Aperto financeiro estimula fusões e aquisições no País
O ano começou fraco para o mercado de oferta de ações, refletindo a retração no apetite dos investidores pela compra de papéis e a indisposição das companhias para se desfazer de ações por valores módicos. Tradicionalmente fraco, janeiro não registrou sequer uma oferta pública inicial de ações (IPO) no mercado mundial, conforme levantamento da Thomson Reuters. Já as ofertas subsequentes (follow-on) não tiveram atuação dos chamados bookrunners, intermediadores financeiros responsáveis por rodar os livros de definição de preço.
Entretanto, o mercado de fusões e aquisições promete se manter aquecido, pelo menos no Brasil, dando continuidade aos processos iniciados no ano passado. O volume de M&A (fusão e aquisição, na sigla em inglês) foi de US$ 164,64 bilhões no mundo todo em janeiro de 2009, sendo US$ 13,13 bilhões na América Latina. Apesar de considerável, o total global representa uma retração de 5,21% em relação aos US$ 173,68 bilhões de igual mês do ano passado.
Assim como no quarto trimestre, o Brasil despontou com um ritmo mais acelerado que o mundial. O volume de fusões e aquisições supera o montante registrado em janeiro de 2008 em 38,34%, para US$ 9,83 bilhões. No ano passado, o número de negócios foi consideravelmente maior – 69 transações contra 33 este ano -, mas o valor ficou em US$ 7,1 bilhões.
As transações envolvendo empresas brasileiras definiram o ranking de intermediadores na região latina – os negócios fechados por Estáter Gestão e Finanças e Citibank colocaram as instituições empatadas na primeira posição local e regional. Nas transações envolvendo empresas brasileiras, o Santander também divide a liderança, já que as três instituições financeiras estiveram envolvidas nas mesmas operações.
Os dois principais negócios firmados no início do ano envolveram principalmente aumento de participação no capital de empresas já investidas. Este foi o caso da negociação da Camargo Corrêa, que elevou em 14,3% sua participação na empresa de energia CPFL, transação de cerca de R$ 2,5 bilhões. O outro negócio foi a compra de 28,03% do capital votante da Aracruz pela Votorantim Celulose e Papel (VCP), que já era acionista da companhia. O acordo assinado com as famílias Lorentzen, Moreira Salles e Almeida Braga envolveu R$ 2,71 bilhões, incluindo um suporte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Também a compra do Banco Votorantim pelo Banco do Brasil, já aguardada pelo mercado, acabou sendo finalizada no início de janeiro, por R$ 4,2 bilhões.
Instinto de sobrevivência
A estimativa do mercado é que, com os custos maiores de captação, as restrições de crédito e o desaquecimento no consumo, as fusões e aquisições continuem entre as principais alternativas de fortalecimento e mesmo de sobrevivência das companhias. “No começo da crise, muitas empresas cancelaram negócios pela redução nos múltiplos mas, com o passar do tempo e os impactos negativos aparecendo nos balanços e no fluxo de caixa, começam a rever as propostas de capitalização”, pondera Rodrigo Pasin, sócio da Value Consultoria, que assessora empresas em processos de M&A e IPO. “Os valores mais baixos começam a se tornar aceitáveis por uma questão de sobrevivência.”
Apesar disso, Pasin acredita que o mercado deva registrar uma redução entre 5% e 15% em relação ao ano passado, que teve volume recorde. A estimativa é que aumentem as transações envolvendo fundos de private equity. “Estes fundos estão muito requisitados agora que osbancos estão com as torneiras fechadas para suprir a necessidade de financiamento”, diz o executivo. Na sua avaliação, os setores que devem despontar no processo de consolidação este ano são aqueles com modelo de receita estável, como faculdades, planos de saúde e odontologia e agronegócios.
Fonte: Gazeta Mercantil