Donos da JBS lucram meio bilhão com delação
Enquanto o país amarga uma crise política sem precedentes, que vai adiar a recuperação da economia, a família Batista acabou lucrandopelo menos R$ 475,6 milhões em operações suspeitas, quase o dobro dos R$ 225 milhões que pagarão à Justiça. Os donos da JBS, protagonistas da delação premiada que abalou os alicerces do governo de Michel Temer, venderam 32,9 milhões de ações em abril, depois de realizada a gravação com o presidente, ao valor médio de R$ 10, compondo o total de R$ 329 milhões. Esses papéis valem hoje, depois da delação, R$ 196,74 milhões. Assim, deixaram de perder R$ 132,26 milhões, conforme estimativas preliminares e não oficiais.
Os controladores também venderam 20 milhões de ações, no valor de R$ R$ 200 milhões, à própria tesouraria da JBS. Nesse caso, pouparam R$ 80,4 milhões, pois os papéis valem hoje R$ 119,60 milhões. Na primeira venda, o prejuízo ficou com os compradores. Na negociação com a JBS, as vítimas foram os acionistas minoritários. Nas duas operações, o ganho estimado é de R$ 212,66 milhões. Além disso, há suspeita de que a família Batista tenha comprado R$ 1 bilhão em dólares e ganhado cerca de R$ 263 milhões no mercado de câmbio, depois da delação, quando a moeda norte-americana disparou.
O uso de informação privilegiada e a manipulação de mercado são crimes previstos na Lei nº 6.385, com pena de um a cinco anos de prisão. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu cinco processos administrativos para investigar operações consideradas irregulares. O Banco Central também investiga a JBS por transações suspeitas no mercado futuro de dólar e de derivativos. As investigações da CVM estão sob sigilo, mas qualquer pessoa pode pedir vista do processo por meio do serviço de atendimento ao cidadão, no site da autarquia (http://sistemas.cvm.gov.br/sac?). O órgão não revelou quando pretende concluir as investigações.
Procurada, a JBS informou, em nota, que “todos os atos ilícitos que a companhia e seus executivos cometeram no passado foram comunicados à Procuradoria-Geral da República e estão documentados nos autos da delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal”. “As informações, dados e provas encontram-se em poder da Justiça, órgão responsável pela avaliação de tais documentos. A companhia segue em seu firme propósito de colaborar com a Justiça brasileira no combate à corrupção no país”, acrescentou.
Tombo
As ações da JBS foram as que mais se desvalorizaram ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), graças às turbulências políticas e também ao rebaixamento da nota da companhia, anunciado pela agência de classificação de risco Moody”s. O tombo foi de 31,34% e o papel encerrou o dia cotado a R$ 5,98. O prejuízo para os acionistas em valor de mercado foi de R$ 7,4 bilhões. A JBS informou que “as operações continuam em ritmo normal, dentro do plano de negócios”. “A empresa tem uma situação financeira robusta e confia na qualidade de seus produtos e serviços”, adicionou.
Esse movimento de queda da JBS deverá ser frequente daqui para frente, na avaliação da Marco Saravalle, analista da XP Investimentos. “Por enquanto, foi um ataque especulativo, mas, quando as investigações de irregularidades forem concluídas e confirmadas, é possível que a queda seja maior”, avisou.
Embalado pelo recuo das ações da JBS, o Ibovespa, principal indicador da bolsa paulista, voltou a fechar no vermelho. Especialistas avaliam que os investidores estão em compasso de espera, aguardando os desdobramentos da semana. “Vai ser difícil acalmar o mercado. A incerteza é praticamente completa. Por isso, é preciso ficar quieto, esperando algum sinal”, explicou o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves.
Ontem, o Ibovespa recuou 1,54% e encerrou o pregão a 61.673 pontos. O dólar iniciou o pregão em alta e atingiu o pico de R$ 3,31 para a venda às 12h29, com alta de 1,65% sobre o fechamento de sexta-feira. Mas, com a nova intervenção programada do Banco Central, que vendeu 40 mil contratos de swap cambial, a moeda norte-americana encerrou o primeiro dia da semana em queda de 0,61%, cotada em R$ 3,27.
Fonte: Correio Braziliense