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Drible na crise

Os fundos de investimento voltados para a gestão de recursos dos planos de previdência aberta PGBL e VGBL encerraram 2008 entre as poucas modalidades do setor com desempenho favorável. Dados do site financeiro Fortuna apontam que, entre aplicações e resgates, o saldo foi positivo em R$ 11,1 bilhões, enquanto o setor de fundos de investimento como um todo teve resgate líquido superior a R$ 46 bilhões. O patrimônio líquido da categoria de previdência cresceu 20% no ano passado, chegando a R$ 111 bilhões em dezembro. O número não inclui os planos tradicionais de previdência e outros investimentos das seguradoras.
O ritmo de crescimento da previdência privada diminuiu ao longo do ano com a deterioração do mercado financeiro global, especialmente após a quebra do banco americano Lehman Brothers em 15 de setembro. Em outubro, mês em que a crise se agravou e o Índice Bovespa caiu 24%, a captação líquida acumulada no ano fechou 11% menor que no mesmo período de 2007. Em novembro, a captação acumulada piorou, e fechou 18% abaixo que a do ano anterior. Já em dezembro, os investidores voltaram e o segmento encerrou o ano com uma queda menor, de 15,2% sobre os R$ 13,1 bilhões de 2007.
Em dezembro, mês sazonalmente melhor para a previdência devido às vantagens fiscais dos PGBLs, os fundos mostraram uma certa recuperação ao registrar uma captação líquida de R$ 2,6 bilhões, volume pouco inferior aos R$ 2,7 bilhões registrados no mesmo mês de 2007. Quem tem plano PGBL geralmente aproveita a ocasião para abater as contribuições (até o limite de 12% da renda tributável) do imposto de renda (IR).
“A previdência privada vinha numa toada muito forte até o primeiro semestre”, diz afirma o vice-presidente de Vida e Previdência da SulAmérica, Renato Russo. “Mas, com o aumento da turbulência especialmente a partir de setembro, as contribuições (formadas apenas pelos recursos aplicados) caíram, refletindo-se numa taxa de crescimento menor em 2008”. O crescimento das aplicações, segundo Russo, deve ter ficado abaixo de 15% no ano passado. A Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) ainda não divulgou os dados consolidados de 2008. Mas no ano até novembro os aportes somaram R$ 27,3 bilhões, uma expansão de 12,7%. Levando em conta apenas o mês de novembro, foi registrada queda superior a 17% nas contribuições.
As incertezas levaram o investidor a ser mais cauteloso na tomada de decisões que exigem horizonte de mais longo prazo como a previdência, avalia o executivo. “As pessoas seguraram o caixa para o caso de precisarem de dinheiro”, diz Russo. O presidente da Fenaprevi, Antonio Cássio dos Santos, afirma que, além de os clientes terem adotado a estratégia de esperar o pior da crise passar para se posicionar, em novembro foi verificado um volume maior de resgates para pagamento de dívidas. Isso acabou diminuindo o volume de captação líquida.
O diretor de investimentos da Brasilprev, Renato Donatello, lembra que o impacto da crise na previdência se limitou a provocar uma redução do ritmo de expansão, que ainda assim foi bastante forte. “A indústria não perdeu dinheiro, como algumas categorias de fundos”, afirma. O executivo não descarta o impacto psicológico da crise, levando à mudança de comportamento do participante, mas também atribui a menor velocidade de crescimento da previdência, em certa medida, à concorrência proporcionada por outras alternativas de investimento, como os CDBs, que passaram a pagar taxas bastante atraentes.
Só a captação líquida dos fundos de previdência em 2008, segundo o Fortuna, foi responsável por um crescimento do patrimônio líquido do setor da ordem de 12%. E essa tendência deve permanecer ao longo de 2009. Os executivos apostam em taxas de crescimento de dois dígitos. Russo, da SulAmérica, estima algo entre 10% e 15% de expansão. “Se as pessoas estão consumindo menos por conta da crise, elas tendem a poupar mais e os fundos de previdência são bastante competitivos por conta dos benefícios fiscais”, acredita Santos, da Fenaprevi e também presidente da Mapfre Seguros.
Para Donatello, da Brasilprev, o crescimento, de dois dígitos, será estimulado pela maior participação da previdência entre as alternativas de investimento das pessoas. “Nós entendemos que a indústria de previdência está para a população como uma provedora de soluções para a realização de projetos de vida futuros”, afirma. Os fundos de previdência vêm crescendo em popularidade, na visão do diretor da Brasilprev, por conta da característica de ser uma alternativa de poupança de longo prazo. “Não se mexe na previdência como num fundo de investimento tradicional”, ressalta. Ele cita que atualmente a opção predominante dos clientes de previdência é pela tabela regressiva de imposto de renda, confirmando a visão de longo prazo que tem hoje o participante.
Do lado das seguradoras, a habilidade para direcionar os esforços comerciais para a oferta de planos mais conservadores, diante da deterioração dos mercados, foi determinante para o crescimento do setor, avalia o diretor do site Fortuna Marcelo DAgosto. “Os números mostram que houve uma mudança radical no perfil de investimentos”, diz. Segundo o levantamento do site, dos R$ 11,1 bilhões de captação líquida em 2008, 83% foram destinados aos fundos DI e de renda fixa. Em 2007, ocorreu o inverso: 89% das contribuições foram aplicados em carteiras balanceados (com uma parcela destinada a ações) e em multimercados.
Esse movimento foi impulsionado pela rentabilidade dos fundos, acredita DAgosto. Enquanto que os balanceados e multimercados registraram, na média, retorno negativo de 5,345% em 2008, os fundos conservadores (renda fixa e DI) renderam 9,81%. Russo, da SulAmérica, ressalta que o percentual de recursos do setor aplicado efetivamente em ações é pequeno, girando em torno de 3%. Poderia ser maior, na opinião dele, uma vez que os papéis estão bastante depreciados.
“A bolsa hoje é uma bela oportunidade”, diz o executivo da SulAmérica. A população que contribui para a previdência é relativamente jovem, com um prazo de acumulação pela frente longo, o que significa que ela pode esperar pela maturação dos investimentos, avalia. Para ele, assim que a taxa de juros começar a cair, as pessoas vão refletir melhor sobre as estratégias de investimento. Donatello, da Brasilprev, também entende que há boas oportunidades de investimento em ações. “A tendência é de recuperação dos mercados, especialmente da bolsa, só não conseguimos saber em que espaço de tempo”, afirma o executivo, acrescentando que o julgamento da melhor estratégia deve ser sempre do cliente.
DAgosto, do Fortuna, informa ainda que os fundos de previdência com taxas de administração mais baixas lideraram a captação líquida de recursos em 2008, o que mostra mais uma vez a habilidade das seguradoras para atrair clientes. As carteiras com taxa de administração de até 1,5% ao ano tiveram uma participação de 74% no fluxo de recursos do setor, enquanto que os fundos que cobram mais que isso atraíram 26% do total.

Fonte: Valor

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