Mercado de Seguros

Seguro pode destravar US$ 55 bilhões em investimentos para agricultura

Durante a Cop30, a corretora global Howden, especializada em seguros de alta complexidade, lançou um relatório inédito, em parceria com o Boston Consulting Group (BCG) e com o High-Level Climate Champions, que mostra como a ausência de seguros impede o avanço de soluções sustentáveis no campo. A transição para a agricultura regenerativa no Cerrado, no Brasil, representa uma oportunidade de investimento de US$55 bilhões até 2050, dos quais mais de 80% dependem de financiamento puramente privado. E o seguro é fundamental para desbloquear esse investimento.

Os sistemas agroalimentares estão sob crescente pressão devido aos riscos climáticos, à degradação do solo e ao aumento da demanda global. Atualmente, o setor agroalimentar atrai apenas 7% dos fundos globais de financiamento climático, e menos de um quinto desses recursos chega aos pequenos produtores rurais, o que limita a adoção de práticas sustentáveis em larga escala1. De acordo com o documento, para atingir as metas climáticas e de biodiversidade, garantindo ao mesmo tempo a segurança alimentar, a agricultura regenerativa e o reflorestamento precisam ser ampliados drasticamente.

“A transição dos sistemas alimentares globais exigirá entre US$250 e 430 bilhões anualmente. No entanto, agricultores continuam desprotegidos e sem acesso a crédito, enquanto o mercado financeiro está mais seletivo em liberar capital, principalmente porque catástrofes climáticas colocam em risco o retorno do investimento. No Brasil, 48% dos agricultores justificam a falta de financiamento para a adoção de práticas regenerativas2. O seguro tem o poder catalisador para mudar esse cenário. Ao compreendermos e incorporarmos soluções de seguro desde o início — especialmente em reflorestamento, agricultura regenerativa e cadeias de valor agroecológicas —, podemos transforme capital estagnado em oportunidades de investimento e concretizar todo o potencial dessas transições”, destaca Antônio Jorge Rodrigues, Head de Resseguros de Contratos da Howden Re Brasil, braço global de resseguros e consultoria estratégica da Howden.

Potencial brasileiro

Embora o desafio seja global, o relatório destaca que poucos países têm tanto peso quanto o Brasil quando se trata de agricultura regenerativa e segurança alimentar. A região do Cerrado é uma potência global em alimentos, responsável por mais de 25% da soja mundial, 6% da carne bovina, 27% da cana-de-açúcar e 6% do milho3. Os biomas do Cerrado e da Amazônia, que juntos somam mais de 50 milhões de hectares, são descritos como fundamentais para a estabilidade climática e a oferta global de alimentos.

A transição de seus modelos produtivos para práticas regenerativas representa, segundo o BCG, uma oportunidade de investimento superior a US$92 bilhões, com retorno projetado de 15% a 29% até 2050 e benefício direto para mais de 600 mil agricultores. O potencial climático também é expressivo: 210 milhões de toneladas de CO₂ e emissões evitadas até meados do século.

Apesar desse potencial, os riscos climáticos, regulatórios e financeiros seguem amplamente desprotegidos. O relatório defende que o seguro seja reposicionado como infraestrutura essencial da transição climática. “Com as soluções corretas implementadas, seguros não serão vistos como um custo, mas como um catalisador, apoiando financiadores e formuladores de políticas, bem como o setor privado em geral, na promoção de uma transição inclusiva e resiliente”, destaca Dan Ioschpe, Climate High-Level Champion da COP30.

Neste contexto, o relatório apresenta exemplos de inovação já em curso. “Os primeiros resultados já demonstram o impacto potencial dos seguros em diversas escalas: desde a aceleração de projetos de financiamento para a transição, avaliados entre US$ 3 e 5 bilhões, até centenas de milhões de dólares em financiamentos para reflorestamento e sistemas agroflorestais, viabilizados por soluções de seguros, além de produtos de índice climático que já pagaram milhões em indenizações aos agricultores”, complementa Dan Ioschpe.

Na América Latina, a situação é desafiadora: 65% dos pequenos produtores não têm acesso a crédito, conforme os autores. E quem adota práticas regenerativas costuma enfrentar perda de rentabilidade entre 15% e 25% nos primeiros anos da transição, elevando o risco de inadimplência2.

O impacto da ausência de seguros também é sentido em economias avançadas. Anterior estudo da Howden4, encomendado pelo Banco Europeu de Investimento, as perdas agrícolas ligadas ao clima já somam €28 bilhões por ano na União Europeia e podem chegar a €40 bilhões anuais até 2050, mesmo em cenários moderados de aquecimento global.

“O seguro é o elo perdido da transição climática. Ele redistribui o risco, atrai capital e permite que mudanças reais ganhem escala. A transição para a agricultura regenerativa representa uma das maiores e mais importantes realocações de capital que veremos na próxima década”, conclui Antônio Jorge Rodrigues.

Fonte: Howden

Falar agora
Olá 👋
Como podemos ajudá-la(o)?