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Perigos da eterna busca pela perfeição feminina

Dedicadas e preocupadas com o outro, sempre cuidando de todos – família, amigos, equipe – nós mulheres somos duras conosco. Por questões culturais, uma das principais imposições às mulheres durante toda a vida é em relação à beleza e vêm de nós as principais críticas e exigências. Pesquisa realizada com 6,4 mil mulheres, entre 18 e 64 anos, em 20 países, incluindo Brasil, Estados Unidos, Alemanha, França e Itália, revela que apenas 4% da população feminina mundial se considera bonita.

A marca de cosméticos Dove acaba de lançar um relatório intitulado ‘O custo real dos ideais de beleza’, examinando o impacto de nosso mundo obcecado por imagens no bem-estar físico e mental dos jovens, em especial das meninas. Investigando a insatisfação corporal e a discriminação com base na aparência, o estudo levantou que a mídia social é a principal responsável por exacerbar esses dois problemas entre crianças e adolescentes.

Sempre me cobrei muito em relação a isso também. Desde criança, sempre tive a necessidade de tentar ser a melhor em tudo. Isso fez com que eu tivesse muitos problemas de autoestima, pois, sofri bastante com o que hoje é tido como bullying, porque fui uma adolescente extremamente estudiosa e que tinha muitas espinhas no rosto, além de dificuldade na balança.   

Quando superei essa fase de complicações estéticas, comecei a passar por um momento de provação, buscando ser uma pessoa bem-sucedida. Por esta carga de exigências, muitas mulheres no mercado de trabalho são acometidas pela “síndrome do impostor”, um sentimento de insegurança e incapacidade de internalizar o sucesso. Muitas vezes mais preparadas e qualificadas em nível de escolaridade e competências, comumente deixam de se candidatar para posições executivas por acreditar que não estejam preenchendo 100% dos pré-requisitos para a posição.

É por isso que no setor de seguros as mulheres hoje já são maioria, representando 59% da força de trabalho total, mas quando olhamos para as posições na liderança, os homens têm 3,5 vezes mais chances de ser um executivo na empresa e duas vezes mais chances de ser um gerente companhia.

Aprendi a me posicionar profissionalmente sem ser rotulada – o que é muito difícil em nosso mercado –, a me valorizar como mulher e a me preservar de forma sensata, o que hoje vejo que fez muita diferença. Felizmente a tendência do mercado é a melhoria deste cenário e um aumento da presença feminina nos cargos de liderança.  

Mas, mais uma vez, as exigências tomaram conta de mim. Tive um AVC transitório em decorrência de uma crise de burnout, distúrbio associado a uma exaustão extrema relacionada ao estresse crônico no ambiente de trabalho. As mulheres são as mais atingidas pelo problema, por suas características femininas ligadas ao perfeccionismo e à vocação para a proteção. Fazem o contrário da regra passada pelas aeromoças para uso de máscara de oxigênio em aviões: primeiro socorrem aos outros antes de pensar em si. Tomam para si obrigações domésticas e familiares, e comumente se sentem devedoras e insuficientes, que em alguma área estão deixando a desejar.

Exaustão, irritabilidade e a sensação de que não se consegue dar conta de tudo estão entre as principais características dos pacientes identificados com a síndrome que acomete pessoas com personalidade similar. Em geral, aquelas que têm ambição mais notória, acentuado impulso competitivo, se cobram muito, são perfeccionistas e que consideram muito a opinião alheia. Pessoas muito estudiosas e apaixonadas pelo trabalho, como eu.

O AVC me fez enxergar que precisamos dar mais valor para nós mesmas, para nossa saúde, para nossa família, para o nosso entretenimento, pois as exigências não podem nos consumir tanto. Vivemos fazendo tantas coisas por dia que estamos sempre nos sentindo em débito com alguém, mas somos as primeiras negligenciadas.   

O tempo está passando muito rápido! Vamos pegar mais leve conosco, assim conseguimos naturalmente ir além. A construção da autoestima é um processo diário, que vai desde nos sentirmos bonitas na frente do espelho descobrindo a beleza diversa em nós mesmas, até a análise de que somos únicas e capazes, basta confiar em nosso potencial, estarmos preparada para as oportunidades.

Stephanie Zalcman

Formada em Direito pela FMU - Faculdades Metropolitanas Unidas, com extensão em Contabilidade e Finanças pela FGVPEC – SP e Business Management Programme Certificate pelo INSEAD, France.

Iniciou sua carreira na área jurídica, no escritório Leite, Tosto e Barros Advogados e possui 14 anos de experiência no mercado de Seguros, com atuação em Companhias como Fator Seguradora, Argo Seguros, Fairfax Holding, Howden Harmonia Corretora e na JLT Corretora de Seguros.

Atualmente é Diretora Tecnica, Operações e Estruturação da Wiz Soluções.

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