Juro baixo pode elevar preço do seguro
A estratégia de compensar a queda dos juros com aumento de preços não terá sustentação no longo prazo para as seguradoras, avalia José Rubens Alonso, sócio responsável pela área de seguros da KPMG no Brasil. Para ele, a remuneração menor dos títulos públicos atinge principalmente a rentabilidade do seguro para veículos, segmento em que ele avalia que há concorrência suficiente para limitar esse tipo de compensação via preço.
“Acho que existe concorrência, sim, para limitar a alta dos prêmios. Ås vezes, há até guerra de preços (nesse segmento).” O fato é que muitas seguradoras não são lucrativas ou apenas “empatam” em termos operacionais. Assim, elas dependem do resultado financeiro para permanecer no azul, o que fica mais difícil agora que a Selic está a 8,75% ao ano.
Segundo informações do setor, já houve um aumento de preços para o seguro de automóveis, entre 8% e 12% no Estado de São Paulo nos últimos 12 meses. A razão principal seria para recompor as margens de rentabilidade.
Diante do cenário de juros mais baixos, Alonso diz que o setor de seguros no Brasil terá de passar por uma verdadeira mudança cultural em termos de risco e perfil de investimento, depois de passar anos aplicando confortavelmente suas reservas apenas em títulos públicos.
Para dar um exemplo, o sócio da KPMG comenta que, ao se analisar a alocação das ofertas públicas de ações ou títulos de dívida no Brasil, percebe-se que a participação das seguradoras nessas operações é praticamente nula. “Isso tende a se modificar gradualmente”, afirma.
Em um primeiro momento, segundo Alonso, as seguradoras devem procurar títulos de crédito privado, como debêntures e outros papéis de dívida, para diversificar os investimentos. Em algumas operações recentes, como a emissão de debêntures da operadora Oi, de quase R$ 3 bilhões, algumas seguradoras já participaram. O passo seguinte será “engordar a carteira de ações”, a exemplo do que fazem as seguradoras em todo mundo.
Mesmo com a crise, as seguradoras mundiais projetam crescimento dos seus negócios no próximo ano, seja organicamente ou via aquisições, o que indica que as ações das empresas do setor podem estar sendo indevidamente punidas pelo mercado. A conclusão é de uma pesquisa da KPMG e da Economist Intelligence Unit sobre o setor, que ouviu 315 executivos do ramo de seguros em 49 países.
Conforme o estudo, tanto o caso da AIG como o fato de os investidores associarem o setor de seguros com o segmento financeiro de forma geral contribuem para uma visão negativa do segmento, que não é compartilhada pelas pessoas que comandam a área.
A pesquisa revela que 55% dos entrevistados mostram otimismo, ainda que moderado, para o crescimento dos negócios organicamente nos próximos 12 meses. Em relação à expansão por meio de fusões e aquisições, 53% têm expectativas positivas.
Segundo Alonso, o problema ocorrido com a AIG foi algo muito específico da própria empresa, que não pode ser extrapolado para o setor como um todo. “Esse é um caso isolado. Foi uma escorregada no desenho estratégico”, afirma, citando as operações com derivativos de crédito.
Na visão dele, as seguradoras que estão bem posicionadas financeiramente estão vendo na crise uma oportunidade para crescer, especialmente por meio de aquisições. “Os ativos estão mais baratos, o que reduz o custo de entrada em novos mercados”, afirma.
Fora isso, Alonso lembra que os juros estão muito baixos no mundo todo, o que reduz o custo de oportunidade. Desta forma, se a seguradora não consegue rentabilidade nos investimentos tradicionais, ela acaba sendo incentivada a fazer negócios, comprando outras empresas. “O mercado passa por um movimento de consolidação em todos os setores, e com as seguradoras não é diferente”, afirma o especialista.
Conforme o sócio da KPMG, passado o solavanco gerado pela crise e a atual fase de acomodação do mercado, a perspectiva é de aquecimento das fusões e aquisições no setor, seja no Brasil ou no exterior. “É que esses negócios demoram acontecer”, afirma.
Aqui no Brasil, esse movimento já começou e também tem o incentivo das regras mais rígidas sobre solvência da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Entre as operações recentes, destacam-se a aquisição de 50% da Mongeral pela empresa holandesa Aegon, a venda de 50% da Marítima para a Yasuda, a compra da Indiana Seguros pela Liberty e a aquisição da Minas Brasil pela suíça Zurich.
Para o futuro, atenção para o Banco do Brasil e sua seguradora Aliança do Brasil, que pode buscar uma parceira privada. (Colaborou Altamiro Silva Júnior)
Fonte: Valor