BB retoma a dianteira
Com um lucro de R$ 2,348 bilhões no segundo trimestre, 42,8% maior que em igual período de 2008, o Banco do Brasil voltou a ser o maior do país em ativos, retomando a coroa do Itaú Unibanco e esquentando ainda mais a concorrência no setor. Os principais motivos para o crescimento foram a forte expansão dos empréstimos e a recuperação dos spreads (diferença entre a taxa de captação e a cobrada do cliente, onde estão embutidos custos e riscos como os de inadimplência). No semestre, o ganho foi a R$ 4,014 bilhões, alta de 0,55%. O resultado virou munição para que BB e governo atacassem os rivais privados, na batalha pela queda dos juros e dos spreads. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a convocar uma entrevista coletiva em Brasília para comentar o lucro. Segundo ele, as instituições vão “comer poeira” se não seguirem o exemplo dos bancos públicos de ampliar o crédito e reduzir os juros: – Se os bancos privados não seguirem o exemplo dos bancos públicos, vão começar a comer poeira. O Banco do Brasil adotou uma estratégia vencedora que está ajudando o país a crescer. Ela mostra que é possível fazer política pública agradando a seus acionistas.
– O banco retomou a posição que lhe é de direito – disse o presidente do BB, Aldemir Bendine, em entrevista que reuniu em São Paulo os principais executivos da instituição.
O BB aproveitou a retração dos bancos privados no auge da crise para ampliar sua participação no mercado de crédito. No fim de junho, sua carteira (sem considerar avais e fianças) somava R$ 252,4 bilhões, alta de 32,8% sobre junho de 2008. No trimestre, o avanço foi de 4,4% – enquanto Itaú Unibanco e Bradesco reduziram sua exposição em 2,5% e 0,10%, respectivamente.
Esse crescimento foi puxado pelos empréstimos à pessoa física, que saltaram 12% no trimestre e 69% nos últimos 12 meses, para R$ 68,47 bilhões.
A incorporação de outros bancos, como o Nossa Caixa, também ajudou a puxar o volume.
“Spreads” subiram de 6,6% para 7,3% ao ano
A intenção do governo de usar os bancos públicos para forçar a queda dos juros e a ampliação do crédito resultou na demissão de Antonio de Lima Neto, em abril, da presidência co BB. A estratégia também foi atacada pelos bancos privados. O presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, afirmou esta semana que os juros do BB eram “insustentáveis” a médio prazo.
– Nossa política de juros é plenamente sustentável e não temos nenhuma preocupação com perdas no futuro – rebateu Bendine ontem.
– Setubal perdeu a oportunidade de não se equivocar e cometeu um erro grave, uma falácia.
Ele falou antes de ver os resultados do Banco do Brasil – disse Mantega. – Os bancos privados deveriam aprender que é melhor lucrar dando mais crédito do que restringir a oferta.
Em evento em São Paulo, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fez coro: – Chegou o momento de os bancos privados tentarem voltar e recuperar terreno para não perder mercado.
Bendine exibiu números mostrando que, embora a média das carteiras tenha crescido de 2,5% para 3,3% nos últimos 12 meses, a inadimplência do BB ficou abaixo da dos concorrentes. O índice do Bradesco, por exemplo, chegou a 4,6%, considerando operações vencidas há mais de 90 dias.
Procurados, Itaú Unibanco e Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) não comentaram o assunto.
À noite, num evento de empresários em São Paulo, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, afirmou: – Estamos vivendo um ambiente competitivo, extremamente excitante. O consumidor tem conseguido várias opções favoráveis.
O viés de baixa dos juros é um fato.
O banco recuperou a média de seus spreads globais, que passaram de 6,6% anualizados no primeiro trimestre para 7,3% em junho. Considerando as operações de crédito, esse índice foi de 9,7% para 10,4%. No segmento de pessoa física, o de maior expansão, o spread passou de 20,5% para 21,2%.
No balanço, o BB explica que a recuperação se deve ao aumento do crédito ao consumo (que passou a responder por mais de 67,6% da carteira total, desbancando a área agrícola) e à redução dos custos de captação – diferença ainda não repassada aos clientes. O BB diz que pesou ainda a incorporação do Nossa Caixa, que cobrava spreads maiores. Separado, o spread do BB no segundo trimestre seria de 6,6%.
Os resultados do BB foram impulsionados também pela venda de sua participação na empresa de cartões Visanet, com ganho líquido de R$ 700 milhões. Com a compra de outros bancos, os ativos totais do BB chegaram a R$ 598,8 bilhões, contra R$ 596,3 bilhões do Itaú Unibanco – cujos ativos caíram por ter emprestado menos e pelo efeito da desvalorização do dólar sobre a carteira em moeda estrangeira. Os números do BB não incluem a associação com o Banco Votorantim (em análise pelo BC), que deverá acrescentar mais R$ 44 bilhões em ativos.
Fonte: O Globo