Economistas preveem IPCA-15 na meta após sete anos
O principal fator de pressão deve ser o grupo alimentação e bebidas, que tende a voltar a ter alta, depois de dois meses de deflação, considerando a evolução no IPCA-15.
Pela primeira vez desde 2010, a prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) deve alcançar a meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%. De acordo com a média das projeções de 23 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, o IPCA-15, prévia da inflação oficial, subiu 0,27% em abril.
Embora haja aceleração em relação à alta de 0,15% registrada no mês anterior, no acumulado em 12 meses o índice deve desacelerar de 4,73% para 4,46%, a menor variação nessa comparação desde agosto de 2010. As estimativas para o IPCA-15 de abril, que o IBGE divulga hoje, variam de 0,17% a 0,31%.
Para Luiz Castelli, economista da GO Associados, fatores pontuais pressionaram a inflação em abril, mas a tendência continua a ser de comportamento muito benigno dos preços, o que deve prevalecer pelo menos até o terceiro trimestre, diz. Castelli projeta alta de 0,19% do IPCA-15, ligeiramente acima do aumento de 0,15% observado na prévia de março.
O principal fator de pressão deve ser o grupo alimentação e bebidas, que tende a voltar a ter alta, depois de dois meses de deflação, considerando a evolução no IPCA-15. Nas contas de Castelli, o grupo deve ter alta de 0,51% no mês, após recuo de 0,08% em março.
Outro fator que deve levar o IPCA-15 a acelerar é o reajuste de medicamentos, diz. O governo autorizou aumento de até 4,76% dos remédios neste ano, com impacto a partir de abril. No IPCA-15, diz Castelli, a alta de saúde deve ser de 1,28%, contra aumento de 0,48% no mês anterior. Até o fim de abril, avalia o economista, o grupo deve acelerar mais, já que nesse período será observado impacto cheio do aumento dos medicamentos.
A deflação dos preços de energia deve ser destaque no mês, diz o Santander, refletindo o desconto pontual concedido aos clientes com a devolução de valores de encargos relativos à usina de Angra 3.
Para Castelli esse efeito deve mais do que compensar a adoção do primeiro patamar de bandeira vermelha pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em abril, que estabelece cobrança extra de R$ 3 a cada 100 kilowatts-hora (KWh) consumidos. O economista estima queda de 1,4% da tarifa de luz na prévia do índice.
Para o BNP Paribas, apesar das pressões pontuais em alimentação, principalmente, a inflação deve desacelerar para 4,52% no acumulado em 12 meses, meta perseguida pelo Banco Central. A tendência de arrefecimento deve perdurar nas próximas leituras, com a base de comparação favorável e a desaceleração da inflação de serviços, segundo o banco, que estima alta de 5% do IPCA em 2017.
Em relatório, o Santander ressalta que o comportamento dos preços deve continuar favorável, apesar da alta de 0,3% esperada para o IPCA-15 de abril. “Acreditamos que os índices de difusão continuarão apontando para um processo generalizado de desaceleração na alta dos preços, com a inflação dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e política monetária também permanecendo em declínio ou em patamar bastante baixo”, diz o texto.
Castelli diz que, depois de alcançar a meta pela primeira vez em sete anos, o IPCA deve continuar a desacelerar nos próximos meses. Já no fim deste mês, diz, o IPCA deve ceder para 4,1% no acumulado em 12 meses, podendo ficar até abaixo de 3,5% entre agosto e setembro, a partir de quando voltará a acelerar para 4,1% no fim do ano.
Esse comportamento, porém, já está no cenário do Banco Central, diz o economista, e por isso ele não acredita que a autoridade monetária vai acelerar o passo no corte de juros. Em sua avaliação, o BC deve cortar a Selic em 1 ponto percentual nas próximas duas reuniões e depois reduzir o ritmo, levando a taxa básica de juros para 8,5% até o fim do ano. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária diminuiu a Selic em 1 ponto, de 12,25% ao ano para 11,25% ao ano.
Fonte: Valor