, mas respeitando a legislação.
A Brascan, conta Luiz Carlos Simão, executivo da área de relacionamento com investidores, sempre planejou ter fundos de previdência. “Esse é um mercado com potencial grande, que cresceu muito nos Estados Unidos”, afirma. Primeiro porque as pessoas precisam recorrer à previdência privada para complementar a aposentadoria. No Brasil, em especial, a legislação é bem favorável. Ele destaca, além do efeito da diversificação, justamente as vantagens tributárias e sucessórias. “Esses são diferenciais significativos para quem está olhando o longo prazo.”
Para Simão, a oferta de previdência pelos independentes é um caminho natural, pois o investidor de alta renda já tem dinheiro nessas casas e o relacionamento já existe. Além disso, segundo o executivo, o ambiente atual é favorável a estratégias mais arriscadas, foco dos gestores mais especializados. Na Brascan, o objetivo é oferecer o novo fundo para o próprio cliente. Será mais um fundo na prateleira, mas com o diferencial de ser uma carteira de previdência com a estratégia de um multimercado com ações. “Uma coisa acaba levando à outra.”
A atuação dos independentes, contudo, deve ficar restrita ao segmento private. “Esse é um mercado concentrado em grandes bancos de varejo e, consequentemente, em clientes que aplicam entre R$ 100 e R$ 200”, lembra Eduardo Mendes, executivo responsável pela distribuição de fundos da Schroders no Brasil, gestora especializada em ações que mantém parcerias com as seguradoras do Itaú Unibanco e MetLife. Já o investidor de grande porte, segundo ele, exige o que há de melhor em gestão de recursos e isso, em geral, está fora dos bancos.

Fonte: Seguro em Pauta

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