Mercado de SegurosNotícias

A crise e as seguradoras brasileiras

A cada dia que passa aparece um escândalo novo, um estouro inadiável, e mais alguns bilhões de dólares são jogados na fogueira da crise internacional que tem seu epicentro nos Estados Unidos. Não cabe aqui analisar as razões que deram no buraco que cresce vertiginosamente, como as crateras das ruas paulistanas, engolindo tudo em volta e reduzindo empresas e pessoas a pó.
A questão que se coloca é se seria possível uma seguradora brasileira desmoronar como aconteceu com a AIG, a maior seguradora americana e até há alguns anos uma das três maiores empresas financeiras do mundo, por valor de mercado.
Durante décadas esta companhia foi sinônimo de boa administração, solidez, visão estratégica, capacidade de fazer negócios e descoberta de novos nichos, o que a colocava num patamar diferenciado em relação a boa parte da concorrência, inclusive logo depois do 11 de setembro, quando ela foi uma das responsáveis pelo pagamento de grande parte das indenizações e mesmo assim deu lucro no final do exercício.
De repente, na esteira de uma onda de quebradeiras mais ou menos esperadas, o governo norte-americano empresta 85 bilhões de dólares para evitar a sua quebra. A rapidez com que a empresa se deteriorou é espantosa e mostra que, no mundo atual, o que era bom até ontem pode ser insuficiente hoje e inexistente amanhã.
Mostra também que os controles das autoridades norte-americana estavam muito frouxos e que o que acontecia no mercado passava ao largo de sua percepção, evidenciando negligencia na preservação de boa parte do patrimônio nacional, representado por ações, títulos e apólices dos mais variados tipos, sob administração de bancos, seguradoras e gestoras de patrimônios, mais focados nos bônus de seus administradores do que no futuro de seus clientes.
Por outro lado, uma comparação com a atuação das autoridades brasileiras, pelo menos no campo dos seguros, previdência complementar aberta e capitalização, mostra um quadro radicalmente diferente, que também forma um cenário diferente, com as empresas nacionais apresentando situação de solvência e solidez incomparável com o retrato atual da economia norte-americana.
Aliás, de acordo com as regras de controle e solvência em vigor no Brasil, dificilmente uma empresa sob supervisão da Susep teria condições de mascarar um quadro negativo por tanto tempo, ainda mais na ordem de grandeza que vai explodindo nos Estados Unidos.
Faz vários anos que não acontece a quebra de uma seguradora de porte.
Algumas pequenas apresentaram problemas e foram liquidadas, mas não causaram estrago maior no mercado. Em primeiro lugar, pela falta de dimensão de suas operações. Em segundo, porque o mercado sabia da situação destas empresas e de como elas operavam. E, em terceiro lugar, porque a Susep atuou de forma eficiente entre a identificação do problema e a implementação das soluções para saná-lo.
As atuais regras de controle e solvência das seguradoras, empresas de previdência privada aberta e empresas de capitalização brasileiras são rígidas e permitem pouca margem de manobra para eventuais gestores mal intencionados. Com a obrigação da apresentação mensal das demonstrações das diferentes reservas e dos negócios realizados, bem como a comprovação das aplicações feitas em títulos predeterminados, o mercado funciona de forma positiva, no sentido de preservar a saúde destas empresas, protegendo seus ativos e seus segurados contra atos de gestão temerária.
Como a maior parte das aplicações dos ativos vinculados destas companhias é obrigatoriamente feita em títulos da dívida pública ou do tesouro federal, a não ser que o governo brasileiro pare de honrar seus compromissos, não há como acontecer por aqui uma situação parecida com a norte-americana.
Assim, no estágio atual em que o Brasil se encontra, ninguém precisa temer uma quebradeira de seguradoras, capitalizações e previdências privadas abertas. Ela está longe de acontecer.

Fonte: O Estado de São Paulo

Falar agora
Olá 👋
Como podemos ajudá-la(o)?