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Mundo é menos globalizado do que se pensa

A realidade e a percepção que temos sobre a globalização são bem diferentes. Dados sobre transações comerciais globais, investimentos de empresas em operações internacionais e imigração mostram que ainda não vivemos em um mundo sem fronteiras e totalmente conectado, como todos costumam supor.

Essa é a visão do professor Robert Salomon, professor da Stern School of Business, escola de negócios da Universidade de Nova York, que participou do Fórum Cidadão Global, evento organizado pelo Valor, com o Banco Santander / AAdvantage. Em sua apresentação, ele mostrou uma série de dados que demonstram que a globalização não está acontecendo de forma tão acelerada.

Ele lembra que o comércio exterior atualmente movimenta apenas 20% do PIB global, e que de todo investimento mundial só 10% são realizados por multinacionais. Segundo Salomon, ainda se conta nos dedos as multinacionais bem-sucedidas e, que, de todas as companhias do mundo, apenas 1% realizam operações internacionais.

Salomon é autor do livro “Global Vision: How Companies Can Overcome the Pitfalls of Globalization” (editora Palgrave Macmillan) e criador de um algoritmo que mede as diferenças entre países, levando em conta dados sobre instituições políticas, econômicas e culturais. Com essa ferramenta, ele diz ser possível montar uma matriz de risco que pode ser usada por gestores na hora de montar uma operação em solo estrangeiro.

Para ele, as companhias têm muitas desvantagens quando se instalam em outras regiões. “Temos estudos que comprovam que elas são menos lucrativas quando operam em outro país”, diz. As empresas de fora demoram três meses a mais para começarem a operar e têm um custo de instalação até 10% maior. Além disso, encontram dificuldades com a língua, legislação e costumes. “Elas costumam pagar salários mais altos porque querem ser percebidas como uma marca valiosa para o país e com isso acabam tendo um índice de produtividade menor”, afirma. Por desconhecerem o mercado, ainda correm o risco de contratar mal.

Os erros mais comuns das companhias quando tentam se globalizar estão relacionados à gestão. “Não é possível administrar os negócios como fazem em seus países”, afirma. Toda adaptação tem um custo alto e acaba sendo um peso adicional para elas. “Temos dados que mostram, por exemplo, que as empresas estrangeiras nos Estados Unidos são mais processadas por violações regulatórias do que as locais, talvez porque sejam um alvo mais fácil ou porque cometam mais erros por não entenderem como funciona”, diz.

O fato é que não é simples promover expansões internacionais, segundo Salomon. Os presidentes de companhias precisam ser humildes e reconhecer que precisam confiar na expertise de gestores locais para sentir o mercado, mudar produtos e pensar em campanhas de marketing que contemplem as necessidades e o gosto da população regional. “Mas, no geral, eles são controladores demais.”

O professor lembra que é possível diminuir os riscos de uma operação no exterior se a companhia não subestimar as similaridades e as diferenças políticas, econômicas e culturais. “Uma empresa dos Estados Unidos terá mais facilidade de montar uma subsidiária no Reino Unido, assim como uma portuguesa terá no Brasil”, afirma. Quando a intenção é desbravar mercados em países muito distintos, a saída é dar poder de decisão e autonomia para quem é nativo. “É preciso entender que um estrangeiro nunca vai se tornar um morador local, por mais que ele estude e aprenda como sãos as coisas, sua percepção será outra.”

Salomon admite que as dificuldades de adaptação são reduzidas para empresas com ativos intangíveis e marcas poderosas, mas lembra que até empresas modernas como o Uber tiveram grandes problemas em solo estrangeiro. A companhia foi proibida de operar em cidades da Espanha, Alemanha, França e agora tem problemas no Reino Unido. “A Walmart demorou 12 anos para começar a ter lucro na China”, diz. Até a rede americana Starbucks, conhecida como uma marca bastante globalizada, no Japão, seu maior mercado fora dos Estados Unidos, sua rentabilidade é 50% menor.

“Historicamente, passamos por várias ondas de globalização. No geral, elas crescem, algo acontece e andamos para trás”, diz. Ele diz que neste momento vemos a ascensão do nacionalismo, do protecionismo nas regulações entre países e muitas críticas à globalização. Salomon diz que muito do que se fala é sem fundamento. É possível, por exemplo, cruzar dados e provar que a diminuição do emprego nas fábricas nos Estados Unidos, de 20% para 12% nos últimos 30 anos, não foi causada pelo aumento da imigração, mas pela automação. “Embora pareça que estamos nessa onda desfavorável, sou um otimista e acredito que hoje existe um senso de que é preciso pensar em soluções conjuntas”.

Fonte: Valor

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