Número de jovens no Tesouro Direto tem crescimento de 142% em um ano
Fernando Mauad é um investidor com aplicações em bolsa, fundos e, principalmente, no Tesouro Direto, sistema de venda on-line de Títulos públicos à pessoa física. Caíque Carvalho também segue a linha mais conservadora e tem seu dinheiro aplicado em um fundo composto por 49% de renda fixa e em um CDB prefixado, mas sem deixar de lado o investimento no Tesouro. Essas histórias seriam comuns se não fosse pelo fato de Fernando e Caíque terem, respectivamente, 19 e 21 anos.
O grupo de jovens entre 16 e 25 anos já soma quase 162 mil investidores no Tesouro Direto e é o que mais cresce nesse tipo de aplicação. A alta no último ano foi de 142%. Eles representam hoje 10,9% do conjunto de 1,485 milhão de pessoas que constrói parte da sua Poupança pessoal investindo em Títulos públicos pela internet, segundo os dados mais recentes, referentes a junho. Um ano atrás, a fatia desses estreantes era de 8% para um total de 835 mil aplicadores. O aumento do acesso à informação e a difusão dos debates sobre investimentos e previdência são, segundo especialistas, os fatores que explicam a tendência.
Na Bolsa de Valores, a presença dos mais jovens ainda é tímida, mas também foi a fatia que mais cresceu no último ano. Em junho de 2016, eram 11.547 investidores de 16 a 25 anos de um total de 559.518, ou 2,07%. No mês passado, o número chegou a 14.249 em um universo de 592.386 investidores (ou seja, 2,4%).
A explicação para o apelo maior dos Títulos públicos perante o público jovem se deve, em parte, à percepção de segurança que esse ativo proporciona por representar, na prática, um “empréstimo” do investidor ao governo. Por se tratar de ativos de renda fixa, mesmo que haja percalços pelo caminho, com desvalorização decorrente da atualização dos preços a valor de mercado, o aplicador que deixar para resgatar no final sabe exatamente o quanto vai receber de retorno.
Outro motivo vem do baixo valor monetário que esse tipo de aplicação demanda, já que com R$ 30 é possível comprar um título público conservador. Por ser um dos investimentos de renda fixa com menor risco e alta liquidez, ele atrai quem tem pouca experiência e pouco dinheiro.
“O Tesouro é aquela plataforma de acesso que serve aos pequenos investidores que têm muito pouco e não conseguem colocar em produtos diferenciados que exijam mais”, afirma o professor Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper. “Esse é, geralmente, o primeiro passo do jovem, em uma aplicação conservadora e segura”, diz.
É justamente como “conservador” que Fernando Mauad se apresenta. O estudante de economia resolveu optar pelo Tesouro por causa da segurança que ele proporciona. A ideia era aprender como se opera no mercado, mas sem se arriscar muito. “Quero entender como funciona e como meu dinheiro pode render para aumentá-lo a um nível seguro de risco para quando eu sair da faculdade”, afirma.
Assim como outros alunos de graduação em economia e administração, parte do interesse de Fernando pelo mercado financeiro veio das aulas. Mas as mudanças tecnológicas que facilitam a pesquisa também têm papel fundamental nessa tendência entre os mais jovens, que aprendem por meio de conteúdo on-line e de conversas com outros investidores.
“O acesso à informação é o que determina essa mudança de comportamento. É diferente de décadas atrás quando as pessoas não tinham muitos meios de saber sobre produtos de investimentos”, afirma o professor Cesar Caselani, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Hoje, o que um aluno de administração ouve sobre finanças é muito mais rico e ele ainda tem uma gama de informações à disposição dele, pelo celular”, diz.
Caíque Carvalho também é aluno de economia, e o interesse pelo mercado financeiro veio dessa combinação. Ele conta que a faculdade aumentou sua curiosidade pelo tema, mas a maior parte do seu conhecimento veio da internet e dos amigos.
“Na aula, eu comecei a ver bastante coisa, o que me levou a estudar por fora, procurando materiais e vídeos. Alguns amigos da faculdade estavam na mesma, íamos conversando e pesquisando”, afirma o jovem.
Como Fernando, Caíque também quer ter uma reserva pra quando sair da faculdade e ainda considera usar o dinheiro em um curso ou uma viagem. Mesmo que planos para aposentadoria ainda não apareçam de forma tão planejada, a ideia de poupar para o futuro já se faz presente entre os jovens.
“Ele pode não ter consciência do porquê está guardando, mas sabe que juntar dinheiro é fundamental”, afirma o professor Ricardo Humberto Rocha, do Insper. Ainda segundo o especialista, o jovem hoje está mais próximo de entender que ele é o protagonista da conta dele mesmo. Rocha conta que percebe em seus próprios alunos uma inclinação maior a poupar em vez de gastar.
A tendência, no entanto, é que a maior circulação de informações aumente o debate sobre investimentos e atinja cada vez mais pessoas, não só os mais jovens. O resultado disso, segundo os especialistas, será um aumento na movimentação do mercado, já que a circulação de conteúdo ajudará os investidores a escolherem a aplicação mais adequada para cada perfil e contexto econômico.
Fonte: Valor