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Setor discute papel das empresas no acolhimento à população LGBTQIA+

No mês do orgulho LGBTQIA+, a CNseg – Confederação das Seguradoras promoveu o webinar “Orgulho e Inclusão LGBTQIA+: o papel das empresas engajadas”, reunindo lideranças do setor para compartilhar histórias, iniciativas e desafios em torno da diversidade sexual e de gênero no ambiente de trabalho. O evento foi mediado por Claudia Prates, diretora de Sustentabilidade da CNseg, e teve como convidados Yuri Fernandes, jornalista e criador da websérie LGBT+60; Patrícia Penhalber, diretora de Riscos da Zurich LATAM; e Regis Oliveira, superintendente de Pessoas e Cultura da Youse Seguros.

Em tom franco e inspirador, o encontro demonstrou que empresas que promovem a inclusão vão além da responsabilidade social: elas têm o poder de transformar vidas e realidades. “Ambientes inclusivos não são só justos: são mais criativos e produtivos”, reforçou Yuri Fernandes. Ele ressaltou que diversidade amplia não só a representatividade, mas também a capacidade de inovação das empresas. “Quando você coloca pessoas com histórias diferentes na mesma sala, a criatividade e a qualidade das decisões aumentam. Isso é comprovado”, destacou. Ao longo de sua fala, ele compartilhou o caso de Vic, um colaborador trans da empresa de tecnologia C&T, que reconheceu sua identidade de gênero após ações educativas promovidas internamente.

“A empresa não só criou um ambiente seguro, como ajudou Vic a se reconhecer como trans e conduzir sua transição com apoio institucional. Hoje ele é head de desenvolvimento e aprendizagem. Se a empresa não tivesse promovido esse letramento, teria perdido um talento e uma liderança”, contou Yuri. O jornalista também citou o Corporate Equity Index, índice internacional que avalia boas práticas de inclusão com base em quatro pilares: proteção legal, benefícios equitativos, cultura corporativa inclusiva e responsabilidade social.

“Eu transicionei no mercado de seguros”

Em um dos momentos mais marcantes do encontro, Patrícia Penhalber, diretora de Riscos da Zurich LATAM, compartilhou sua jornada pessoal como mulher trans no setor segurador. Com 20 anos de experiência em empresas de tecnologia e risco, ela afirmou que transicionou após mais de uma década de carreira e que, mesmo sendo uma executiva, ainda enfrenta situações de exclusão.

“Passei dez anos em Madri e uma temporada em Hong Kong, e essa vivência me fez entender a importância dos múltiplos recortes – ser LGBT, mulher, latina, executiva. Por isso pedi para participar de um grupo de afinidade na Zurich, e hoje sou patrocinadora do grupo LGBTQIA+”, relatou.

Patrícia defendeu que as empresas devem revisar cláusulas e perfis de risco que possam, ainda que indiretamente, excluir pessoas LGBTQIA+. “Se uma seguradora não oferece cobertura ou impõe condições discriminatórias a pessoas trans, por exemplo, ela está contribuindo para a exclusão. Precisamos olhar com atenção para isso”, alertou. Ela também reforçou que saúde suplementar com acesso digno para pessoas trans é uma das maiores urgências do setor.

“Não basta contratar. É preciso escutar”

Regis Oliveira, da Youse Seguros, ressaltou a importância da escuta ativa como elemento-chave na construção de uma cultura inclusiva. “O PowerPoint aceita tudo. Mas inclusão real só acontece quando sai da apresentação e vira prática”, afirmou. Ele contou que a Youse tem investido em formação da liderança, criação de vagas afirmativas e ações de letramento contínuo.

“Não adianta abrir vaga afirmativa se a pessoa, ao entrar, não encontra espaço, não tem escuta ou não é tratada com equidade. A sexualidade precisa estar em segundo plano quando falamos de desempenho, liderança e crescimento”, pontuou.

Regis compartilhou ainda sua experiência pessoal como pai em uma família homoafetiva, destacando as barreiras enfrentadas para registrar filhos, acessar serviços públicos e matricular crianças na escola. “Quando meu filho foi ao posto de saúde, não havia campo para dois pais. Na escola, nunca tinham recebido um casal homoafetivo. Mas fomos escutados, e a escola criou um projeto de diversidade familiar que hoje faz parte da grade”, contou. Para ele, esse é o caminho: sensibilizar pelo exemplo, dialogar e agir.

Representatividade que transforma

Claudia Prates, ao mediar o debate, reforçou o papel das seguradoras como agentes de mudança social. “Representatividade salva vidas, mas também transforma perspectivas. É um ciclo que começa com escuta e termina com impacto – no negócio, na cultura e na sociedade”, afirmou. Ela também lembrou que a CNseg mantém ativa a Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão, com o objetivo de promover trocas, benchmarks e boas práticas entre as empresas do setor.

O evento trouxe à tona a necessidade de ações concretas e estruturadas – que vão desde o letramento interno e revisão de políticas até a criação de produtos mais inclusivos. E reforçou que o compromisso com a diversidade precisa ultrapassar as datas comemorativas: deve estar no centro da cultura corporativa e no cotidiano das decisões.

Desafios destacados pelos participantes:

Revisão de cláusulas contratuais e critérios de risco que excluam pessoas LGBTQIA+;

Inclusão de pessoas trans com acesso igualitário à saúde e benefícios;

Letramento contínuo da liderança e criação de vagas afirmativas com acompanhamento;

Representatividade verdadeira nas campanhas e nos cargos de liderança;

Escuta ativa e espaços seguros para expressão e pertencimento;

Comunicação inclusiva em processos seletivos e produtos;

Adoção de políticas explícitas contra LGBTfobia, com canais seguros para denúncias.

Fonte: Sonho Seguro – Denise Bueno

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