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Caminho aberto para a inovação no mercado de seguros

Já sem as amarras regulatórias, o mercado segurador inicia os ajustes ao ambiente de flexibilização em vigor desde o ano passado.

No caso de produtos massificados, abre-se caminho para o desenho de ofertas inovadoras e a combinação de coberturas (oferta conjugada), sem a necessidade de autorização prévia do regulador.

As companhias do setor avaliam que a adequação ao novo cenário dará um novo dinamismo ao mercado, com o acirramento da concorrência e o aumento da penetração de seguros no Brasil, que é muito baixa em comparação às economias mais avançadas. A padronização dos produtos de seguro era uma característica do setor.

Com as condições gerais, particulares e especiais das apólices ditadas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), qualquer novidade das seguradoras para o mercado dependia de aprovação, o que muitas vezes demorava muito tempo. “Perdiam-se janelas de oportunidades por causa disso”, observa Cássio Amaral, sócio da prática de seguros, resseguros e previdência privada do escritório Mattos Filhos Advogados.

O procedimento agora ficou mais simples: basta fazer junto ao regulador o registro do produto com a respectiva nota técnica atuarial. Um dos aspectos positivos do novo ambiente é a mudança na forma de competição: antes ditada pelo preço do prêmio, a disputa pelo mercado tende a ser baseada nos serviços embarcados nas apólices.

Além de trabalhar com coberturas mais abrangentes, outra frente de inovação que poderá ser determinante na concorrência diz respeito à melhoria da experiência do cliente, tanto na contratação do seguro quanto na gestão da apólice.

As seguradoras podem inovar também na velocidade de pagamento do sinistro, cujo trâmite atualmente gira em torno de 30 dias, acrescenta Amaral.

O ritmo de adequação ao novo ambiente regulatório é considerado lento, mas representa um passo importante para a exploração de mercados que ainda não possuem cobertura de seguros.

Além das operações bancárias, Bárbara Bassani, sócia na área de seguros e resseguros do escritório TozziniFreire Advogados, enxerga oportunidades nas coberturas relacionadas a novas tecnologias, para fazer frente aos novos riscos a que a sociedade está sujeita. “As seguradoras tendem a buscar nichos por conta da segmentação do mercado”, acredita.

A Willis Towers Watson (WTW) pretende aproveitar a onda da segmentação para diversificar a carteira. Ainda neste ano, a corretora deve incluir no seu portfólio a cobertura destinada às pessoas que utilizam a bicicleta para prática esportiva, como meio de transporte e para lazer.

Segundo Raquel Silva, diretora de afinidades e parcerias da corretora, a contratação de seguros neste segmento no Brasil cresceu 35% até o fim do ano passado, enquanto a quantidade de roubos e furtos evoluiu 74,5% no mesmo período.

No segundo semestre, a WTW pretende lançar seguro que cobre prejuízos decorrentes de transações financeiras eletrônicas (inclui operações via Pix, TED e DOC) realizadas sob ameaça, coação ou sequestros, em pacotes que podem combinar coberturas de outros tipos de produto que já fazem parte do portfólio de ofertas, como o bolsa protegida, roubo/furto de celular e serviços de assistência ao segurado que foi vítima de ação criminosa. “A ideia é mapear todas as necessidades para oferecer cobertura que seja efetiva em termos de benefícios e que caiba no bolso do cliente”, explica Raquel, acrescentando que a carteira tem potencial para representar de 8% a 10% da operação da corretora.

A Generali Brasil Seguros já formalizou parceria com o BMG, Agibank e Daycoval para oferecer seu seguro que protege transações financeiras eletrônicas, lançado no fim do ano passado.

Cláudia Lopes, diretora comercial e de marketing da companhia, acredita que produtos desse tipo têm potencial para atingir em três anos o mesmo nível de penetração do seguro de roubos e perdas de cartão de crédito, que ela estima em 40% do mercado, considerando o universo de pessoas físicas. A seguradora tem como meta abocanhar uma fatia de 2% a 3% desse bolo no período.

Para expandir a carteira – que ao lado do seguro para roubo e furto de celulares representa menos de 10% da operação –, a Generali pretende formalizar parcerias com outras instituições financeiras e com redes varejistas. As operadoras de telefonia celular também estão no radar.

No primeiro trimestre deste ano, a área de massificados da seguradora cresceu 38% em relação ao mesmo período de 2021. “Isso se deve à retomada do varejo, que é um dos principais canais do segmento de massificados, e ao aumento da demanda por crédito nos bancos, que impulsiona o seguro prestamista”, afirma Cláudia.

A seguradora tem como meta terminar o exercício de 2022 com R$ 900 milhões em prêmios emitidos. A segurança das transações financeiras eletrônicas é alvo das atenções também da Zurich Seguros, que busca novos parceiros dos setores financeiro e varejista interessados na distribuição de seus produtos.

Já há acordos firmados com o Banco Mercantil do Brasil e com o C6 Bank – acordo anunciado em fevereiro, que envolve a oferta personalizada do seguro C6 Conta para clientes pessoa física e jurídica.

A projeção de Luís Reis, diretor-executivo de parcerias da seguradora, é comercializar cem mil apólices até meados do ano. “É um produto acessível, por isso deve crescer bastante.” O executivo revela que a Zurich está estruturando um novo produto que aglutinará a cobertura de roubos/furtos e danos de celulares, proteção de transações financeiras realizadas com aparelhos roubados e risco a vítimas de crime.

Consolidado no portfólio da seguradora e com boa penetração no mercado, o seguro para equipamentos eletrônicos e portáteis foi lançado há alguns anos, tem aproximadamente três milhões de segurados e representa 25% da operação da seguradora com massificados.

O crescimento do mercado de seguro residencial tem sido impulsionado pelo isolamento social e a implementação do regime de trabalho home office. Com a flexibilização, a expectativa gira em torno de uma expansão ainda maior dessa modalidade. Por outro lado, como tem baixo índice de penetração – estima-se em apenas 20% a taxa de residências cobertas –, existe um espaço grande para expansão. A inclusão de serviços de assistência 24 horas e a cobertura de equipamentos eletrônicos utilizados para o trabalho de home office estão contribuindo para o incremento da demanda, afirma Manes Erlicham, diretor da Minuto Seguros. Nos dois primeiros meses do ano, a corretora registrou um aumento de 95% no volume de contratações comparado ao mesmo período de 2021. No exercício passado, as contratações foram 46% superiores às de 2020. Como grande apelo da modalidade, o executivo da Minuto Seguros destaca o fato de ser proporcionalmente mais barato que outros tipos de seguro. “Por valores muito menores que o seguro de automóveis, a pessoa protege a sua residência, que em muitos casos é o seu bem de maior valor, se não o único”, compara. Outra vantagem, prossegue, é que não há a necessidade de se fazer a cobertura total do imóvel, ou seja, o segurado pode contratar apólice para cobrir parte do seu valor, por um preço mais acessível ao bolso. O incremento da demanda por seguro residencial impactou de forma positiva a operação da Allianz Seguros. De acordo com David Beatham, diretor-executivo de automóvel, massificados e vida da seguradora, a modalidade cresceu 15,3% em fevereiro deste ano comparado ao mesmo mês de 2021. No acumulado de janeiro e fevereiro de 2022, a alta foi de 15,8% em relação ao primeiro bimestre do exercício passado. “Embora o seguro de automóvel no nosso setor seja predominante, o interesse das pessoas em proteger suas residências tem aumentado.” Além da mudança de comportamento do segurado, Beatham aponta outros dois fatores como preponderantes para o bom desempenho da carteira de seguro residencial. Um deles é a oferta de pacotes que garantem a cobertura desde a residências mais simples até a propriedades de alto padrão. Além disso, a companhia identificou um aumento nas contratações de seguro para casas de veraneio. Entre janeiro e dezembro de 2021, a demanda por este tipo de seguro foi 98% maior que a registrada no mesmo período do exercício anterior. A seguradora promoveu adaptações na modalidade residencial desde a aquisição das carteiras de automóveis e massificados da SulAmérica, em 2020: ampliou o portfólio de ofertas, apresentou novos planos de assistência 24 horas e introduziu novidades em termos de indenização. O resultado é que o seguro residencial passou a ter maior representatividade na operação com massificados. Nos dois primeiros meses deste ano, foi responsável por 41% do faturamento registrado pela Allianz no segmento. Na estratégia desenhada para a exploração do mercado de seguros, o PNB Paribas Cardif alia a comercialização de apólice com a oferta do que a seguradora chama de “ecossistemas de serviços para proporcionar uma melhor experiência ao cliente”. Na linha de proteção de dados na internet, por exemplo, os segurados têm à disposição (de forma gratuita) consultores que dão orientações para prevenção de tentativas de fraudes. O objetivo é evitar a exposição aos riscos decorrentes do vazamento de dados, que causam não apenas danos financeiros, como também à reputação. A companhia não revela o tamanho da carteira e tampouco a sua representatividade na operação. Com a demanda em alta, devido à digitalização crescente da população, expandiu o portfólio de ofertas: no ano passado, apresentou um novo produto de seguro para cobrir perda, roubo e furto, além de compras, saques em dinheiro e transferências via Pix realizadas sob coação. “Adaptamos as proteções de acordo com a necessidade do mercado, assim como dos nossos parceiros e clientes”, explica Marcel Dorf, diretor-executivo comercial, de marketing e digital do PNB Paribas Cardif. Enquanto o mercado normalmente oferece coberturas para o segmento corporativo, o PNB Paribas Cardif explora o segmento de pessoas físicas. Para isso, conta como aliada a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que, na avaliação de Dorf, contribui para aumentar a conscientização das pessoas sobre a importância do seguro para proteção de dados na internet. Para suprir a demanda crescente, faz parte dos planos ampliar o escopo de coberturas e incluir novos serviços gratuitos aos segurados. Além da oportunidade de explorar novos mercados, as mudanças regulatórias tendem a modificar a forma de contratação de seguros. Novas empresas estão surgindo no mercado com modelos de comercialização e de cobrança diferenciados. É o caso da Simple2u, uma insurtech do grupo MAG, que iniciou suas operações em fevereiro deste ano. Com uma operação totalmente digital, a seguradora criou cinco pacotes de assistência (auto, bicicleta, pet, residência e saúde) que acompanham os seus produtos. A comercialização de seguro se baseia no modelo on demand, no qual o segurado contrata por tempo determinado. Leonardo Lourenço, diretor da Simple2u, explica que as coberturas podem ser ativadas e desativadas a qualquer momento, manualmente ou de forma automática, permitindo que as proteções estejam conectadas às rotinas dos segurados. Nesse modelo, o segurado conta com uma wallet de seguro, em que efetua o pré-pagamento da apólice. No caso de desativação do seguro antes do período determinado, a seguradora devolve o valor correspondente ao restante do tempo.  

Fonte: NULL

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