Itaú Unibanco acelera fusão e fortalece as provisões
As mudanças culturais já são visíveis no novo banco, segundo o presidente Roberto Setubal: os vice-presidentes vão compartilhar uma sala comum
Os resultados caíram em comparação com 2007 em boa parte por causa dos ganhos extraordinários obtidos com a venda de ativos que inflou os números daquele ano mas também por causa da deterioração do cenário econômico do último trimestre de 2008, provocada pela crise internacional, afirmou o presidente executivo do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, ontem.
A integração dos dois bancos está em ritmo acelerado. Setubal informou ao Valor que, até meados de março, serão divulgados os nomes dos dos diretores executivos e diretores gerentes de 80% das áreas do banco. Esse segundo escalão, composto por quase duas centenas de executivos, foi definido pelos onze membros do comitê executivo que forma o primeiro pelotão de comando, definido no fim de dezembro.
Apesar de a fusão ter sido aprovada pelo Banco Central (BC) na semana passada, várias providências administrativas já vinham sendo tomadas. Algumas semanas após o anúncio da fusão, foi criado o comitê de integração, auxiliado por 18 subcomitês que cobriram todas as áreas dos bancos.
A integração avançou mais rapidamente nas áreas menos complexas tecnologicamente. Apesar disso, desde 29 de janeiro, a rede de caixas eletrônicos dos dois bancos foi integrada, permitindo seu uso por clientes dos dois bancos.
As primeiras áreas cujo comando foi definido foram as do banco de investimento, o Itaú BBA, e da corretora de valores, a ele subordinada. Cerca de 100 profissionais foram demitidos nesse processo.
O presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco, Pedro Moreira Salles, afirmou que parte das demissões é resultado da retração dos negócios nessa área. “Se o mercado estivesse crescendo, isso não seria necessário. É provável que não haja um único IPO neste ano. “, disse Moreira Salles ao Valor, acrescentando que, mesmo que não tivessem se fundindo, Itaú e Unibanco teriam feito ajustes nos quadros desses setores.
Ainda nesta semana serão divulgados o segundo escalão do private banking e da administração de recursos. Em abril, as três tesourarias serão unificadas. E, ainda neste ano, será definida a integração de algumas áreas de varejo como a financeira, financiamento de veículos, crédito imobiliário e seguros. Setubal antecipou que a Taií deverá ser incorporada à Fininvest.
A integração gera grande expectativa de demissões. Setubal apenas reafirmou esperar que a rotatividade deve ser suficiente para o ajuste. Os dois bancos juntos têm 108 mil colaboradores e “turn over” de 10 mil pessoas.
As áreas que demorarão mais a serem integradas são as que dependem mais intensamente da tecnologia como a rede de agências, o que pode levar de dois a três anos.
Sinal evidente de que a integração vem sendo bem sucedida é o fato de que, a partir de abril, todo o comitê executivo de onze membros, formando pelos vice-presidentes do Itaú Unibanco, estará reunido em uma única sala, junto com Setubal e Moreira Salles.
A nova sala conjunta do alto comando do banco vai ocupar o nono andar do prédio da Itaúsa, onde ficava Olavo Setubal. “Essa é uma importante mudança cultural no banco, influência do Unibanco”, reconheceu Setubal. De fato, até então, no Itaú, os vice-presidentes possuiam salas individuais.
Setubal afirmou que há vantagens em conduzir a integração nesse momento: “O custo de oportunidade de ficar voltado para dentro é mais baixo”.
Se os dois bancos estivessem fundidos desde o início de 2008, o lucro líquido consolidado teria sido de R$ 10,004 bilhões, o maior já registrado por uma instituição financeira brasileira, mas 16% inferior aos R$ 11,921 bilhões que os dois teriam somados em 2007. Excluídos os efeitos extraordinários dos dois anos, o lucro teria ficado em R$ 10,571 bilhões, 8,1% maior do que os R$ 9,779 bilhões de 2007.
Mas o lucro contábil, que leva em conta só os dois meses em que os bancos já estavam efetivamente juntos (novembro e dezembro), ficou em R$ 7,803 bilhões, 7,9% menor do que o de R$ 8,478 bilhões de 2007.
Os ativos consolidados do Itaú Unibanco somaram R$ 632,7 bilhões ao final de dezembro de 2008. A carteira de crédito, incluindo avais e fianças atingiu R$ 271,9 bilhões, com crescimento de 33,9% quando comparado a 31 de dezembro de 2007. A carteira de crédito livre, pessoa física atingiu R$ 93,2 bilhões; o segmento de micro, pequenas e médias empresas, R$ 52,6 bilhões e o de grandes empresas; R$ 100,8 bilhões.
O banco fez provisões adicionais para operações de crédito no montante de R$ 4,7 bilhões, considerando o ambiente econômico atual. Setubal afirmou que a inadimplência na pessoa física, que está em 8,1% vai superar o recorde histórico de 8,4% de maio de 2002.
Fonte: Valor