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Análise: Inflação pára de dar susto e juro cai

Se a inflação pára de surpreender o mercado, é como se já estivesse em desaceleração. Perceptivelmente, não está. Não dá para garantir que o pior já passou. Mas para os analistas que despendem grande parte de suas energias profissionais na tarefa de predizer os movimentos futuros dos índices de inflação, o inferno das últimas duas semanas – quando, sucessivamente, um a um, todos os índices brasileiros (e, praticamente, não há dia útil sem divulgação de indicador) teimavam em desafiar a competência divinatória dos especialistas e estacionavam em degrau acima do antevisto por eles – parece ter acabado. Não se sabe bem, contudo, se isso ocorre porque a inflação está perdendo ímpeto ou se, cansados de apanhar dos índices, os economistas resolveram chutar lá em cima. O fato é que tanto o IPC Fipe quanto o IGP-10 vieram abaixo dos prognósticos. Mesmo muito altos, isso já foi suficiente para provocar nova rodada de queda nos juros futuros.
O IGP-10 relativo a junho não pode, por si mesmo, ser comemorado . Fechou o período em alta de 1,96%, em aceleração comparativamente ao de maio, quando subiu 1,52%. E passou a acumular no ano 6,51% e em 12 meses nada menos que 12,71%. Apesar disso tudo, esse 1,96% foi recepcionado com um sorriso de vingança, afinal a maior parte dos analistas previa algo entre 1,98% e 2,2%. No caso da inflação, se não for possível acertar na mosca, será melhor errar por excesso do que por escassez. E a segunda prévia do IPC Fipe, de 1,26%, igualmente muito elevado mas em queda em relação ao 1,3% da primeira prévia, veio em linha com a mediana das expectativas. E o DI caiu em todos os contratos, até mesmo nos mais longos, que ontem não conferiram relevância à recaída sofrida pela crise financeira americana, responsável pela pesada queda de Wall Street (o Dow Jones fechou em baixa de 1,08%).
Piso para as operações privadas de crédito, o swap de 360 dias recuou de 14,22% para 14,17%. O CDI previsto para a virada do ano cedeu de 13,23% para 13,19%. O contrato mais negociado ontem na BM & F, com vencimento em janeiro de 2010, caiu de 14,85% para 14,75%. Além da inflação sem surpresas, da falta de contágio da cotação interna do dólar em relação aos temores de Wall Street, os players do DI futuro gostaram da entrevista concedida pelo presidente do BC, Henrique Meirelles. Quem leu a entrevista, ficou com a certeza de que o BC não está tão preocupado com a inflação quanto o mercado.
Indagado se seria pessimismo do mercado a suposição de que será possível este ano o IPCA furar o teto de 6,5% da banda de inflação ou se o BC já trabalha com este cenário, Meirelles respondeu: Nós não fazemos a nossa própria previsão. Isso compete aos mercados. Portanto, não vou me pronunciar sobre esta possibilidade. Apenas digo que, pela análise dos cenários de mercado, o mercado acha, por tudo que nós temos visto, que é uma possibilidade menor do que isso. Agora, sempre existe em tese esta possibilidade. A todo início de ano, calcula-se essas possibilidades e eu vejo alguns cenários em que, sistematicamente, em qualquer ano, mesmo que a inflação esteja abaixo do centro (da inflação corrente no caso), existe sempre uma possibilidade teórica de que possa estourar o teto ou o piso . Ou seja, a mediana de cem instituições do Focus prevê IPCA de 5,80% este ano e sempre haverá um ou outro prevendo 6,5%. Não dá para fazer política monetária que agrade especificamente um ou outro.
No mercado de cambio, a liquidez foi insuficiente para sustentar, à tarde, a tentativa de acompanhamento do mau humor externo feita de manhã. Lá fora, notícias de que instituições financeiras ainda sofriam os efeitos deletérios da crise de crédito desanimaram os investidores. A aversão a risco cresceu, tanto que o juro do título de 10 anos do Tesouro americano recuou de 4,2052% para 4,12393%. De manhã, o dólar chegou a subir até 0,62%, no mercado spot doméstico, cotado a R$ 1,6180. Mas não havia muito comprador. À tarde, os vendedores aparecerem, o movimento foi fraco (giro de US$ 1,4 bilhão) e a moeda encerrou o dia cotada a R$ 1,6070, em leve desvalorização de 0,06%.
A balança cambial do mês (até o dia 13) mostra que o BC está comprando mais posição comprada dos bancos à vista do que propriamente fluxo. Este foi superavitário em US$ 892 milhões, inferior às compras realizadas pela autoridade no período. O superávit vem sendo garantido pelas operações comerciais , cujo saldo, US$ 3,049 bilhões, supera a saída líquida financeira de US$ 2,16 bilhões. Os movimentos cambiais nada exuberantes não deixam que as reservas rompam, finalmente, os US$ 200 bilhões. Estão (posição do dia 17) em US$ 197,947 bilhões.

Fonte: O Globo

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