Mercado teme surpresa do Copom
Luiz Sérgio Guimarães
Os analistas do mercado financeiro descartam formalmente qualquer possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidir hoje a Selic que irá vigorar de amanhã até 6 de junho sem respeitar suas sinalizações de “parcimônia” e contra o consenso quase absoluto de novo corte de 0,25 ponto. Mas, informalmente, receiam que o BC possa adotar na política monetária a conduta baseada no “elemento surpresa” já anunciada para a condução da política cambial. Os mercados de juros e câmbio operaram ontem de forma muito cautelosa e com pouca liquidez, sem desprezar o risco de o Copom voltar hoje mesmo a diminuir a taxa em 0,50 ponto, de 12,75% para 12,25%, restaurando o ritmo de corte que prevaleceu na maior parte do ano passado.
O mercado de câmbio movimentou apenas US$ 1,9 bilhão no interbancário, quando normalmente o volume oscila entre US$ 2,5 e 3 bilhões. E a cotação, após variações discretas, encerrou o dia estável em R$ 2,0360. Os contratos de CDI futuro negociados para a virada do semestre e para outubro na BM&F também não saíram do lugar, encerrando o dia a 12,29% e 12,06%, respectivamente. Desvinculados da política monetária de curto prazo, os contratos longos respeitaram o viés de baixa. O CDI previsto para janeiro de 2009 cedeu 0,03 ponto, para 11,43%.
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Cautelosos, dólar e DI não saem do lugar
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Três fatores estão deixando os analistas inquietos e inseguros com o Copom de hoje. O primeiro é a imprevisibilidade introduzida no mecanismo dos leilões de venda de swaps cambiais reversos. O BC informou que os leilões não serão anunciados com antecedência e criou incerteza sobre o dia e a hora em que a operação será realizada. Os especuladores estrangeiros resolveram aguardar a realização do primeiro leilão desta nova safra para então trazer os dólares. Essa tensa expectativa está irritando o capital externo volátil. O segundo fator é a completa ausência de pressões ministeriais e políticas – o chamado “fogo amigo” – sobre o Copom, muito comum em reuniões anteriores. Às vésperas de decisões sobre juros, o BC sempre sofria fortes pressões para aumentar a dose do desaperto. E sempre agia, para reafirmar sua independência, no sentido contrário ao das pressões. Desta vez, nada, nenhuma queixa, nenhuma ameaça. O Copom decidirá sob absoluta tranqüilidade técnica. O terceiro fator é justamente esse: tecnicamente, está cada vez mais difícil encontrar justificativas para a velocidade de queda muito comedida do juro.
A maioria dos analistas serve-se do argumento de que está nascendo hoje uma perigosa “inflação de demanda” decorrente da expansão da atividade econômica para amparar sua crença na persistência do corte simbólico de 0,25 ponto. No entender dos economistas da LCA Consultores, trata-se de pretexto frágil. A consultoria reconhece que, de fato, a recuperação da renda real ao longo dos últimos anos vem criando um ambiente propício ao aumento nos preços dos serviços privados, mas não há indícios consistentes de que esses preços estejam em trajetória de aceleração. Ao contrário. “A pressão recente sobre o conjunto dos preços não comercializáveis adveio da forte alta (que já começou a arrefecer) dos alimentos in natura, produtos cujos preços têm elevada volatilidade sazonal e cuja oferta esteve prejudicada pelas chuvas. Excluindo alimentos, o conjunto dos preços não-comercializáveis tem mantido tendência de desaceleração”, diz a LCA.
O Departamento Econômico do Bradesco acredita que a decisão do Copom de reduzir a Selic em 0,25 ponto virá acompanhada de um sinal de que as próximas decisões de política monetária não estarão “amarradas”. “O Copom poderá preferir assegurar alguma flexibilidade para a possibilidade de surpresas, no caso, no sentido de um retorno ao corte de 0,50 ponto percentual”, diz o Bradesco.
Selic paga maior juro real líquido do mundo
Os impostos não reduzem a atratividade da Selic. A incidência de impostos sobre os títulos de renda fixa brasileiros cuja referência de rentabilidade é a Selic depende do tipo de investidor. Os cotistas de fundos de investimentos não têm como evitar o imposto de renda entre 15% e 22,5% dependendo do prazo da aplicação, nem a CPMF. Para eles, a Selic líquida, supondo-se a taxa bruta atual de 12,75%, varia de 9,55% a 10,47%. Mesmo assim, recebem juros reais entre os maiores do mundo. Comparativamente à expectativa de IPCA 12 meses à frente do boletim Focus, de 3,64%, o juro real por prazo curto alcança 5,7%, o segundo maior do mundo, só superado pelos 6% “brutos” pagos pela Turquia. No caso da aplicação mais longa (dois anos), com ganho líquido de 10,47%, o juro real líquido atinge 6,6%, o campeão do mundo. No caso das instituições financeiras pessoas jurídicas (carteira própria dos bancos, fundações e seguradoras), o pagamento do IR é feito no balanço. E o volume recolhido depende da competência e da criatividade do planejador tributário. No caso dos investidores estrangeiros que armam operações com derivativos cambiais – e que não entram com dólares físicos no país – o imposto, quando pago, é diluído no acerto com a contraparte nacional. E os que adquirem NTN-B (todos os títulos públicos têm como referencial o juro da LFT-Selic) desfrutam de isenção fiscal completa.
Luiz Sérgio Guimarães é repórter de finanças
luiz.guimaraes@valor.com.br
Fonte: Valor