Planos de saúde têm perdas, enquanto hospitais lucram
A pandemia provocou impactos distintos entre os grupos de saúde. No ano passado, as operadoras e seguradoras viram seus lucros saltarem a níveis recordes devido ao cancelamento de procedimentos eletivos – levando, inclusive, o setor a registrar pela primeira vez em sua história uma deflação médica. Já os hospitais, clínicas e laboratórios de medicina diagnóstica amargaram prejuízo ou tiveram lucro pífio, uma vez que a conta dos pacientes acometidos pela covid-19 é menor quando comparada aos custos de cirurgias e exames de alta complexidade.
Em 2021, o jogo virou. Os pacientes, que estavam praticamente há um ano sem pisar num consultório, voltaram a realizar procedimentos médicos e, em março, veio a segunda onda da covid-19, numa intensidade muito maior do que a primeira.
O resultado desse movimento fica claro nos balanços do segundo trimestre das companhias abertas que atuam no setor. Os hospitais e laboratórios reverteram os resultados negativos apurados no mesmo período do ano passado. Já as operadoras e seguradoras, que pagam essas contas médicas, tiveram prejuízo ou viram o lucro cair até 92%. Tivemos o melhor trimestre no ano passado e agora tivemos o pior na história da companhia, disse Irlau Machado, presidente da NotreDame Intermédica. A operadora apurou um prejuízo de R$ 48 milhões, no segundo trimestre, ante um lucro de R$ 223,4 milhões um ano antes.
Os custos da covid-19 somaram, entre abril e junho, R$ 358 milhões, quase R$ 100 milhões a mais em relação ao primeiro trimestre.
A Porto Seguro Saúde também saiu de um resultado positivo de R$ 50 milhões para um negativo de R$ 1,3 milhão.
O lucro líquido da Hapvida caiu 62,5%, entre abril e junho. Na SulAmérica, a última linha do balanço apresentou queda de 92,6% e na Bradesco Saúde, a redução foi de 56,8%.
Já entre os prestadores de serviço, praticamente todas as empresas listadas em bolsa saíram de prejuízo para lucro neste trimestre.
A Rede DOr, que tinha amargado um resultado negativo de quase R$ 300 milhões, viu a última linha do balanço subir para um lucro de R$ 445,5 milhões.
O mesmo ocorreu com a Dasa que reverteu o prejuízo de R$ 343 milhões para um lucro líquido ajustado de R$ 451,5 milhões.
O Fleury saiu de um indicador no vermelho de R$ 73,3 milhões para fechar o segundo trimestre no azul, com R$ 65,5 milhões, mesmo considerando o ciberataque sofrido no fim de junho.
A Alliar deixou pra trás o prejuízo de R$ 84,6 milhões e lucrou R$ 10,4 milhões. A rede mineira de hospitais Mater Dei viu seu lucro saltar nove vezes para R$ 53 milhões.
O grupo de medicina diagnóstica Hermes Pardini, cujos resultados serão divulgados hoje após o fechamento do mercado, também deve trazer resultados fortes.
Segundo projeções da XP, o lucro líquido da rede deve ter um incremento de cerca de oito vezes. A expectativa é que esse cenário de retomada de procedimentos médicos se mantenha nos próximos meses.
O volume de exames nos laboratórios vem crescendo, o que pode significar cirurgias futuras, e ainda há um chamado estoque de procedimentos não realizados no passado que podem vir acontecer. Além disso, há a possibilidade de surgimento de casos complexos de pacientes que não realizaram seus check-ups nos últimos meses.
No entanto, vale ponderar que pode haver mudanças nesse cenário, caso a variante Delta se alastre de forma relevante. Por outro lado, com o arrefecimento da covid-19, o impacto da doença será menor nos próximos trimestres para as fontes pagadoras. Os resultados refletem a segunda onda da covid-19, é um impacto transitório, mas ainda trará algum reflexo, pequeno, no terceiro trimestre, informou relatório dos analistas do Credit Suise.
As operadoras verticalizadas Hapvida e Intermédica tendem a ser mais beneficiadas com a redução de internações de pacientes acometidos pelo novo coronavírus. Isso porque elas estão reduzindo a infraestrutura para esses atendimentos.
A Hapvida, por exemplo, tinha no auge da pandemia 1,6 mil leitos para covid e, atualmente, são cerca de 100 e houve uma redução de 80% no efetivo de pessoal que atendia os pacientes com a doença.
Entre as fontes pagadoras, a Bradesco Saúde é a que teve o maior impacto dos custos da covid19 no segundo trimestre.
A conta bateu em R$ 1, 8 bilhão, o que refletiu na taxa de sinistralidade de 95,1%, o que representa uma alta de 25,1 pontos percentuais sobre igual período de 2020. O desempenho do lucro líquido no trimestre foi impactado pela elevação do índice de sinistralidade, que foi afetado pela frequência dos eventos relacionados à covid-19, devido ao aumento da necessidade de assistência médico hospitalar, diagnósticos, consultas, internações, eventuais consequências pós-Covid-19, retomada dos procedimentos eletivos, informa relatório de resultados do Bradesco.
Na SulAmérica, esse custo foi de R$ 468 milhões, o que levou o sinistro a aumentar 16,2 pontos percentuais, para 85,7%.
As seguradoras não possuem rede própria e por isso os gastos médicos são maiores. Na Hapvida, cujo atendimento é feito praticamente todo em unidades próprias, a conta da covid foi de R$ 153,5 milhões, mas ainda assim a taxa de sinistralidade subiu na mesma proporção da SulAmérica.
Apesar dos números negativos na rentabilidade das operadoras, a receita de todas cresceu devido a aquisições e entrada de novos usuários. Mesmo num cenário de alto desemprego, a demanda por convênio médico vem crescendo uma vez que a população quer ter acesso à saúde privada em tempos de pandemia. Nos últimos 12 meses, considerando junho, o setor registrou 1,5 milhão novos usuários de planos de saúde, totalizando 48,2 milhões – o maior volume desde meados de 2016.
Fonte: NULL