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Etarismo Feminino: O Peso da Idade e a Busca por um Novo Significado

O tempo passa para todas nós. No entanto, quando se trata das mulheres, o envelhecimento vem carregado de exigências, preconceitos e inseguranças. O etarismo feminino se manifesta de forma sutil ou explícita, impactando a autoestima, a carreira, os relacionamentos e até a maneira como uma mulher cuida de si mesma. Mas será que essa fase precisa ser vivida apenas como uma perda? Ou pode ser uma oportunidade para reconstrução e ressignificação?

O Envelhecimento Feminino e o Inconsciente

Na psicanálise, entendemos que a identidade feminina é construída ao longo da vida, influenciada pelo olhar do outro, pela cultura e pelos desejos inconscientes que moldam nossa relação com o corpo, o tempo e a feminilidade. O envelhecimento pode ativar angústias profundas relacionadas à perda, ao medo da solidão e ao sentimento de invisibilidade.

Desde cedo, a mulher é ensinada a se enxergar a partir da validação externa, muitas vezes vinculando seu valor à aparência e à juventude. Com o passar dos anos, ao perceber que esse olhar social se modifica ou enfraquece, pode emergir um conflito interno: “Quem sou eu, além do que esperam de mim?” Esse questionamento pode ser angustiante, mas também pode abrir caminhos para uma reconstrução subjetiva mais livre e autêntica.

As Dores do Envelhecimento Feminino

A mulher madura frequentemente enfrenta desafios que vão além das transformações físicas. No mercado de trabalho, muitas vezes vê-se descartada por um ambiente que valoriza a juventude e ignora a experiência. Na vida pessoal, sente-se pressionada a manter um padrão de beleza inalcançável, sendo bombardeada por discursos que sugerem que a feminilidade tem prazo de validade. No campo afetivo, surge o medo de não ser desejada ou de que um novo relacionamento seja impossível.

Além disso, há uma desconexão interna que pode surgir com as mudanças hormonais e emocionais dessa fase. A menopausa, por exemplo, não é apenas uma questão biológica, mas também um marco psicológico que pode abalar a identidade e a confiança de uma mulher. É como se, de repente, o mundo dissesse: “Seu tempo acabou”. O inconsciente pode interpretar essas mudanças como um luto simbólico, trazendo sentimentos de inadequação ou ansiedade sobre o futuro.

Os Sonhos que Persistem

Mas será que a idade realmente define o fim das possibilidades? Muitas mulheres, ao chegarem aos 40, 50 ou mais, começam a resgatar desejos antigos, explorar novos interesses e descobrir que ainda há muito a ser vivido. Algumas empreendem, outras buscam novos relacionamentos, algumas se reinventam profissionalmente ou encontram novas formas de prazer e bem-estar.

A psicanálise nos ensina que o desejo não se extingue com a idade. O que muda é a forma como ele se manifesta. Muitas mulheres, antes aprisionadas em papéis sociais rígidos, encontram nessa fase uma chance de viver com mais autenticidade, sem as mesmas pressões da juventude. Esse é o momento de se perguntar: “O que eu quero para mim agora?”

Como se Sentir Melhor e Resgatar o Protagonismo

Embora o etarismo seja uma realidade, ele não precisa ser uma sentença. Algumas estratégias podem ajudar na reconstrução da autoestima e na ressignificação do envelhecimento:

  1. Elaborar os lutos simbólicos: Envelhecer envolve perdas, mas também ganhos. A psicanálise nos ensina que o luto não significa esquecimento ou desistência, mas sim um processo de aceitação e ressignificação.
  2. Resgatar o desejo: Muitas mulheres deixam seus desejos em segundo plano para atender expectativas externas. Essa fase da vida pode ser uma oportunidade de reencontro com o que realmente importa para si.
  3. Desafiar os padrões: A beleza não tem idade. Se libertar de estereótipos e encontrar novas formas de se sentir bem consigo mesma é um ato de resistência.
  4. Reinventar-se profissionalmente: Nunca é tarde para aprender algo novo, mudar de carreira ou empreender.
  5. Construir novos relacionamentos: Relacionamentos saudáveis podem surgir em qualquer idade, seja no amor, na amizade ou na convivência familiar.
  6. Praticar o autocuidado: Isso inclui cuidar do corpo, da mente e das emoções, respeitando o que realmente faz sentido para cada mulher.

O envelhecimento pode ser um recomeço e não o fim. Quando uma mulher se liberta das amarras do etarismo e das idealizações que carregou ao longo da vida, ela percebe que não perdeu nada — pelo contrário, ganhou experiência, força e a chance de viver sua melhor versão.

Andrea Zouein
Psicóloga Clínica

Psicóloga clínica e psicanalista com 20 anos de experiência, especializada em acolher a jornada das mulheres, promovendo mudanças significativas em suas vidas. Com o lema "Não espere sua relação acabar para aprender a se relacionar, acolhendo sua jornada, promovendo mudanças", tenho ajudado a lidarem com questões emocionais do envelhecimento, como o etarismo e a autoestima. Foco na potência feminina, buscando ressignificar a identidade das mulheres e fortalecê-las para os desafios em sua carreira, relacionamentos e autocuidado.

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