Artigos

Crises Climáticas: A urgência de reavaliar riscos e proteções com respostas humanizadas

Nos últimos anos, o mundo tem testemunhado um aumento preocupante na intensidade e frequência de eventos climáticos extremos, como enchentes, furacões e ondas de calor. Esses fenômenos, que antes eram exceções em muitas partes do Brasil e do mundo, agora demandam um novo olhar dos gestores de riscos e das seguradoras, exigindo uma visão estratégica e adaptável, capaz de antecipar cenários inéditos e ajustar programas de seguros para cobrir eventos que não faziam parte do planejamento das empresas.

Para o gestor de riscos, um dos maiores desafios é justamente prever o que parece imprevisível. Enchentes devastadoras, como as que impactaram o Rio Grande do Sul, e furacões cada vez mais destrutivos, como o Milton nos Estados Unidos, são lembretes de que os dados históricos já não bastam para orientar as decisões. Antecipar eventos dessa magnitude em áreas que, até recentemente, não apresentavam riscos climáticos significativos requer uma abordagem inovadora e uma visão que considere os impactos de longo prazo. Empresas que já adotaram essa postura preventiva têm conseguido mitigar perdas e responder rapidamente às crises.

No entanto, a gestão de crises climáticas não é um trabalho exclusivo dos gestores de riscos. As seguradoras também desempenham um papel crucial nessa resposta. Ao atuar além das soluções financeiras, seguradoras que adotam uma postura de flexibilidade e empatia em momentos críticos se destacam no setor. Durante desastres naturais, algumas seguradoras têm criado alternativas para acelerar os processos de sinistros, flexibilizado cláusulas e, mais do que isso, exercido um olhar humano, essencial para apoiar empresas e indivíduos em situações difíceis. Essa abordagem solidária e ágil reforça a importância de uma parceria profunda e ativa entre gestores de riscos e seguradoras, criando uma base sólida para desenvolver coberturas que estejam preparadas para os novos riscos que surgem com as mudanças climáticas.

Por outro lado, a alta frequência de eventos climáticos extremos traz também impactos financeiros significativos para o mercado segurador. Nos últimos anos, o setor enfrentou desafios de subscrição e revisões nas taxas, refletindo o custo crescente de desastres naturais. De acordo com o artigo publicado por Roseli Loturco para o Valor Econômico, as perdas somente na primeira metade de 2024 somam mais de US$ 120 bilhões, sendo 68% delas decorrentes de eventos climáticos extremos, como tempestades, inundações e incêndios florestais. O Brasil costuma representar 1,5% das perdas globais com eventos climáticos severos, no entanto com a tragédia do Rio Grande do Sul, este percentual deve aumentar, já que foram mais R$ 5,8 bilhões em perdas seguradas até julho de 2024 e este número deve chegar a R$ 10 bilhões. Foram mais de 60 mil pedidos de indenização e o total das perdas deve chegar a R$ 100 bilhões.

Este cenário leva o mercado a revisar a precificação de coberturas e a busca por soluções mais abrangentes. Além disso, também impulsiona uma mudança na forma como as empresas e seguradoras pensam sobre responsabilidade ambiental e social, abraçando o conceito ESG (ambiental, social e governança). Empresas que já incorporaram práticas sustentáveis e uma governança robusta em seus programas de risco demonstram maior capacidade de resiliência, não apenas para enfrentar crises climáticas, mas também para ganhar a confiança de stakeholders e das comunidades. O investimento em práticas ESG faz com que essas organizações estejam mais preparadas e melhor posicionadas para enfrentar desafios futuros, com respostas mais rápidas e eficazes.

À luz dessas transformações, o convite para gestores de riscos e seguradoras é claro: atuar de forma colaborativa e inovadora para construir um futuro resiliente. Para os gestores, a mensagem é que incluir riscos climáticos emergentes no planejamento é fundamental para proteger os negócios, os ativos e as pessoas. Já para as seguradoras, o desafio é enxergar os pedidos inéditos com um olhar criterioso, buscando desenvolver coberturas que respondam aos novos riscos que o cenário atual impõe. Somente com essa parceria, que reúne antecipação, inovação e uma abordagem humana, será possível construir uma governança de riscos robusta e alinhada aos novos tempos – um futuro onde a resiliência corporativa não é apenas uma vantagem, mas uma necessidade.

Carolina Pinheiro
Gerente de Seguros e Governança de Tesouraria at Grupo Boticário

Carolina possui mais de 20 anos de experiência no mercado de Seguros, com atuação em seguradoras, corretoras e, predominantemente, como gestora de riscos e seguros em grandes empresas como Grupo Globo e Grupo Boticário. Formada em administração de empresas pela ESNS, especialista em Gestão de Projetos pela FGV e mais recentemente assumiu mais um desafio de estruturar uma área de Governança de Tesouraria, responsável pela gestão de projetos, dados e inovação.

Falar agora
Olá 👋
Como podemos ajudá-la(o)?