Inclusão e diversidade para mulheres pretas no mercado de segs
Por Caroline Santos
A discussão sobre inclusão e diversidade tem ganhado cada vez mais espaço nas organizações, especialmente em setores tradicionalmente conservadores, como o mercado de seguros. No entanto, quando analisamos a presença de mulheres pretas nesse ambiente, ainda existem muitos desafios a serem superados para garantir oportunidades equitativas, reconhecimento profissional e espaços de liderança.
A interseccionalidade entre gênero e raça impõe barreiras específicas para mulheres pretas no mercado de trabalho, que vão além da desigualdade de gênero enfrentada por outras mulheres e do racismo que afeta homens pretos. No setor de seguros, que historicamente foi dominado por perfis homogêneos, essas barreiras se tornam ainda mais evidentes.
Este artigo propõe discutir os desafios enfrentados por mulheres pretas, historicamente sub-representadas em cargos de liderança no mercado de seguros, e os caminhos possíveis para promover a inclusão e a diversidade de forma efetiva.
O cenário atual do mercado de seguros
O mercado de seguros, tanto no Brasil quanto em outros países, é conhecido por ser tradicional e resistente a mudanças rápidas. Historicamente dominado por homens brancos em posições de liderança, o setor tem começado a discutir a diversidade, mas os avanços ainda são tímidos. Mulheres pretas representam uma minoria invisível em cargos de liderança, e mesmo em posições operacionais, muitas vezes enfrentam desafios relacionados a preconceitos, falta de representatividade e oportunidades limitadas.
As poucas mulheres pretas que conseguem ingressar nesse mercado geralmente encontram ambientes onde são sub-representadas, não apenas em número, mas também em participação em decisões estratégicas. Essa falta de diversidade limita não só o crescimento individual dessas profissionais, mas também o potencial de inovação e adaptação do setor como um todo.
Desafios enfrentados por mulheres pretas no setor
Barreiras de acesso e oportunidades: o primeiro desafio é o acesso ao mercado. Processos seletivos muitas vezes são enviesados, favorecendo candidatos de determinados perfis socioeconômicos e raciais. Além disso, a falta de redes de contato (networking), que é essencial para crescer no setor, prejudica mulheres pretas, que têm menos oportunidades de se conectar com influenciadores e tomadores de decisão no mercado.
Racismo estrutural e invisibilidade: mesmo após a entrada no mercado de trabalho, mulheres pretas enfrentam o racismo estrutural, que se manifesta de formas sutis e explícitas. Isso inclui desde a falta de reconhecimento de suas competências até a invisibilidade em reuniões, projetos estratégicos e promoções. Muitas vezes, são associadas a papéis de menor prestígio ou enfrentam microagressões no ambiente corporativo.
Dificuldade de ascensão a cargos de liderança: a ascensão para cargos de liderança é outro obstáculo importante. A falta de representatividade faz com que as mulheres pretas não tenham modelos de sucesso no setor, o que pode desestimular o desenvolvimento de suas carreiras. Além disso, a ideia de que apenas homens brancos podem ocupar cargos de liderança dificulta o reconhecimento das mulheres pretas como potenciais líderes.
A importância da diversidade no setor de seguros
Promover a diversidade no mercado de seguros não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia de negócios. Ambientes diversos são mais inovadores, adaptáveis e capazes de compreender as necessidades de diferentes perfis de clientes. Em um setor que lida com gestão de riscos, a pluralidade de perspectivas é fundamental para identificar soluções criativas e eficazes.
Inovação e diferenciação competitiva: empresas que valorizam a diversidade conseguem criar produtos mais alinhados com as demandas do mercado. Por exemplo, uma equipe diversa pode identificar a necessidade de seguros mais acessíveis e personalizados para comunidades historicamente negligenciadas.
Conexão com o cliente: o mercado de seguros é, em essência, sobre relacionamentos e confiança. Uma equipe que reflita a diversidade da sociedade é capaz de se conectar melhor com diferentes públicos, criando relações mais autênticas e duradouras com os clientes.
Responsabilidade social e imagem da empresa: organizações que promovem a reputação fortalecem sua imagem no mercado, atraindo talentos diversos e demonstrando compromisso com valores éticos. Isso é especialmente relevante em um momento em que consumidores e investidores estão cada vez mais atentos à responsabilidade social das empresas.
Caminhos para a inclusão de mulheres pretas no mercado de seguros
Para transformar o cenário atual, é necessário que as seguradoras adotem políticas concretas e eficazes de inclusão e diversidade, indo além do discurso e promovendo ações estruturais.
Processos seletivos inclusivos: revisar processos seletivos é um passo fundamental para garantir que mulheres pretas tenham acesso ao mercado. Isso inclui práticas como currículos anônimos, bancas diversas de recrutadores e parcerias com instituições que promovem a formação de mulheres pretas em áreas relacionadas ao setor de seguros.
Programas de mentoria e desenvolvimento: criar programas de mentoria específicos para mulheres pretas pode acelerar o desenvolvimento dessas profissionais. Ter acesso a mentores que possam orientar sobre o crescimento na carreira, compartilhar experiências e abrir portas é essencial para superar as barreiras impostas pelo racismo estrutural.
Políticas de promoção da diversidade: as seguradoras devem adotar metas claras de diversidade em todos os níveis da organização, especialmente em cargos de liderança. Isso inclui a criação de grupos de afinidade que possam discutir questões relacionadas à raça e gênero, promovendo um ambiente seguro e acolhedor para mulheres pretas.
Treinamentos e sensibilização: treinamentos contínuos sobre conscientização racial, viés inconsciente e prevenção de discriminação são fundamentais para criar ambientes corporativos mais inclusivos. Além disso, é importante que essas iniciativas sejam acompanhadas de ações concretas para transformar a cultura organizacional.
Exemplos de boas práticas no setor
Algumas seguradoras e empresas do setor financeiro já começaram a adotar medidas para promover a inclusão de mulheres pretas. Programas de liderança inclusiva, ações afirmativas para contratação e iniciativas de empoderamento feminino são exemplos de boas práticas que vêm mostrando resultados.
Organizações que investem na formação de comitês de diversidade e promovem eventos internos para discutir temas relacionados a gênero e raça também estão contribuindo para a mudança do setor.
Conclusão
A inclusão de mulheres pretas no mercado de seguros é um passo essencial para a transformação do setor. Além de corrigir desigualdades históricas, a diversidade traz benefícios tangíveis para as empresas, como inovação, conexão com o cliente e fortalecimento da imagem corporativa.
No entanto, para que essa inclusão aconteça de forma efetiva, é necessário que as seguradoras adotem políticas estruturais e compromissos reais com a equidade. O caminho para um mercado de seguros mais diverso e inclusivo depende da ação conjunta de empresas, lideranças e profissionais comprometidos com a mudança. Afinal, a verdadeira inovação no setor não está apenas na tecnologia, mas também nas pessoas que o constroem.
