Temer admite risco de derrota na Previdência
O presidente Michel Temer admitiu ontem, pela primeira vez, a possibilidade de uma derrota do governo ao tentar aprovar a Reforma da Previdência. Temer reconheceu que a principal reforma do País pode não ser votada em seu governo e, resignado, afirmou que um eventual fracasso não significa que seu governo não deu certo. Numa reunião no Planalto com ministros e deputados de 11 partidos da base governista, fez um apelo para que os parlamentares tentem votar, se não o conjunto do pacote, pelo menos alguns pontos propostos pelo Planalto.
A Reforma da Previdência não é minha, não é pessoal, é do governo compartilhado. Na verdade, se num dado momento a sociedade não quer a reforma da Previdência, a mídia não quer a Reforma da Previdência e a combate e, naturalmente, o Parlamento, que ecoa as vozes da sociedade, também não quiser aprová-la, paciência, discursou Temer ao abrir a reunião. Muitos pretendem derro-tá-la supondo que, fazendo isso, derrotam o governo. Então quero deixar claro que não é a derrota eventual, a não votação da Previdência, que inviabiliza o governo. O governo já se fez.
Em outra linha, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cobrou que o Palácio do Planalto re-pactue sua base aliada para que a Casa possa votar a reforma. Sustentou que, mesmo faltando apenas quatro semanas para o fim do ano legislativo, é possível concluir a votação até dezembro. Se fosse um dia, não dava. Mas quatro semanas é possível. Maia disse que os deputados saíram machucados da votação das duas denúncias contra Temer. Não adianta culpar A, B ou C. O governo precisa urgentemente reorganizar sua base.
Eixo. No Planalto, auxiliares deTemerreconhecemqueaida-de mínima é o eixo central e mínimo para que a reforma tenha algum efeito e mantenha o discurso de vitória do governo. No entanto, até então, apenas parlamentares da base admitiam publicamente uma redução da proposta original. O presidente não tocava no assunto tão claramente. A equipe econômica forçava a votação e pressionava publicamente, enquanto ministros do entorno de Temer, como Eliseu Padilha (Casa Civil), defendiam a reforma possível.
Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) disse que a base aliada não tem necessariamente que focar os esforços na Reforma da Previdência. Se ela não for possível porque não tem o número suficiente, podemos aprovar outras reformas que não necessitem de quórum qualificado, disse Mansur. Para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Reforma da Previdência, o governo precisaria de 308 votos em dois turnos. / COLABORARAM IGOR GADELHA E DAIENE CARDOSO
Aliados indicam dificuldade
A ausência de vários líderes da base aliada – como os do PP, PSDB e PTB – na reunião de ontem com o presidente Michel Temer foi um sinal das dificuldades que o governo terá daqui para a frente no Congresso. No encontro, os deputados disseram a Temer que estão cansados de comprar brigas para defender o governo. A avaliação da maioria foi que a reforma da Previdência não passa pelo Legislativo nem agora nem no ano eleitoral de 2018.
Os maiores problemas foram apontados pelo PR e PSD, siglas que integram o chamado Cen-trão. Sob o argumento de que as mudanças na aposentadoria são indigestas, um dos líderes presentes àreunião chegou a dizer para Temer que os aliados precisam de uma brisa porque não podem mais se indispor com o eleitorado.
Diante da polêmica, ficou acertado que as bancadas vão discutir, nos próximos dias, se há clima para votar pelo menos alguns pontos da reforma da Previdência, como fixação da idade mínima e fim dos privilégios para os servidores.
Fomos muito claros que temos extrema dificuldade em aprovar a reforma hoje, disse o líder do PSD, Marcos Montes (MG). Os números da economia são animadores, então não precisamos falar de reforma da Previdência, não é?, afirmou o deputado Áureo (RJ), líder do So idariedade.
Na avaliação do deputado Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo, a reforma não foi deixada de lado. Agora, é lógico que os parlamentares e as bancadas têm de ser ouvidos para fazermos uma análise das reformas da Previdência, tributária e tantas outras pautas.
Para aprovar a reforma, o governo precisa do apoio de 308 deputados, mas não tem uma base desse tamanho.
Fonte: O Estado de São Paulo