Aperto no crédito deve retrair seguro rural
Atravessando o melhor ano desde a sua retomada em 2005, estimulado pelo programa de subvenção ao prêmio, o setor de seguros rurais pode sentir os efeitos do aperto global no crédito e não repetir a dose em 2009. O consenso entre os especialistas do setor é de que o governo federal precisa estimular a oferta de crédito e garantir a renda do produtor. Outro pilar considerado importante para sustentar o crescimento do setor é o fundo de catástrofe, que ajudaria as seguradoras em caso de problemas climáticos.
Dados do Ministério da Agricultura mostram que, até 10 de outubro, o governo já repassou R$ 98,7 milhões ao programa de subvenção num total de 36 mil apólices. O número é 61,8% maior que todo valor contratado no ano passado, que consumiu R$ 61 milhões em subvenção. Nos últimos dois anos, o programa apresentou um crescimento médio de 55,5% e estimulou a entrada de novas seguradoras no setor. Produtores ainda reclamam que os contratos das empresas não refletem a realidade sobre a média de produtividade, mas são unânimes em dizer que o mecanismo é importante para o setor.
“Nossa expectativa é que os R$ 160 milhões ofertados para o programa sejam consumidos”, prevê Eustáquio Mesquita de Sant?Rana, coordenador geral de seguro rural do ministério da Agricultura. Ele não acredita que a crise afetará o programa e diz que o governo pode aumentar para R$ 270 milhões a subvenção em 2009.
Mas, para o economista da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Pedro Loyola, é necessário que a cobertura seja estendida para culturas com maior risco para continuar crescendo no estado, como é o caso do feijão. O Paraná foi o líder em contratação de seguro no ano passado, consumindo R$ 22,3 milhões em subvenção. A área segurada atingiu 25% do total, cerca de 1 milhão de hectares. O Rio Grande do Sul, segundo colocado, contratou seguro para 60 mil hectares. “Além de garantia de crédito, precisamos aprofundar as discussões sobre o fundo de catástrofe”, ressalta Loyola.
Wady Cury, diretor técnico da Companhia de Seguros da Aliança do Brasil, maior seguradora da safra de grãos brasileira, afirma que a crise pode afetar diretamente o setor. “Mas precisamos esperar o cenário ficar mais estável para compreender melhor as coisas”. A importância segurada pela companhia na safra de verão cresceu 120% neste ano, atingindo R$ 2,9 bilhões. A soja responde por 60% desse total. Cauteloso, ele explica que caso sejam utilizados os R$ 270 milhões em subvenção no próximo ano, a importância segurada atingiria R$ 14 bilhões.
Geraldo Mafra, diretor comercial da Seguradora Brasileira Rural (SRB), líder em seguro para a fruticultura, explica que o setor de frutas não deverá ser tão impactado com a crise. Mas afirmou que é dependente de crédito como qualquer outro setor da agricultura. “Não tanto como quem planta grãos. Na fruticultura as áreas são menores”. No ano passado, a companhia recebeu R$ 9 milhões em prêmio e cobriu uma importância total de R$ 100 milhões. “Para este ano, esperamos crescer entre 20% e 30%”, afirma Mafra. Ele destaca que o fruticultor já tem a noção que o dinheiro do seguro não é para pagar toda a produção. “Eles sabem que, em caso de quebra, pelo menos as dívidas serão pagas”.
Fonte: Gazeta Mercantil