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Virei sessentona, e agora?

Cheguei aos sessenta. E, para ser sincera, não foi como me pintaram. Não me senti

repentinamente frágil, desinteressante ou obsoleta. Nem com menos energia, pelo menos

não até agora.

Pelo contrário, sinto um vigor renovado, uma sede de vida e uma clareza de propósito que

talvez nem tivesse aos vinte. Mas essa não é a história de todas as mulheres da minha

idade. Muitas, infelizmente, se veem presas em uma teia de preconceitos e expectativas

limitantes, o chamado etarismo.

O etarismo, essa forma velada de discriminação baseada na idade, nos rouba a autonomia,

nos silencia e coloca em um lugar de invisibilidade. Somos rotuladas como “velhas”,

“ultrapassadas”, “incapazes”, e isso nos impede de ocupar espaços, de expressar nossas

opiniões e de viver plenamente.

Mas eu digo: pra cima de mim, negativo! Chegou a hora de a revolução prateada ganhar

força. Nós, mulheres de sessenta, setenta, oitenta e além, temos muito a oferecer.

Trazemos a bagagem da experiência, a sabedoria acumulada ao longo dos anos, a

resiliência forjada nas batalhas da vida.

E não vamos permitir que ninguém nos diga que nosso tempo acabou.

O mito da inatividade: desconstruindo a narrativa do envelhecimento

Um dos mitos mais persistentes do etarismo é a ideia de que a velhice é sinônimo de

inatividade. Desde quando a idade te impossibilita de produzir, entregar, ser criativa,

agregar valor à sociedade?

Parar de trabalhar e se aposentar pode ser uma opção. Na verdade, você tem a liberdade

de escolher como quer usar seu tempo e seu caminho. Se alguém me fala, “o mercado não

aceita mais mulheres acima de 50 anos” – eu rebato. Talvez nem todas as empresas

aceitem, mas vamos ampliar o número de empresas abertas para essa experiência tão

positiva. Eu não generalizo nem me coloco no papel de vítima. Eu passo da informação

para a ação.

Muitas de nós estamos mais ativas do que nunca. Continuamos trabalhando, estudando,

viajando, praticando esportes, envolvidas em projetos sociais, com sonhos, muitos sonhos a

realizar.

Eu, por exemplo, comecei um curso de vinho e agora estou criando treinamentos para

liderança com base na história do vinho. Descobri uma paixão que me dá alegria, me

conecta com a minha criatividade e me permite expressar o mundo de uma forma única. E

conheço muitas outras mulheres que estão fazendo coisas incríveis nesta fase da vida:

abrindo negócios, escrevendo livros, aprendendo novas línguas, dançando até o sol nascer.

A velhice não é um declínio, mas sim uma nova etapa, com seus próprios desafios e

oportunidades. E cabe a nós, mulheres, reescrever essa narrativa, mostrar ao mundo que a

vida depois dos sessenta pode ser vibrante, produtiva e cheia de significado.

Novas abordagens: empoderamento, visibilidade e solidariedade

Para combater o etarismo e construir um futuro mais inclusivo, precisamos de novas

abordagens, que valorizem a diversidade e celebrem a beleza da experiência. Isso começa

dentro de cada uma de nós, brigando com os próprios preconceitos.

● Empoderamento: seja empoderada, reconheça seu valor e ocupe os espaços que

te pertencem. Compartilhe suas histórias, inspire outras mulheres e corra atrás de

seus sonhos.

● Visibilidade: brilhe, você precisa ser vista, ouvida, reconhecida. Somos mulheres

multifacetadas, com desejos, ambições e potencialidades.

● Solidariedade: crie redes de apoio, onde possa compartilhar alegrias e angústias,

trocar experiências.

O papel das novas gerações

E aqui, faço um apelo às novas gerações: olhem para nós com curiosidade, com admiração,

com respeito. Aprendam com a nossa experiência, valorizem a nossa sabedoria, caminhem

ao nosso lado na construção de um futuro melhor.

O etarismo não afeta apenas a nós, mulheres mais jovens por mais tempo. Ele prejudica a

todos, ao nos privar do potencial de uma parcela significativa da sociedade. Quando

segregamos as pessoas por idade, perdemos a riqueza da diversidade, a força da

colaboração entre gerações, a beleza da troca de experiências.

A vida começa agora

A vida começa a cada toque de consciência. Ah, mas eu não me dei conta: dê conta agora.

Ah, deixei passar tanta coisa. Não deixe o tempo passar: crie, faça, empreenda.

Não há freios na sua capacidade de gerar novas ideias. De empreender um novo capítulo

na vida.

Celebre a idade

Sonho com um futuro onde a idade seja apenas um número, onde as mulheres de todas as

idades se sintam livres para ser quem são, para perseguir seus sonhos, para viver

plenamente. Um futuro onde o etarismo seja apenas uma lembrança de um passado que

superamos.

E eu acredito que esse futuro é possível. Depende de nós, mulheres, de nossa união, de

nossa força, de nossa determinação. Depende de cada uma de nós se levantar, erguer a

voz e dizer: virei sessentona, e estou pronta para o que der e vier!

Vamos juntas construir essa nova era, onde a idade é celebrada, a experiência é valorizada

e a vida é vivida em toda a sua plenitude.

Com carinho e esperança,

Vera Lorenzo
CEO at Fala Company

Vera Lorenzo é CEO da Fala Company, empresa fundada por ela na Holanda em 1991. É apaixonada por inspirar e transformar pessoas. Formada em Comunicação pela UFRJ e em Letras pela Universiteit van Amsterdam, Vera é Master Coach e Storyteller. Fala 5 idiomas e é autora do livro "50 coisas para fazer antes dos 50" e co-autora do livro "Mulheres que Transformam"

Vera Lorenzo and Sou Segura

Vera Lorenzo é CEO da Fala Company, empresa fundada por ela na Holanda em 1991. É apaixonada por inspirar e transformar pessoas. Formada em Comunicação pela UFRJ e em Letras pela Universiteit van Amsterdam, Vera é Master Coach e Storyteller. Fala 5 idiomas e é autora do livro "50 coisas para fazer antes dos 50" e co-autora do livro "Mulheres que Transformam"

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