Instabilidade vai frear retomada
O novo momento de instabilidade política coloca em viés de baixa a estimativa já pouco otimista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) de crescimento da economia neste ano, de 0,4%. Mesmo sem o impacto da delação da JBS, a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre já era de queda, de 0,1%, aponta o Boletim Macro do Ibre deste mês. A avaliação da instituição é que a retomada da economia já se desenhava mais lenta que o esperado, com desempenho frustrante da indústria e da construção civil. Diante do cenário atual de incerteza, os investimentos podem ser particularmente prejudicados e o risco de PIB negativo não está descartado.
O impacto depende da duração dessa crise, diz a coordenadora técnica da publicação, Silvia Matos. “Mas aquela visão de uma recuperação mais rápida, com ajuda maior dos investimentos, isso realmente fica por terra”. O segundo semestre, ela ressalta, era o período do qual se esperava desempenho melhor da economia, que já poderia sentir os efeitos positivos da queda dos juros e da estabilização do mercado de trabalho. “Parece difícil que a situação se resolva rapidamente, por isso estamos mais pessimistas”, diz.
A alta expressiva prevista para o PIB de janeiro a março, de 1% em relação aos três últimos meses de 2016, feito o ajuste sazonal, será bastante influenciada pelos resultados positivos do setor agropecuário e pelas revisões metodológicas nas séries das pesquisas de comércio e serviços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – mudanças que provocaram salto no resultado do varejo em janeiro, por exemplo.
A contração de 0,1% no segundo trimestre, por sua vez, seria em parte decorrente de efeito estatístico, por causa da base mais forte do crescimento que deve se observar nos três meses imediatamente anteriores, e da dissipação do efeito do chamado “bônus agropecuário”. “O número mostra uma fraqueza, mas não é um resultado totalmente fiel à realidade”, pondera Silvia.
A comparação com o mesmo período do ano anterior, que vem mostrando resultados cada vez menos negativos há quatro trimestres, é um termômetro melhor da atividade. Após encolher 2,5% no quarto trimestre de 2017, o produto recuaria 0,4% no primeiro trimestre e 0,2% no segundo. A questão que agora se coloca é como a crise política afeta os números dos dois últimos trimestres de 2017. “Se a recuperação estivesse mais sólida, daria para absorver mais [o impacto da instabilidade política]”.
A indústria, ela destaca, tem apresentado desempenho inferior ao esperado. Depois de três meses sem resultados positivos, o Ibre calcula avanço de 0,1% para a produção do segmento de transformação em abril, no confronto com março, na série com ajuste sazonal.
Pelo lado da demanda, acrescenta a economista, ainda é difícil vislumbrar retomada sustentada do consumo. Os indicadores de crédito e de mercado de trabalho continuam muito fracos – e agora há “maior incerteza” sobre a recuperação do emprego.
Do ponto de vista econômico, afirma Silvia, além da definição sobre a situação do presidente Temer e de seu eventual sucessor, as questões que pedem solução mais urgente é futuro da equipe do Ministério da Fazenda – que vem fazendo bom trabalho, na visão da economista – e a definição sobre o encaminhamento das reformas trabalhista e da Previdência.
Fonte: Valor