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Pra que suar tanto?

A despeito do avanço tecnológico, da modernidade, dos ganhos de produtividade e do estágio atual da ciência, nunca se trabalhou tanto. Desafia-se a letra da lei em todo o mundo, com cargas diárias de 16, 18 horas. O trabalhador de hoje deveria ter inveja da jornada comum nos primórdios do capitalismo.
O aquecimento global, novas doenças e até mesmo – ou principalmente – a violência urbana passaram a constar da lista de desdobramentos da legitimação do trabalho intensificado. O assunto é debatido em países como França, Venezuela e Estados Unidos, nos quais a jornada vai de 35 a 39 horas por semana. No Brasil, onde foram necessários 50 anos para se chegar à jornada de 44 horas, pesquisadores e sindicalistas conduzem a discussão sob várias óticas. Afinal, é possível trabalhar menos?
O ócio criativo, conceituado pelo pensador italiano Domenico de Masi, pode fazer sentido, mas o que se discute agora é a própria razão de viver, um assunto para toda a sociedade resolver
O tempo de trabalho é o conceito básico da economia, tradicionalmente. Uma coisa só tem valor de acordo com a quantidade de suor humano despendido para sua produção. Dito assim, a teoria pode insinuar uma falsa simplicidade. Desde os fisiocratas, no século XVIII, há polêmica em torno da geração de riqueza. François Quesnay acreditava que apenas o tempo do trabalho agrícola deveria ser considerado, pois a indústria e o comércio atuariam de maneira “estéril”. Adam Smith cravou sua bandeira na teoria do valor-trabalho. Uma mercadoria valeria, para ele, o tanto de trabalho ali “contido”. David Ricardo defendeu o montante de tempo de trabalho “demandado” para a produção. Karl Marx sentenciou que o valor é a “quantidade de trabalho socialmente necessário”.
Marcio Pochmann: Empresas e governo apropriam-se de partes da produtividade, que é “muito maior do que os dados mostram”, e isso obriga a acréscimos nas horas trabalhadas
Este “socialmente”, como se sabe, é que faz toda a diferença. Foi interpretado de inúmeras formas: “cristalizado”, “médio”, “contido”. Este conceito transforma o autor de “O Capital” em escritor de nossos tempos. O “socialmente” é aquele quantum de trabalho referendado por uma sociedade, em determinado país, em determinado tempo, sob tais e tais condições de produção. A teoria marxista sobrevive, portanto, porque considerou as transformações da sociedade. Quais transformações? Qualquer uma originada no processo de produção capitalista. Seja qual for, será absorvida no “socialmente necessário”. No planeta de relações globalizadas, essas condições ora provocam um efeito de homogeneidade entre os países, ora de concorrência diante da possível mobilidade dos fatores de produção (máquinas, matérias-primas, instalações, ciência-técnica ou pesquisa, organização empresarial e mão-de-obra). Ou seja, produzir onde há mais competitividade. E esta, como reza a teoria, é fruto do trabalho.

Fonte: Bloomberg

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