BC tem arsenal para enfrentar ataque especulativo no câmbio
No começo da semana, avaliava-se a possibilidade de o dólar testar a linha de R$ 3, o risco-país caía abaixo dos 200 pontos, a economia dava sinais de retomada e, no campo político, o andamento das reformas se dava de forma positiva. Tudo isso ruiu na noite de quarta e o mercado corre para “zerar” posições e se preparar para um “inverno” em termos de política e economia que ninguém tem a mínima ideia de quando pode acabar.
A delação dos controladores da JBS tem contornos de um “cisne negro”, evento raro e devastador, mas o fato é que uma onda de otimismo tinha tomado os mercados e os “riscos de cauda” tinham sido esquecidos. A chance de reversão sempre existiu, pois a Operação Lava-Jato paira como uma espada no escuro sobre a cabeça de todos os Poderes da República.
No câmbio especificamente, apesar da disparada nas cotações, o Banco Central (BC) tem arsenal e disposição para conter o pânico. O estoque de swaps, mesmo com as colocações já feitas, está na linha dos US$ 22 bilhões, e há mais de US$ 370 bilhões em reservas internacionais, tanto para servir de lastro para swaps quanto para possíveis intervenções à vista. Outros US$ 12 bilhões serão ofertados nos próximos três dias.
Como o próprio presidente do BC, Ilan Goldfajn, vem dizendo, o Brasil está menos vulnerável em termos externos. O déficit em transações correntes é de apenas 1% do Produto Interno Bruto (PIB) e o fluxo de Investimento Direto (IDP) é mais de quatro vezes superior ao déficit. O passivo externo é composto, em grande parte, de investimentos e não de empréstimos ou compromissos de curto prazo. Esse quadro inibe possíveis ataques especulativos contra o real e também elimina, por ora, aumento de juro para conter fuga de capitais.
Ontem mesmo algumas tesourarias montaram posição de venda de dólar na casa de R$ 3,40, apontando que o movimento estava exagerado – além da capacidade de intervenção do BC, os exportadores podem entrar com moeda à vista para aproveitar a cotação.
No mercado de juros, a avaliação “racional” de algumas casas é a de que o BC não deve abortar o movimento de queda da Selic, mas sim adotar uma postura mais cautelosa. Isso quer dizer que um corte de 1,25 ponto no encontro de 31 de maio não deve mais acontecer.
Em breve entrevista e comunicado divulgado ontem, Ilan disse que os eventos do dia não guardam relação “direta e mecânica da política monetária, que continuará focada nos seus objetivos tradicionais”. Assim, as decisões continuarão tendo como base fundamental as projeções e expectativas de inflação. No entanto, o peso dos julgamentos dos próprios membros do Copom na tomada de decisão será o fator determinante.
Fonte: Valor