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Mercado deve seguir cauteloso em semana de agenda agitada

Os mercados financeiros no Brasil começam a última semana de abril ainda com foco no noticiário doméstico, sobretudo nas discussões sobre a reforma da Previdência. Em meio à escalada dos últimos dias das preocupações com a efetividade do projeto a ser aprovado, investidores conhecerão dados fiscais de março, tanto do Governo Central quanto do setor público consolidado. Números de inflação, leituras de índices de confiança e a taxa de desemprego de março completam a agenda, num momento em que o mercado busca sinais que endossem expectativas de mais cortes de juros.

Embora os receios com a Previdência ainda não tenham ditado correção mais extensa nas apostas do mercado, a trajetória dos preços dos ativos indica, no mínimo, menor apetite por posições mais otimistas – venda de dólar e juros e alta da bolsa de valores.

O dólar subiu 0,33% na semana passada, para R$ 3,1568. A variação pode ser moderada, mas a moeda já está nos maiores patamares em um mês. O real cai 0,82% em abril, sexto pior desempenho numa lista de 33 pares em relação ao dólar.

Os juros futuros terminaram a semana praticamente estáveis, mas a diferença entre os DIs de janeiro de 2021 e de 2019 – uma medida de risco – chegou a subir para 0,58 ponto percentual, maior nível desde pelo menos o começo de 2016. O DI janeiro de 2021, em que o mercado assume posições mais estruturais, foi a 10,030% ao ano durante os negócios de quinta-feira, pico em quatro semanas.

O Ibovespa, por sua vez, perdeu o patamar dos 64 mil pontos, mas ainda assim conseguiu recuperar-se da forte queda na semana anterior. Assim, encerrou a semana com leve ganho, de 0,92%, aos 63.760 pontos, dentro do intervalo que vem sendo respeitado nas últimas seis semanas, entre 62 mil e 65 mil pontos. Esse movimento claramente demonstra que o investidor mantém uma boa dose de cautela para ampliar suas fichas nesse mercado. Ao mesmo tempo, não desistiu de suas posições, que podem ganhar valor num cenário em que a reforma da Previdência seja aprovada, mesmo que numa versão mais enxuta.

Analistas afirmam ainda, em todos os segmento de negócios, que não é possível classificar os ajustes do mercado como mudança concreta de humor. Para eles, o ajuste dos preços está mais ligado ao reconhecimento de que o processo de negociação da reforma da Previdência poderá ser mais tortuoso – e não à ideia de que o projeto não será aprovado. O cenário externo mais arisco, diante das eleições na França e das preocupações geopolíticas, acabou fortalecendo a piora de sinal dos ativos.

O comportamento do CDS, espécie de seguro contra calote, corrobora a leitura de que a visão dos investidores ainda é positiva em relação à reforma. O custo do contrato de cinco anos estava na sexta-feira em 226 pontos-base segundo a Markit, mesmo nível observado no fim de março e quase 40 pontos abaixo do observado no começo deste ano. Se houvesse um pessimismo cristalizado com a aprovação de um conjunto de medidas que afastem o risco de colapso das contas públicas, pelo menos no médio prazo o CDS pagaria um prêmio bem mais elevado.

Na quinta-feira, último pregão da semana, operadores notaram fluxo negativo de estrangeiros. “Mas o câmbio segue preso ao intervalo em que vem oscilando há várias semanas. Apenas uma alta para perto de R$ 3,30 acho que indicaria uma real mudança de expectativa do mercado”, diz o profissional de um grande banco estrangeiro no Brasil.

Um dos temas que ainda oferecem algum suporte ao mercado é a política monetária. A semana passada foi mais uma em que índices de preços surpreenderam para baixo. E nesta semana o IGP-M de abril deve mostrar deflação de mais de 1%. Dados fracos do Caged de março, divulgados na quinta passada, e a taxa de desemprego que o IBGE reporta na sexta-feira devem servir de argumento para apostas em corte de 1,25 ponto percentual da Selic em maio.

Os economistas do Haitong, porém, chamam atenção para a limitação à política monetária vinda das dificuldades do lado fiscal. Os profissionais estimam déficit de R$ 9 bilhões para o setor público consolidado em março. Esse número reforçaria a avaliação da casa de que a Selic poderia chegar, no mínimo, a 8% ao final do atual ciclo de alívio monetário. O déficit primário, segundo o Haitong, evidenciaria a necessidade de reformas estruturais que garantam a reversão do potencial caráter expansionista da política fiscal. “Ou seja, conjunturalmente parece haver espaço para queda da taxa básica de juros, mas estruturalmente o escopo para esta redução não parece haver sido ampliado”, dizem.

Fonte: Valor

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