Mercado de resseguros está aberto: e agora?
Muito se tem festejado a abertura do mercado ressegurador no Brasil. Muita expectativa foi criada em relação às mudanças nos processos e nos novos custos das operações de resseguro, no âmbito de um mercado aberto, assim como nas repercussões práticas para as seguradoras e os segurados brasileiros. Além disso, quais novos produtos de seguro e coberturas de risco que as resseguradoras internacionais, com conhecimento secular, poderiam trazer ao Brasil?
Diante dessa expectativa, surgem algumas questões: o mercado brasileiro está efetivamente preparado para absorver todos os novos produtos e cumprir com as exigências e demandas que um mercado aberto e competitivo de resseguros traz?
A experiência e a tecnologia aplicada em gestão de riscos nas empresas mundiais não possuem fronteiras; hoje, é analisada a exposição de riscos dessas empresas em um contexto global, podendo-se encontrar custos mais ou menos elevados na cobertura de determinado risco. Mas, no Brasil, as empresas estão realmente preparadas para identificar e avaliar de forma efetiva seus riscos? Suas bases de dados históricas estão íntegras para demonstrar suas experiências e exigir precificação sob medida?
Entender o mercado ressegurador e suas necessidades traz vantagens competitivas para as seguradoras e os segurados, pois isso possibilita melhoria no processo de tarifação de prêmios, na captação e cessão do risco, bem como fomenta operações e, consequentemente, auxilia na gestão do risco.
Hoje, as resseguradoras atuam no Brasil de três formas distintas: resseguradoras eventuais, admitidas ou locais, possibilitando que a administração de seu portfólio de riscos seja realizada sob diferentes perspectivas técnicas, mas seguindo as normativas expedidas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) e pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP). Há resseguradoras que optaram por ingressar no mercado local com mais de uma forma jurídica, ou em diferentes locais, pois esperam, dessa forma, melhorar sua gestão de risco e aumentar sua capacidade de retenção.
Com a abertura do mercado de resseguros, as seguradoras têm como desafio nos próximos anos alguns assuntos importantes, como a convergência das normas contábeis locais, elaboradas pela Susep para os padrões contábeis internacionais (Normas IFRS) e a implementação das regras de capital baseadas em riscos denominada Solvência II. Aliás, essas regras podem conduzir a exigências de diferentes níveis de capital e/ou diversificação de riscos, os quais poderão ser gerenciados pela escolha adequada de ramos de atuação. Nesse caso, a estratégia de resseguro e de cessão de risco têm papel fundamental.
O mercado brasileiro já opera os produtos/contratos de resseguro tradicionais, como excesso de danos, proporcionais e não proporcionais, excedente de responsabilidade e limite de danos; no entanto, em âmbito internacional, há outros produtos e processos de resseguro que ainda não são praticados no País.
Uma boa estratégia de resseguro pode conduzir, inclusive, ao aumento do limite de retenção de risco das seguradoras, que, atualmente, enfrentam uma mudança no perfil de carteiras. Observa-se no mercado imobiliário, por exemplo, a presença de bens de valores superiores aos habitualmente cobertos, o que altera as importâncias seguradas e traz impactos na análise de acúmulo de risco para regiões mais valorizadas. Até mesmo as mudanças nos padrões brasileiros afetam diretamente o mercado segurador, pois em uma moradia pode haver bens de cobertura, cujos valores indenizáveis superam as cifras dos milhares de reais.
Há, também, carteiras de seguros ainda pouco conhecidas e de reduzido volume no Brasil que, com o desenvolvimento econômico e os novos riscos aparentes, passarão a ser mais procuradas, como é o caso da cobertura D&O (Directors e Office -seguro de responsabilidade civil para executivos). Nesses casos, a experiência mundial será fundamental no início de uma operação local.
A adaptação do mercado segurador brasileiro às amplas mudanças que se afiguram é evidente, envolvendo a avaliação de novos riscos e processos de avaliação mais sofisticados, a adaptação às novas regras contábeis, a regulamentação de solvência até mesmo o novo sistema de escrituração contábil eletrônica denominado Sped Contábil.
Nota-se, então, que todas essas mudanças impactam diretamente as seguradoras e as resseguradoras. Dessa forma, a demanda por uma mudança cultural nas corporações, assim como uma maior transparência das atividades do setor será fundamental nesse novo cenário de mercado aberto.
Fonte: Gazeta Mercantil