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Budapeste, entre os duplos e os espelhos

Nada mais pessoal do que um texto assinado. Mas o que dizer de alguém que escreve nas sombras, para que outro receba o mérito do seu trabalho? É a vida do ghost-writer, esse ser paradoxal, que Chico Buarque escolheu como protagonista de Budapeste, romance que agora chega às telas sob direção de Walter Carvalho. “É um filme de duplos e de espelhos”, diz Walter na longa conversa que teve com o Estado.
Veja também: Veja o trailer do filme Budapeste
E, de fato, se esse é o espírito do livro, ele está lá no filme, só que em outra linguagem. Costa é o ghost-writer vivido por Leonardo Medeiros, casado com a apresentadora de TV Vanda (Giovanna Antonelli). Ele vive nas sombras; ela, exposta na casa das pessoas através da telinha. Costa vai à Hungria, para um congresso de escritores anônimos. Conhece outra mulher, Krista (a húngara Gabriella Hámori). Apaixona-se. Pela mulher e pelo idioma. Há outra vida lá, às margens do Danúbio, bem diferente daquela a que ele se acostumou, à margem do Atlântico, no Rio. Em Budapeste, ele se torna Kósta. Dois nomes, duas identidades. Duas mulheres. Duas cidades. Budapeste é, também, se poderia dizer, um filme de paralelismos e simetrias. Foi um trabalho cinematográfico de porte, um desafio, como conta Walter que assina seu primeiro longa solo de ficção. Antes, ele havia feito Cazuza – o Tempo Não Para, em parceria com Sandra Werneck, e documentários como Janela da Alma (com João Jardim) e Moacir Arte Bruta. Agora, teve de filmar num país estrangeiro e em idioma bastante difícil, para não dizer intransponível, para brasileiros. Leonardo Medeiros, o protagonista, teve de decorar suas falas, muitas delas longas, numa língua da qual nada compreendia no início, no meio e no fim das filmagens.”Grande ator”, encanta-se Walter. “Porque para dizer uma fala é preciso interpretar, há um gestual que acompanha o significado, a emoção do que se diz, e eu não sei como ele fazia isso, sem compreender nadinha do que falava.” Pois é, Budapeste é assim – falado em húngaro boa parte do tempo. Claro, o filme poderia ter optado pelo caminho fácil das produções comerciais, nas quais não existem barreiras linguísticas. O cidadão sai de um país e chega a outro já falando perfeitamente o idioma estrangeiro. Ou, então, todos se entendem muito bem em inglês, o esperanto contemporâneo. “Mas então não seria Budapeste”, diz Walter.

Fonte: O Estado de São Paulo

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