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Século da insegurança e das oportunidades

A indústria brasileira de seguros, como a do resto do mundo, deve crescer com vigor nos próximos anos. Isso porque, no chamado “Século da Insegurança”_ expressão do presidente do Grupo Bradesco de Seguros e Previdência, Luiz Carlos Trabuco Cappi, para caracterizar o avanço de catástrofes naturais, atentados e explosão de violência em toda a parte do mundo_ é a única atividade capaz de repor o patrimônio das empresas e da sociedade e de garantir, via pecúlios, pensões e indenizações por morte ou invalidez, a qualidade de vida das famílias após o infortúnio bater à porta de casa.
O Estado, por mais forte que seja, não é capaz de suprir 100% da necessidade de proteção do cidadão_ destaca Trabuco, ao reiterar que a atividade de seguros, apesar de seus mais de 500 anos de existência, atingirá o ápice neste século.
Nesse quadro, o mercado de seguros do País pode ter taxas de crescimento expressivas. Para um PIB da ordem de 4% ou 5% ao ano, o setor tem potencial de expandir 15% anuais daqui para frente, sobretudo com a criação de novos seguros esperados a partir da abertura do mercado de resseguros_o projeto está na pauta de votação da Câmara dos Deputados e a expectativa é de que seja aprovado este ano.
Fora a China, o Brasil é o país com mais condições de assistir a uma forte evolução do setor de seguros, concorda o presidente da Prudential Seguros, William Yates, para quem a atividade está saturada na maioria das nações mais desenvolvidas.
Nesse sentido, a manutenção da estabilidade e a retomada das reformas estruturantes são condições essenciais para o mercado de seguros, previdência e capitalização pavimentar a expansão. Dividida em três fases pelos especialistas, a estabilização econômica trouxe benefícios ao mercado de seguros, fazendo-o pular de uma produção pífia de menos de 1% para pouco mais de 3% entre 94 e 2002. Na segunda etapa, em andamento e caracterizada por juros em queda, inflação sob controle, aumento de crédito e do consumo de bens de duráveis, pode levar o mercado a andar até o teto de 5% do PIB. E, na seqüência, concluídas reformas que, entre outros efeitos derrubem os juros reais para 6% e garantam a nota de grau de investimento ao país pelas agências de rating, a participação do setor caminhará para algo entre 5% e 8% do PIB, assinala Trabuco.
_ O grau de investimento é uma senha para atrair os investidores externos e gerar um ciclo de crescimento econômico, algo muito bem-vindo para a expansão do mercado de seguros_ lembra ele, destacando que a atividade segue os rastros da atividade econômica.
Novas regras favorecem concorrência
A modernização da regulamentação do mercado de seguros, previdência e capitalização é outro trunfo importante, acrescenta René Garcia, titular da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Hoje, os avanços da legislação setorial são reconhecidos pelas multinacionais do setor, para quem, fora o resseguro, o país encerrou grande parte das assimetrias que existiam em sua regulamentação. O resultado disso, prevê René Garcia, é que as estrangeiras devem ou hastear as bandeiras no país ou voltar a desenrolá-las, no caso das que já estão com sede no País. Com isso, os consumidores é que tendem a ser beneficiar com a disputa mais acirrada do mercado, afirma ele.
O futuro não é só repleto de oportunidades. A queda da taxa básica de juros pode ser algo que ameace a rentabilidade das empresas, tendo em vista que o resultado financeiro ainda é um tripé importante dos ganhos. À medida em que as taxas caiam, as aplicações financeiras feitas pelas seguradoras para custear sinistros vão render menos, obrigando-as a adotar medidas para melhorar o resultado operacional. Em conseqüência, a empresa que não tiver economia de escala e aumento da produtividade estará em maus lençóis, já que sua alternativa, a de aumentar preços, segue na contramão da tendência do mercado, de queda dos valores dos prêmios, tendo em vista as sinalizações de disputa mais acirrada esperada nos próximos anos, explicam especialistas.
A flexibilização do resseguro é outro capítulo definitivo no mercado de seguros. Pode ser o passaporte de crescimento das pequenas e médias que optarem por uma atuação especializada . Ou não, ser o primeiro passo para o enfraquecimento de grupo de empresas. O mais provável é que o período de transição provoque alguma depuração do mercado.
Por ramo, o de vida (ou pessoas após a nova regulamentação da Susep) e previdência é disparadamente o mais cotado a dar saltos de receita. WilliamYates, da Prudential, lembra que o seguro de pessoa individual praticamente morreu no país no período de hiperinflação, mas, desde a estabilidade da moeda, retomou o viés de forte alta e, no futuro, a exemplo do que ocorre nos mercados desenvolvidos, deverá ser o principal ramo do setor, sobretudo após a regulamentação feita pela Susep para modernizar.
Na previdência, o viés é de forte alta nos negócios. O presidente do grupo SulAmérica, Patrick de Larragoiti, diz que, além da preocupação com a aposentadoria, os planos passaram a ser uma excelente alternativa de aplicação para quem tem foco no longo, em virtude do tratamento tributário(ou seja, o regime tributário regressivo), e podem atrair recursos hoje alocados em outros tipos de investimentos.
_ É mais um chamariz para pessoas de classe média que estão preocupadas em poupar por longo prazo_ lembrou ele
Sem contar a perspectiva de uma reforma sem data da Previdência Social, o mercado movimenta-se no sentido de ampliar a gama dos produtos, encerrando o ciclo de concentração de negócios apenas nos planos padronizados, acrescenta o vice-presidente da SulAmérica, Renato Russo. Para ele, o mais provável é que as empresas de previdência tornem-se mais criativas, oferecendo planos diferenciados (como cobertura para riscos de morte e invalidez do participante na fase de acumulação) e mais agressivas na inserção dos planos corporativos, ainda uma franca promessa no país. A competição entre as empresas de previdência promete ser mais aguerrida, sobretudo após a aprovação dos planos blindados, o que deve garantir o passaporte para que pequenas e médias atuem neste mercado, acredita Renê Garcia.
Este ano, a previsão da Susep é de que o mercado feche o ano com receita de R$ 49 bilhões, um crescimento nominal de 15,2% comparado ao de 2005. O Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) e a carteira de automóveis serão as duas responsáveis pelo grosso do faturamento. O VGBL terá prêmios estimados de R$ 14 bilhões e o seguro de automóvel, de 13,4 bilhões. Depois, com receitas médias de R$ 5 bilhões, devem figurar os seguros de Vida em Grupo (R$ 5,4 bi) e os patrimoniais (R$ 5,2 bilhões).
O próximo ano, apesar da perspectiva de queda de juros, é apontado como favorável para o mercado. Os executivos destacam que, para quem já fez os ajustes em busca de rentabilidade operacional, os sinais de que um crescimento econômico mais substancial nos próximos anos são muito positivos. A perspectiva de retomada de obras de infra-estrutura, muitas das quais paralisadas durante o ano eleitoral, pode garantir novos saltos para o seguro garantia, por exemplo.
O presidente da Áurea Seguro de Crédito e Garantias, Edvaldo Cerqueira, vê um horizonte positivo para as vendas do seguro garantia. Embora os negócios tenham tido uma desaceleração este ano, efeito da sucessão presidencial, ele espera uma retomada das obras de infra-estrutura, como construção de hidrelétricas, refinarias e um sem-número de empreendimentos listados nas Parcerias Público Privadas (PPP´s), garantindo uma forte expansão dos negócios pelos próximos quatro anos.
_ O governo vai precisar reduzir os gargalos na infra-estrutura, colocando em execução obras importantes para melhorar a infra-estrutura do país. Com isso, cria uma janela de oportunidades para as seguradoras que atuam no ramo_ disse ele.
Ramos populares devem evoluir demanda
Nos ramos populares, a perspectiva é também de evolução da demanda. No caso das apólices de carros populares, ainda travadas, um projeto no Senado, do senador Romeu Tuma, disciplinando a venda de peças usadas pode ser o pontapé inicial para esquentar os negócios. Hoje, apesar das projeções animadoras da Susep, as vendas de seguros para carros usados frustraram-se, dado o pé no freio imposto pelo mercado, ainda preocupado com eventuais litígios judiciais. Mas, aprovado o projeto, a porta para a atuação das seguradoras será aberta de vez, diz Renê Garcia.
Nos seguros populares de vida, com vendas na casa de 5 milhões de segurados, é possível avançar nos próximos anos. É necessário, contudo, resolver a questão da cobrança das altas tarifas bancárias, que chegam a representar quase 40% dos prêmios mínimos. A Susep tenta viabilizar um caminho para que o pagamento dos planos não passe pela porta dos bancos. Com os canais alternativos, como lojas ou distribuidoras.
E, finalmente, o senhor consumidor pode respirar aliviado. O mercado da era das ouvidorias promete um tratamento vip para os clientes, oferecendo coberturas inéditas para um sem número de riscos e , o que é melhor, a preços cada vez mais atraentes, assinala Renê Garcia. Entre as novidades que devem chegar ao mercado, estão os chamados seguros dotais, que combinam acumulação de renda e proteção por morte ou invalidez dos segurados, e considerados um dos candidatos a elevar a receita da carteira de vida. Ou mesmo o plano de previdência para custear as despesas futuras com a saúde, a exemplo do que existe nos Estados Unidos. É só esperar que o mercado promete inovações.

Fonte: Jornal do Commercio

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