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O valor estratégico do voluntariado corporativo

O voluntariado ainda é, em muitas organizações, visto apenas como uma atividade complementar para os colaboradores. Apesar do reconhecimento do papel das organizações na proteção e no fortalecimento das comunidades, sua força como alavanca estratégica nem sempre é percebido. No entanto, existem caminhos para inseri-lo de forma estruturada na agenda da alta liderança. A seguir, destaco alguns pontos que podem viabilizar essa transformação.

1. Alinhamento com a estratégia de negócio

Ao estar conectado à estratégia da empresa e ao propósito corporativo, ele ganha relevância e legitimidade. Integrar voluntariado às metas de desenvolvimento de pessoas, produtos e serviços torna sua contribuição tangível para o negócio.

Uma empresa que lança um produto com embalagem biodegradável, por exemplo, pode estruturar ações de voluntariado ambiental que reforcem a mensagem de sustentabilidade, como mutirões de limpeza urbana, plantio de árvores e preservação de áreas verdes. Essas iniciativas sustentam o propósito em prática e fortalecem a reputação da marca, especialmente quando envolvem clientes.

Se o lançamento for de um curso para mulheres empreendedoras, o voluntariado pode ampliar o impacto social da ação, ao direcionar esforços para profissionais de baixa renda. A liberação do acesso ao curso para as pré-selecionadas pode ser acompanhada de oficinais, dinâmicas e workshops conduzidos por colaboradores envolvidos no projeto, fortalecendo a conexão entre o propósito e o público beneficiado. Essas interações trazem aprendizados mútuos, permitem testar hipóteses, coletar feedbacks e implementar melhorias.

2. Benefícios para a saúde dos colaboradores

O voluntariado também gera ganhos concretos para a saúde física e emocional. Ao se conectar com outras pessoas de maneira autêntica, o cérebro produz ocitocina, hormônio associado ao vínculo, trazendo sentimentos de prazer, segurança e bem-estar.

Estudos comprovam que essa prática ajuda a reduzir a pressão arterial, sentimentos de medo e ansiedade, além de provocar efeitos fisiológicos como redução da pressão arterial. Em 2013, pesquisadores da Carnegie Mellon University constataram que pessoas mais velhas que atuavam regularmente como voluntárias tinham 40% menos risco de desenvolver hipertensão em um período de quatro anos.

Além de fortalecer o equilíbrio emocional, o voluntariado reforça a conexão dos colaboradores com os valores e o propósito organizacionais, ampliando a senso de pertencimento e de significado no trabalho. Essa sensação de propósito contribui para maior engajamento e retenção dos talentos.

3. Desenvolvimento de habilidades comportamentais

O voluntariado é uma poderosa ferramenta de desenvolvimento de pessoas. Ao planejar e conduzir ações, colaboradores exercitam competências comportamentais fundamentais no mundo corporativo como liderança, trabalho em equipe e gestão de tempo.

Um profissional em preparação para assumir liderança, por exemplo, pode coordenar uma ação de voluntariado, passando por todas as etapas, como planejamento, engajamento do time e entrega de resultados. Já quem busca aprimorar a comunicação pode atuar com atividades de mentoria e orientação profissional, enquanto outros podem aprimorar a gestão do tempo ao assumir a coordenação de uma gincana infantil com múltiplas atividades.

O aprendizado ocorre de forma prática e muitas vezes lúdica, permitindo que colaboradores se desenvolvam de forma natural e consistente, em um ambiente seguro para que testem ideias e aprendam com os desafios.

4. Transformação cultural e M&As

O voluntariado também desempenha papel estratégico em contextos de transformação cultural e em processos de fusão e aquisição (M&A). Ele ajuda a reforçar valores organizacionais e possibilita vivenciá-los no dia a dia, o que facilita sua assimilação pelos colegas.

No caso de M&A, por exemplo, iniciativas conjuntas de voluntariado podem promover atividades de integração entre colaboradores das diferentes empresas, criando conexões humanas que extrapolam a rotina corporativa e fortalecem a construção de uma cultura comum.

Conclusão

O voluntariado, quando integrado à estratégia de negócios, deixa de ser uma ação periférica e se torna um instrumento poderoso de engajamento, desenvolvimento e fortalecimento cultural. Ele traz aprendizados de maneira envolvente e promove integração em momentos críticos da organização. Ao tratá-lo de maneira estratégica, as empresas não apenas ampliam seu impacto social, mas também potencializam sua capacidade de inovar, crescer e sustentar resultados de longo prazo.

Nathália Guerra
Especialista de ESG na WTW Brasil

Especialista em Sustentabilidade, ESG e Diversidade & Inclusão. Atualmente na WTW, lidera a estruturação e desenvolvimento da área de ESG no Brasil. Anteriormente, atuou na AXA Seguros, conduzindo projetos de impacto social, voluntariado corporativo e governança. É graduada em Relações Públicas pela USP, mestre em Cinema pela New York Film Academy, com especialização em Psicologia Organizacional e Gestão de Pessoas pela PUC-RS, e atualmente cursa MBA em Compliance e ESG na USP/ESALQ.

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