Mercado de SegurosNotícias

Biobrás, para crescer com força total

No próximo ano, ele completa 85 anos de vida e 60 de um casamento “extremamente feliz” com Maria Lúcia. Diz que a “saúde de ferro” é uma herança familiar, e continua a fazer planos. Agora, quer desvencilhar-se de outras tarefas e dedicar mais tempo para a leitura. Helio Jaguaribe continua na ativa, acaba de lançar seu 50º livro, “Breve Ensaio sobre o Homem e Outros Estudos” e reafirma seus compromissos com um ideário desenvolvimentista ao defender a necessidade da criação de uma nova estatal: a Biobrás.
Com 216 páginas, o livro é dividido em duas partes: estudos filosóficos e sociológicos. Na primeira, Jaguaribe debate o que chama de “ateísmo transcendente”; na segunda, o momento de profundas transformações e de novos desafios para o planeta e para o Brasil.
Formado em direito pela PUC-Rio, Jaguaribe é dono de um currículo invejável. Foi professor visitante de três das principais universidades do planeta (Harvard, Stanford e MIT), é decano emérito do Instituto de Estudos Políticos e Sociais (Ipes), fundador e responsável pela cadeira de Ciências Políticas do Iseb, e o atual ocupante da cadeira número 11 da Academia Brasileira de Letras, que já foi do economista Celso Furtado.
Como seu antecessor na Academia, Jaguaribe é um homem de convicções. Uma delas é a de que, em países como o Brasil, a participação do Estado na economia é fundamental para que se consiga dar saltos de qualidade, como a que ocorreu com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional.
Depois de considerar que estão errados tanto os neoliberais, “que acham que o Estado não deve fazer nada”, quanto a esquerda, “que acha que o Estado deve fazer tudo”, Jaguaribe defendeu, durante esta entrevista, que é chegada a hora de se criar uma nova estatal: a Biobrás. Com ela, aposta, “o Brasil poderá se tornar a Arábia Saudita dos biocombustíveis”.
Em nenhum outro momento da história, seja com o carvão, seja com o petróleo, o Brasil esteve tão bem posicionado quanto agora. A crescente importância dos temas ambientais (aquecimento global e sustentabilidade) e o preço elevado do barril de petróleo ajudam a corroborar a idéia de que o etanol vai ganhar espaço na matriz energética do planeta – e o Brasil só tem a ganhar com isso.
Um sintoma dessa mudança de ares e perspectivas é “Cane”, série de TV americana que conta a saga de uma família que comanda um império de produção de cana-de-açúcar. OK, de origem cubana, mas, enfim… Outro sintoma, menos discutível, é a ebulição do próprio mercado. Afinal, não deve faltar demanda por etanol. As projeções dão conta de que o consumo global deve crescer 50 bilhões de litros de álcool até 2012, o que exigirá que a produção mundial dobre nesse período. Não é por acaso, portanto, que uma série de novíssimas empresas e investidores estrangeiros estejam interessados em investir no setor no Brasil.
“A Biobrás não deve ser um monopólio”, assegura o cientista político. A tarefa da nova estatal seria a de ajudar a consolidar o mercado de etanol, organizando a produção e a logística (e, claro, o investimento privado). Indagado se a Petrobras não poderia exercer esse papel, Jaguaribe disse “preferir que não”, e emendou: “Ela faz outras coisas; atua em outros mercados.”
“Otimista no curto prazo”, como se autodefine, Jaguaribe considera que o grande desafio do país é o de, até 2030, tornar-se menos desigual – no passado, ele afirmou que o perfil social brasileiro era inviável – e conquistar um padrão de vida mais próximo do que hoje existe em Portugal ou na Espanha.
É fato que a mudança na matriz energética global pode ajudar o país a alavancar sua chance de conquistar um melhor e menos desigual padrão de vida, mas será preciso mais do que isso, ele pondera.
O desafio não é trivial. Jaguaribe considera que, provavelmente, o Brasil é o país que apresenta o “mais extraordinário intervalo” entre as suas potencialidades e seu efetivo nível de desempenho. E não se trata apenas, como ele aponta em seu livro, de retomar o caminho do crescimento, mas o de recuperar padrões éticos. “Os povos exitosos foram, em todas as épocas, os que se pautaram por consistentes padrões éticos”, sentencia. O resgate da ética é, para ele, uma das mais importantes tarefas de uma reforma política digna do nome – que começa, acredita, com a adoção do voto distrital.
A agenda de reformas não se esgota, obviamente, com a política. Será preciso também consolidar o Mercosul. Para tanto, Jaguaribe propõe a adoção de uma política comum, de complementaridade industrial, entre o Brasil e a Argentina. Ele lembra que a União Européia começou com um tratado para o carvão e para o aço.
Para Jaguaribe, os governos argentino e brasileiro devem mapear as oportunidades, como já aconteceu no caso da indústria automobilística, identificar as lacunas existentes nas cadeias produtivas (“que devem ser maiores na Argentina”) e adotar uma política comum de investimentos e de incentivos. A idéia é ter uma política integradora, lastreada em projetos industriais.

Fonte: Valor

Falar agora
Olá 👋
Como podemos ajudá-la(o)?