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Mulheres nas Finanças

Dedicatória

Dedico este trabalho a todas as mulheres que diariamente desafiam barreiras históricas e estruturais para conquistar seu espaço no mundo das finanças. Que este estudo seja inspiração para aquelas que acreditam na força do conhecimento, da educação e da independência econômica como instrumentos de transformação social.

Epígrafe

“A verdadeira riqueza de uma sociedade mede-se pelo grau de independência econômica de suas mulheres.”

— Amartya Sen, Development as Freedom (1999)

  1. Introdução
  2. Fundamentação Teórica sobre Finanças
  3. A Participação das Mulheres no Contexto Financeiro
  4. Formação Acadêmica em Finanças e Carreiras
  5. Empoderamento Feminino nas Finanças
  6. Mulheres em Cargos de Liderança Financeira
  7. Desafios e Perspectivas Futuras
  8. Biografia: Magali Rodrigues Zeller
  9. Considerações Finais
  10. Referências

Introdução

O estudo das finanças é central para o desenvolvimento econômico e social, constituindo uma área estratégica tanto no âmbito individual quanto no corporativo e governamental. A administração adequada dos recursos financeiros, aliada ao planejamento de curto e longo prazo, possibilita maior segurança, prosperidade e capacidade de investimento, sendo essencial para a manutenção do equilíbrio econômico de famílias, empresas e instituições. Tradicionalmente, entretanto, a presença feminina nesse setor foi limitada por barreiras sociais, culturais e estruturais que restringiram o acesso das mulheres à educação formal, ao mercado de trabalho e, em especial, a posições de liderança no mundo financeiro.

Nas últimas décadas, assistiu-se a uma transformação gradual desse cenário, impulsionada pelo aumento da escolarização feminina, pela ampliação da participação da mulher no mercado de trabalho e pelas políticas públicas voltadas à igualdade de gênero. No entanto, apesar dos avanços, dados recentes demonstram que ainda existem desigualdades significativas: apenas 34 % dos cargos gerenciais no setor financeiro são ocupados por mulheres (IBGE, 2024), e a diferença salarial média permanece em torno de 20 % em relação aos homens em funções equivalentes. Além disso, no Brasil, apenas 33 % das mulheres são investidoras, contra 41 % dos homens (ANBIMA, 2025), revelando a necessidade de políticas de inclusão e empoderamento financeiro.

Este artigo analisa o papel das mulheres nas finanças sob diferentes perspectivas: desde a fundamentação teórica da área até os cursos de formação acadêmica disponíveis, passando pela análise da participação feminina em cargos de liderança, no mercado de investimentos e na gestão das finanças pessoais. Pretende-se também discutir o empoderamento feminino como dimensão central para a autonomia econômica e social, destacando a importância de ampliar a representatividade das mulheres nos espaços de decisão. Por fim, apresenta-se a biografia de Magali Rodrigues Zeller, profissional que exemplifica a inserção feminina nas finanças por meio de sua atuação como atuária, perita judicial e empresária, simbolizando o protagonismo das mulheres em um campo cada vez mais estratégico.

2. Fundamentação Teórica sobre Finanças

O campo das finanças constitui-se como um dos pilares da ciência econômica, abrangendo teorias, práticas e instrumentos destinados a gerir recursos monetários e patrimoniais com vistas à eficiência, sustentabilidade e equilíbrio entre risco e retorno. De acordo com Ross, Westerfield e Jaffe (2015), a administração financeira deve ser entendida como o processo de tomada de decisão em relação à captação, utilização e alocação dos recursos disponíveis, buscando maximizar o valor de uma organização ou garantir a segurança e prosperidade de indivíduos e famílias.

Do ponto de vista acadêmico, Gitman (2010) distingue as finanças em três principais vertentes: finanças pessoais, finanças corporativas e mercado financeiro. As finanças pessoais tratam da gestão do orçamento individual ou familiar, contemplando aspectos como controle de despesas, poupança, investimentos e planejamento de aposentadoria. Já as finanças corporativas envolvem a administração dos recursos de empresas, incluindo decisões sobre estrutura de capital, fluxo de caixa, distribuição de dividendos e estratégias de crescimento. Por fim, o mercado financeiro compreende as instituições e instrumentos que viabilizam a intermediação entre poupadores e tomadores de recursos, abrangendo operações de crédito, câmbio, títulos, seguros e derivativos.

Além da divisão entre áreas de atuação, as finanças também podem ser classificadas em termos de horizonte temporal. As finanças de curto prazo estão relacionadas à liquidez e à gestão imediata dos recursos, garantindo a capacidade de cumprir obrigações. Já as finanças de longo prazo dizem respeito a investimentos e decisões estratégicas que visam ao crescimento e à sustentabilidade futura (Damodaran, 2012).

Nesse contexto, compreender a presença das mulheres nas finanças exige considerar tanto sua atuação cotidiana na gestão das finanças familiares quanto sua inserção em funções corporativas e no mercado de capitais.

3. A Participação das Mulheres no Contexto Financeiro

3.1 Histórico

A inserção feminina no mercado financeiro é relativamente recente. Até meados do século XX, a educação das mulheres era voltada majoritariamente para áreas humanísticas, e poucas tinham acesso às ciências exatas e econômicas. Com as transformações sociais e os movimentos feministas, houve uma abertura para que mais mulheres ingressassem em carreiras ligadas às finanças, economia e contabilidade.

3.2 Dados Recentes no Brasil

Segundo a Serasa (2025), 93 % das mulheres participam das finanças de casa, sendo que 33 % são as únicas responsáveis pelas contas do lar. Apesar disso, quando se trata de investimentos, apenas 33 % das mulheres brasileiras investem, contra 41 % dos homens (ANBIMA, 2025). Isso demonstra que o protagonismo financeiro feminino está fortemente ligado ao ambiente doméstico, mas ainda pouco representado no mercado formal de capitais.

3.3 Panorama Internacional

Relatórios do World Economic Forum (2024) apontam que, globalmente, as mulheres ocupam menos de 20 % dos assentos em conselhos de administração de instituições financeiras e apenas 12,5 % dos gestores de fundos de investimento são mulheres, número que no Brasil é ainda menor (5 %). Esses dados revelam o caráter estrutural da desigualdade.

4. Formação Acadêmica em Finanças e Carreiras

4.1 Cursos de Graduação

No Brasil, a formação em finanças ocorre principalmente em cursos como Administração com ênfase em Finanças, Ciências Contábeis, Economia e Ciências Atuariais, além dos tecnológicos em Gestão Financeira.

4.2 Pós-graduação e Certificações

Programas de MBA em Finanças, Finanças Corporativas e Gestão de Investimentos têm sido cada vez mais procurados por mulheres. Além disso, certificações como CFA (Chartered Financial Analyst) e CPA-20 (ANBIMA) se tornam diferenciais importantes para a inserção em cargos estratégicos.

4.3 Barreiras e Oportunidades

Apesar do aumento da presença feminina em cursos de graduação, ainda se verifica evasão em áreas de finanças quantitativas. O incentivo a bolsas de estudo e programas de mentoria, especialmente voltados às mulheres, pode reduzir essas desigualdades e ampliar sua participação.

5. Empoderamento Feminino nas Finanças

O empoderamento financeiro feminino é definido como a capacidade de tomar decisões conscientes sobre recursos, garantindo autonomia e ampliando oportunidades (ONU Mulheres, 2020). Ele possui três dimensões principais:

  • Autonomia pessoal: independência para gerir recursos, planejar o futuro e reduzir vulnerabilidades.
  • Liderança profissional: ocupar espaços de decisão em empresas e instituições financeiras.
  • Impacto social: promover a igualdade de gênero e reduzir desigualdades intergeracionais.

Estudos do Banco Mundial (2022) mostram que o aumento da autonomia financeira das mulheres está diretamente associado à redução da pobreza e ao crescimento econômico sustentável.

6. Mulheres em Cargos de Liderança Financeira

6.1 Desigualdade Persistente

Dados do IBGE (2024) mostram que apenas 34 % dos cargos gerenciais no setor financeiro são ocupados por mulheres. A diferença salarial chega a 20,7 % em média, revelando barreiras estruturais.

6.2 Casos de Sucesso Internacional

Exemplos de lideranças femininas incluem Christine Lagarde, atual presidente do Banco Central Europeu, e Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA. Ambas demonstram a importância da diversidade no comando das políticas econômicas globais.

6.3 O Caso Brasileiro

No Brasil, ainda que existam referências como Rachel Maia e outras executivas do mercado de capitais, a representatividade permanece baixa. Nesse contexto, exemplos como o de Magali Rodrigues Zeller, que construiu carreira sólida na consultoria atuarial e perícia judicial, reforçam a necessidade de valorizar trajetórias femininas em áreas técnicas e estratégicas.

7. Desafios e Perspectivas Futuras

7.1 Educação Financeira

Ampliar a educação financeira para mulheres e jovens é essencial para reduzir desigualdades. Iniciativas em escolas e programas corporativos podem acelerar a mudança.

7.2 Políticas Públicas

Medidas como cotas de gênero em conselhos de administração e incentivos governamentais para inclusão de mulheres em programas de crédito são fundamentais.

7.3 Oportunidades Digitais

O avanço das fintechs e da digitalização amplia as possibilidades de inserção feminina. Além disso, o crescimento das finanças sustentáveis (ESG) traz novas áreas de atuação em que a sensibilidade social e ambiental, muitas vezes associada às mulheres, se torna um diferencial competitivo.

8. Biografia: Magali Rodrigues Zeller

Um exemplo de protagonismo feminino nas finanças e na ciência atuarial é Magali Rodrigues Zeller, atuária, contadora, especialista em estatística e MBA em Gestão de Saúde. Com mais de 35 anos de experiência, é sócia-diretora da AT Service Atuarial, empresa fundada em 1993, referência em consultoria atuarial nos segmentos de saúde, previdência, seguros e finanças.

Magali registrada no Instituto Brasileiro de Atuária (IBA) e no CRC/SP, atuando também como perita judicial atuarial em processos relevantes de saúde suplementar, previdência e seguros. Além da atuação técnica, exerce papel ativo no fortalecimento institucional da profissão, tendo sido Conselheira, Presidente da Comissão Eleitoral do IBA, Membro Titular da Comissão de Ética e Seguros, Acadêmica da ANSP (Academia Nacional de Seguros e Previdência) e Coordenadora da Cátedra de Ciências Atuariais.

Sua trajetória reflete o avanço das mulheres nas finanças e demonstra que conhecimento técnico, visão estratégica e liderança são fundamentais para conquistar e consolidar espaço em um mercado altamente competitivo.

Considerações Finais

A presença feminina nas finanças já é expressiva nas famílias e empresas, mas permanece limitada em instâncias de poder e liderança. Para avançar, é fundamental fortalecer a formação acadêmica, ampliar a educação financeira e estimular o empoderamento feminino. A construção de políticas públicas, a valorização de trajetórias de sucesso e o estímulo à participação em novos setores, como as fintechs e as finanças sustentáveis, são caminhos para acelerar a mudança.

Assim, a equidade de gênero nas finanças não é apenas uma questão de justiça social, mas também de eficiência econômica. Experiências como a de Magali Rodrigues Zeller demonstram que mulheres qualificadas, engajadas e líderes podem transformar não apenas o mercado financeiro, mas também a sociedade como um todo.

Referências

  • ANBIMA. (2025). Mulheres planejam investir mais em 2025: segurança financeira e aumento do poder de consumo são as principais motivações. Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais. Recuperado de https://www.anbima.com.br
  • Banco Mundial. (2022). Gender equality and development. Washington: World Bank.
  • Damodaran, A. (2012). Applied Corporate Finance. Hoboken: Wiley.
  • Gitman, L. J. (2010). Princípios de Administração Financeira. São Paulo: Pearson.
  • IBGE. (2024). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua: mercado de trabalho e gênero. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
  • IMF. (2018). Women in Finance: A Case for Closing Gaps. Washington: International Monetary Fund.
  • ONU Mulheres. (2020). Princípios de Empoderamento das Mulheres. Recuperado de https://www.onumulheres.org.br
  • Ross, S. A., Westerfield, R. W., & Jaffe, J. (2015). Corporate Finance. New York: McGraw-Hill Education.
  • Serasa Experian. (2023). 88% das mulheres têm participação nas finanças da casa. Recuperado de https://www.serasa.com.br
  • Serasa Experian. (2025). 93% das mulheres participam das finanças de casa. Recuperado de https://www.cnnbrasil.com.br
  • World Economic Forum. (2024). Global Gender Gap Report 2024. Genebra: World Economic Forum.
  • Financial Times. (2024). Women in fund management: global gender gap persists. London: FT.
  • Sen, A. (1999). Development as Freedom. New York: Oxford University Press.
Magali Zeller
Socia Responsável pela área Atuarial at AT Service Eng. e Consultoria Atuarial Ltda.

Executiva do mercado atuarial, iniciou sua carreira no segmento de previdência complementar, posteriormente ingressou no segmento de seguros vida e não vida, capitalização, resseguros até chegar ao segmento de saúde suplementar, com domínio do marco regulatório e seus impactos além de ser certificada como auditora atuarial até 2025. Desde 1993 na AT Service Consultoria Atuarial com amplo conhecimento técnico e experiência na especificação e desenvolvimento de soluções inovadoras para seu negócio.

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