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Liderança feminina em tempos de polarização: o fardo invisível das mulheres no poder

Ser mulher e ocupar um cargo de liderança sempre foi desafiador. Mas, nos últimos anos, a complexidade dessa jornada atingiu um novo patamar.

Como diria a sábia Simone de Beauvoir:

“Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida.”

Em tempos como os que vivemos, liderar significa navegar por um campo minado, onde qualquer posicionamento pode ser visto como um ato de resistência ou como uma ameaça à ordem estabelecida.

Como continuar avançando quando tantas forças parecem nos puxar para trás?

As mulheres líderes de hoje não carregam apenas a responsabilidade de tomar decisões estratégicas e entregar resultados; elas também precisam lidar com o custo emocional e social de serem figuras em um ambiente cada vez mais polarizado.

Se antes falávamos sobre a síndrome da impostora e o duplo padrão de julgamento entre homens e mulheres na liderança, hoje a conversa tomou outra proporção. Agora, além de provar competência constantemente, as mulheres em posições de poder precisam escolher com extrema cautela cada palavra, cada posicionamento e até mesmo o tom de voz utilizado.

Isso porque, dependendo do contexto, qualquer discurso pode ser interpretado como “político demais” ou “corporativo demais”, “agressivo” ou “submisso”. O espaço para erros ou para ajustes de rota é mínimo – e a régua da aceitação é sempre mais rígida para nós.

O ambiente corporativo sempre teve filtros invisíveis para a ascensão feminina, mas, ultimamente, esses filtros parecem mais explícitos do que nunca. O que antes eram micro agressões sutis agora são posicionamentos diretos contra a diversidade, disfarçados de discursos sobre “foco em resultados” e “mérito acima de tudo”.

Com isso, a mulher que insiste na pauta da equidade passa a ser taxada de “chata”, “combativa” ou “vitimista”. O jogo pode ser perverso, porque as regras mudam o tempo todo e o espaço de aceitação nunca é plenamente garantido.

Ao mesmo tempo, cresce o fenômeno do “silenciamento estratégico”, em uma agenda anti-woke – onde, ao invés de serem demitidas ou afastadas, as mulheres são colocadas em posições de menor influência, excluídas de reuniões importantes ou simplesmente ignoradas nas decisões que realmente importam.

Isso gera um ciclo perigoso: sem espaço para atuação real, muitas líderes começam a se autocensurar, evitando temas sensíveis ou reduzindo sua presença para evitar conflitos.

Mas será que essa é a solução? Pergunto-me: o banimento das Políticas de DEI: retrocesso ou nova oportunidade?

Nos últimos anos, muitas empresas deixaram de investir em iniciativas estruturadas de Diversidade, Equidade e Inclusão. O que antes era um movimento global de conscientização e transformação organizacional passou a ser visto por alguns líderes como um “custo desnecessário” ou, pior, como uma ameaça .

Mas se as grandes políticas institucionais estão sendo desmanteladas, será que a solução não está justamente na ação individual e no fortalecimento das redes femininas dentro das organizações?

Se os canais formais estão se fechando, talvez seja hora de intensificarmos os movimentos chamados informais:

– Criando mentorias internas para apoiar mulheres em ascensão.

– Fortalecendo nossa rede de contatos e ampliando oportunidades para outras líderes.

– Influenciando a cultura da empresa por meio do exemplo, mesmo sem rótulos oficiais de DEI.

– Utilizando nossa voz para garantir que essas pautas não desapareçam da mesa de discussões.

Liderança nunca foi apenas sobre tomar decisões estratégicas. Sempre foi – e sempre será – sobre criar impacto. E talvez, agora, o impacto precise ser construído de formas mais silenciosas, mas igualmente poderosas.

Liderar Nunca Foi Para as Fracas – e Nunca Será!

Em tempos difíceis, é tentador recuar, baixar a guarda e esperar por um ambiente mais favorável. Mas a história nos mostra que os avanços nunca vieram com facilidade – e que as mulheres que realmente deixaram sua marca no mundo foram aquelas que, mesmo diante de resistência, seguiram em frente.

Porque liderar sendo mulher nunca foi apenas sobre ocupar um cargo. Sempre foi sobre abrir caminhos – mesmo quando tentam nos fechar as portas.

Fernanda Chilotti
CEO & Founder at Chilotti Advice & Consulting

Neta de Izabel, Filha de Izilda e de Oxum, Casada com Adriana e apaixonada por viagens, café e vinhos. Há mais de 20 anos atuando com Pessoas, hoje CHRO e Trusted Advisor atuo com parcerias sustentáveis ​​com Sr Leadership e C-Suite, via Aconselhamento, Mentoria e estratégias de negócios forjadas em DE&I. Trago na bagagem organizações como Banco Santander, Henkel, Messer Gases, Marsh McLennan, para mencionar algumas.

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