Outubro Rosa – Conscientização e Combate ao Câncer de Mama
Vamos começar: você sabe o que é o câncer?
Câncer é um termo que abrange mais de 100 diferentes tipos de doenças malignas caracterizadas pela proliferação anormal e descontrolada de células oriundas de uma célula previamente normal, que sofreu uma ou mais mutações, e que tem a capacidade de se espalhar pelo organismo.
Essas células se multiplicam rapidamente, formando tumores que podem invadir tecidos e órgãos vizinhos ou distantes, em um processo chamado metástase (as células tumorais caem na corrente sanguínea e atingem outros órgãos não necessariamente próximos ao local de origem).
Nosso organismo tem processos para controle da proliferação de células defeituosas. Um destes é a apoptose (espécie de suicídio celular), o destino da maioria de nossas células, processo necessário para manter a integridade dos tecidos (Figura1).
Geralmente, a mutação celular é reparada ou a célula morre por apoptose. Entretanto, a célula que se torna maligna não morre. Na maioria das vezes, acumula várias mutações que resultam em proliferação descontrolada e capacidade de se espalhar pelo corpo.
Por exemplo, o câncer de mama pode vir a se instalar nos ossos. Ao exame microscópico, as células serão de um câncer de mama, mas instaladas nos ossos.
Ou seja, o câncer é uma doença complexa que envolve alterações fundamentais no DNA (ácido desoxirribonucleico) e nos processos de divisão celular. A compreensão desses mecanismos é crucial para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer.
Entendendo um pouco mais sobre as alterações de DNA
O DNA é a molécula que carrega a informação genética em todas as células vivas. No contexto do câncer, podem ocorrer (Figura 2)
Incidência e Mortalidade do Câncer de Mama
No Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais incidente em mulheres de todas as regiões, com taxas mais altas nas regiões Sul e Sudeste. Para cada ano do triênio 2023-2025 foram estimados 73.610 casos novos, o que representa uma taxa ajustada de incidência de 41,89 casos por 100.000 mulheres (INCA, 2022).
É relativamente raro antes dos 35 anos, mas acima desta idade a incidência cresce progressivamente, especialmente após os 50 anos. O Ministério da Saúde afirma que cerca de 17% dos casos podem ser evitados por meio de hábitos de vida saudáveis.
As faixas etárias com a maior parte dos casos de hospitalização em 2022 foram:
– 20.166 internações entre 45 – 54 anos;
– 20.394 internações entre 55 – 64 anos;
– 20.049 internações acima de 65 anos.
Este cenário representou um total de gastos hospitalares de mais de R$ 183MM em 2022 (custo médio de internação = R$ 2.377,03), conforme apontou SIH/DATASUS.
Estatísticas indicam aumento da sua incidência tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. Existem vários tipos de câncer de mama. Alguns evoluem de forma rápida, outros, não. A maioria dos casos tem bom prognóstico.
O câncer de mama é a primeira causa de morte por câncer em mulheres no Brasil, com patamares diferenciados entre as regiões.
A taxa de mortalidade por câncer de mama, ajustada por idade pela população mundial, foi 11,71 óbitos/100.000 mulheres, em 2021.
No Brasil, segundo relatório INCA, 2022,a taxa de mortalidade foi:
– Sudeste e Sul têm as maiores taxas (12,43 e 12,69 óbitos/100.000 mulheres, respectivamente);
– Nordeste (10,75 óbitos/100.000 mulheres);
– Centro-Oeste (10,90 óbitos/100.000 mulheres); e
– Norte (8,59 óbitos/100.000 mulheres).
A queda observada nos anos de 2020 e 2021 possivelmente se relaciona à pandemia, cujos óbitos por Covid19 podem ter sido uma causa concorrente (Figura 3).
Figura 3: Taxas de mortalidade por câncer de mama, ajustadas por idade pela população mundial, por 100 mil mulheres, Brasil e Regiões, 2000 a 2021
As taxas de mortalidade por câncer de mama são mais elevadas entre as mulheres de idade mais avançada, porém a mortalidade proporcional é maior no grupo de 50 a 69 anos, que responde por cerca de 45% do total de óbitos por esse tipo de câncer. Ao longo do período observa-se um aumento na proporção de óbitos acima de 80 anos e diminuição na faixa etária de 40-49 anos (Figura 4).
Figura 4: Mortalidade proporcional por câncer de mama segundo faixa etária, Brasil 2000 a 2021
Mas importante destacar que o câncer de mama não é exclusivo da mulher: os homens podem desenvolver câncer de mama, porém é raro, 1% do total de casos.
Normalmente, ele aparece em homens mais velhos, acima dos 60 anos, e pode ser mais frequente em homens cujas famílias apresentam muitos casos de câncer de mama (mesmo que em mulheres) e câncer de ovário (neste caso, a idade de aparecimento pode ser em homens mais jovens).
Vamos falar em Prevenção?
A prevenção e detecção precoce do câncer de mama são essenciais para o enfrentamento, cura e aumento da taxa de sobrevivência dos pacientes.
Como vimos anteriormente, a alteração genética que causa um tumor está diretamente relacionada à biologia celular. Mas, também, pode ser estimulada por condições agravantes endócrinas, comportamentais, ambientais e/ou hereditárias (Figura 5).
Então, adotar hábitos para uma vida saudável é essencial para a prevenção do câncer de mama!
Além disso, esteja alerta aos principais sinais de alerta ou sintomas do câncer de mama:
– Nódulo palpável na mama;
– Pele avermelhada ou retraída;
– Alterações no mamilo como inversão do mamilo ou saída anormal de secreção;
– Dor ou inchaço no todo ou partes das mamas;
– Nódulos cervicais ou nas axilas.
Entre os exames de imagem, a mamografia tem finalidade diagnóstica, sendo indicada principalmente para avaliar alterações mamárias suspeitas em qualquer idade, em mulheres e homens.
Para mulheres jovens, é dada preferência à ultrassonografia para investigação inicial, em função da maior densidade mamária.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) recomenda as seguintes medidas para a prevenção do câncer de mama:
– Praticar atividade física;
– Manter um peso corporal adequado;
– Adotar uma alimentação saudável;
– Evitar ou reduzir o consumo de bebidas alcoólicas;
– Amamentar;
– Não fumar e evitar o tabagismo passivo.
Segundo as Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama (INCA, 2015), mulheres com 40 anos ou mais façam um exame clínico das mamas anualmente, e que mulheres entre 50 e 69 anos façam uma mamografia a cada dois anos.
O INCA também recomenda que as mulheres façam um autoexame das mamas uma vez por mês, preferencialmente após o período menstrual. No entanto, o INCA também recomenda que as mulheres fiquem atentas a qualquer mudança nas mamas na sua vida diária, sem necessidade de uma rotina sistemática de observação.
Os quadros a seguir resumem os temas destacados acima (Figuras 6 e 7).
Importante, também, falarmos sobre o Mapeamento Genético: implicações para o Diagnóstico e Tratamento do Câncer.
Compreender as alterações no DNA e na divisão celular no câncer tem implicações significativas (Figura 8).
E o Outubro Rosa?
Outubro Rosa é um movimento internacional para a conscientização da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama.
Esse movimento surgiu nos Estados Unidos na década de 90 com apenas alguns estados americanos fazendo campanhas isoladas sobre o tema.
Só depois que a campanha foi aprovada pelo Congresso Americano que o mês de outubro foi reconhecido nacionalmente como o mês da prevenção contra o câncer de mama.
A americana Susan Goodman Komen descobriu ter câncer de mama no final da década de 70, uma época que não tinha tratamentos ou métodos de prevenção para a doença. Ela faleceu em 1980 da doença. Mas, 2 anos depois, sua irmã Nancy lançou a Fundação Susan. G. Komen for The Cure, focada em descobrir a cura para o câncer de mama e trabalhar pela conscientização da população sobre a importância da prevenção e detecção precoce da doença.
A campanha se popularizou mais ainda em outubro de 1997, quando a Fundação promoveu a Corrida da Cura, realizado em Nova York e Califórnia e distribuiu laços rosas (a cor preferida de Susan) entre os participantes (Figura 9).
Imaginem, estamos falando de uma época sem internet de amplo alcance e sem redes sociais. Quando abordar abertamente doenças era um tabu e, sobretudo, veicular imagens sobre autoexame (fotos de mamas) era visto como “pornográfico”.
No Brasil, o Outubro Rosa começou a ser difundido em 2002, quando o Obelisco do Ibirapuera, em São Paulo, foi iluminado com a cor rosa. Em 2008, o movimento ganhou força, com a participação de várias instituições que iluminaram monumentos e prédios com a cor rosa.
O sucesso da campanha no nosso país pode ser medido por dados compartilhados pelo Ministério da Saúde, em 2020, informando que aumentou em 37% o número de mamografias realizadas no país. Além disso, durante o período, ocorre um maior compartilhamento de informações que promovem maior conscientização sobre a relevância do controle da doença.
Nesse ano, 2024, o Ministério da Saúde definiu o lema do Outubro Rosa como “Mulher: seu corpo, sua vida”
Simbolizada por um autoabraço, reafirmando o protagonismo feminino e valorizando o autocuidado, pois busca estimular a conexão das mulheres com a saúde, de forma que a prevenção e o diagnóstico precoce sejam algo contínuo em suas vidas e não apenas no mês de outubro.
Além do câncer de mama, a campanha também alerta para prevenção e diagnóstico precoce do câncer de colo de útero.
O câncer do colo do útero é o segundo tipo mais comum entre as mulheres no mundo, depois do câncer de mama, e a principal causa de morte por câncer entre mulheres em muitos países. No Brasil, é o terceiro tumor mais incidente na população feminina com 17 mil novos casos por ano no triênio 2023-2025, correspondendo a uma taxa de incidência de 15,38 casos a cada 100 mil mulheres.
Segundo a Ministra da Saúde, Dra. Nísia Trindade:
“Essa mobilização coloca nós, mulheres, em primeiro plano, respeitando as nossas individualidades e valorizando o ato de observar o próprio corpo. O mês Outubro Rosa vai além da cor rosa, agregando como cores a diversidade dos tons de pele das mulheres brasileiras.
O câncer de mama e o câncer de colo de útero são dois dos mais comuns entre mulheres no Brasil. Mas existe cura e prevenção. O diagnóstico e o tratamento para todos os tipos de câncer estão disponíveis no SUS, assim como a vacina HPV, para prevenção do câncer de colo de útero, e a mamografia, para a prevenção do câncer de mama.”
Eu, um caso real!
Em novembro de 2022, nos exames de rotina de acompanhamento das mamas (mamografia e REM, pois eu já tinha o histórico de câncer na família – minha mãe -, fiz cirurgia de redução de mamas quando tinha 17 anos e já tive detecção de nódulos em exames anteriores, mas sem malignidade) foi detectado um nódulo. Na biópsia, o resultado: maligno.
“Carcinoma invasivo de tipo não especial grau 1 de SBR modificado, grau 2 nuclear, apresentando perfil imuno-histoquímico “luminal” com reatividade de AgKi-67 estimada em 10%”.
Essa frase assusta até mais do que admitir “Estou com câncer”.
Cumpre relatar que 1 ano antes, minha irmã mais nova teve diagnóstico de câncer de mama e fez o mapeamento genético que revelou mutação genética em PALB 2, mutação essa relacionada ao câncer de mama.
Então, também fiz o mapeamento dessa mutação e… Bingo!
Consultas… mastologista cirurgiã, geneticista.
A decisão: remoção total das mamas e reconstrução imediata ou cirurgia conservadora.
Meu nódulo era de 1cm e se apresentava muito próximo do músculo peitoral.
Entre conversas com as médicas e com meu marido e filha, optei pela cirurgia conservadora.
Em tempo: a remoção total das mamas não elimina a possibilidade de voltar a ter câncer de mama, pois não há garantia de retirada total das células mamárias e não ficaria “livre” do controle bianual por REM.
A cirurgia ocorreu em 16/01/2023, no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
Pelas características do nódulo e resultado da biópsia do material da cirurgia (margens do nódulo e 7 linfonodos retirados sem células tumorais), meu caso entra para a previsão de 95% de chance de cura somente com a cirurgia. Porém, é preconizada a radioterapia complementar.
Então, entrei para o grupo de Oncologia do Hospital Santa Catarina onde fiz minhas sessões de radioterapia e sigo com os acompanhamentos de uma equipe multidisciplinar, pois tenho que tomar Letrozol por 5 anos (já foram 18 meses!).
Por conta da mutação genética, agora estou em programação da retirada dos ovários, pois o PALB 2 também tem relação com câncer de ovário (mais difícil de acompanhar e obter detecção precoce). E minha filha de 27 anos já fez o mapeamento e também tem a mutação em PALB 2 e já está em acompanhamento com geneticista e mastologista.
Se esse meu depoimento servir de algo, se puder ajudar alguém, que seja para levar uma mensagem de fé e confiança na medicina e seus dedicados profissionais.
E, sempre, muita tranquilidade pessoal, física, emocional e espiritual.
Ah, sim, minha idade: 56 anos!
Forte abraço para vocês!