Dubai investe no luxo para ter turistas de todo o mundo
O hall de entrada do resort Madinat Al-Qasar, que em árabe significa “Palácio”, é decorado com sete imensos lustres de cristais Swarovski. Com a calma de quem repete a mesma história mais de dez vezes ao dia, a guia explica que os lustres custaram US$ 500 milhões. Esta é uma das excentricidades de Dubai, a cidade mais pop do Oriente Médio. Governado pelo xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum – que está construindo para si um palácio “inspirado” em Versalhes – o cosmopolita emirado, onde convivem 150 nacionalidades, coleciona uma série de superlativos.
Até o fim de novembro haviam sido construídos 160 andares do Burj Dubai, o prédio mais alto do mundo. Os engenheiros da Emmar, incorporadora responsável pelo projeto, não revelam nem sob tortura o tamanho final da torre, pois sempre poderão acrescentar um andar ou dois se forem ultrapassados. No interior do Burj Al-Arab – o hotel em formato de veleiro que é cartão-postal de Dubai -, 1.599 metros quadrados de pisos e paredes foram banhados a ouro. No Mall of Emirates, um imenso shopping center, o visitante deixa o calor do deserto para entrar em uma estação de esqui. Entre as ilhas artificiais, os projetos mais conhecidos são a “Palmeira Jumeirah”, que imita a árvore tropical, e as “World Islands”, que copiam o formato do mapa-múndi. Nesse projeto, é possível comprar, por exemplo, o Brasil, mas o preço é salgado.
À primeira vista, esta Disneylândia das Arábias parece capricho de governantes excêntricos que não sabem o que fazer com seus petrodólares. Na verdade, contudo, trata-se de uma cuidadosa estratégia de marketing para convencer turistas de todo o mundo a passarem suas férias em uma cidade no meio deserto, onde faz 50 graus no verão. “Com esses projetos, aumenta o prestígio e o mundo presta atenção em Dubai. Todos querem estar aqui. E é isso que atrai turismo e investimentos”, diz Hamad Mohammed bin Mejern, diretor do Departamento de Turismo e Comércio do emirado. Em 2005, o PIB de Dubai atingiu US$ 37 bilhões, com crescimento médio de 10% ao ano na última década.
Desta maneira extravagante, o xeque Al-Makotum está conseguindo a proeza de diversificar a economia de Dubai, cuja população, em 1950, era em sua maior parte nômade e não ultrapassava 6 mil pessoas. Há menos de 45 anos, não havia eletricidade ou água potável e foi apenas em 1967 que descobriram petróleo no que na época era um fim de mundo. Com a pujança econômica trazida pelo ouro negro, veio também a independência política. A dominação britânica, que durava 250 anos, terminou em 1971, quando foram fundados os Emirados Árabes Unidos, federação de sete Estados-membros. Hoje vivem em Dubai 1,5 milhão de pessoas.
As estimativas são confusas, mas é provável que as reservas de petróleo de Dubai, que, ao contrário dos vizinhos, nunca foram abundantes, terminem em pouco mais de uma década. O emirado produz 240 mil barris de petróleo por dia, o que significa menos de 10% da produção dos Emirados Árabes Unidos. Por contraditório que pareça, o petróleo, que foi o berço da prosperidade, perdeu o posto de motor da economia. O óleo representa hoje 3% do PIB de Dubai. Em 2000, era 10%, e, em 1975, chegava a mais de 50%.
O turismo é hoje a atividade com maior peso na economia de Dubai, respondendo por 33% do PIB. O número de visitantes saltou de 700 mil em 1991 para 6,4 milhões no ano passado. A expectativa do governo é chegar a 15 milhões em quatro anos. A maior parte dos turistas vem dos países do Golfo, dos Estados Unidos e da Europa. Os brasileiros, devagar, começam a chegar. O fluxo aumentou nos últimos dois meses, com o início do vôo direto São Paulo-Dubai.
Existem hoje na cidade 317 hotéis com 42 mil quartos, mas não é suficiente. O governo espera elevar o número de acomodações para 100 mil em quatro anos. Metade dos quartos de hotel em Dubai são cinco estrelas, o que dá uma idéia do perfil do turista. O luxo é um conceito dominante nos outdoors, nas vitrines, nos cardápios, no vocabulário das pessoas.
Esta cidade vertical, onde tudo acontece dentro dos hotéis ou dos shoppings centers, foi praticamente construída do zero. Com os petrodólares no bolso, os árabes foram buscar “inspiração” em lugares como Paris, Nova York ou Veneza – com seus canais de água, um bem raro nas Arábias, a cidade italiana é admirada. Muitas vezes as combinações de estilos resultam em um gosto duvidoso.
Fonte: Valor